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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Os táxis voltaram à ordem do dia. Não quer isto dizer que alguma vez tivessem deixado de ser tema de conversa, crítica, indignação por parte de residentes e visitantes. Mas desta vez trata-se da ordem do dia do plenário da Assembleia Legislativa. E não foi essa a primeira vez que o assunto foi levado ao hemiciclo.
Dos deputados à população não há quem há anos não se queixe quer da pura e simples ausência de veículos, quer da péssima qualidade do serviço prestado.
Tratando-se de um problema recorrente, que aliás tem motivado muitas e fundadas queixas por parte de nacionais que vêm do interior da China até Macau, é difícil compreender a inércia, falta de vontade, resistência ou simples incapacidade do Chefe do Executivo e do seu Governo para resolverem este problema.
O serviço de marcações não funciona. Acontece muitas vezes ser feito um agendamento, dizerem que será confirmado e que no próprio dia, cerca de dez minutos antes da hora marcada, entrarão em contacto com o utente, quando na realidade sucede que nesse dia e à hora prevista ninguém diz nada, ninguém telefona ou atende os telefones e não é dada qualquer justificação para a ausência da viatura. Um drama para quem tem de viajar para o exterior e se arrisca a ficar pendurado em Macau por falta de táxis e de transportes públicos capazes.
Depois, nas ruas, muitas vezes é o salve-se quem puder. Veja-se o que se passa, por exemplo, na Taipa, com dezenas e centenas de pessoas a aguardarem a sua vez por um táxi e com os motoristas a largarem os passageiros antes ou depois do local destinado para esse efeito, de maneira a que não tenham de esperar e possam negociar directamente preços com quem está fora das filas, muitas vezes nas barbas dos polícias que nada fazem, fechando os olhos e ignorando a confusão gerada.
A indignação de muitos viajantes que chegam de Hong Kong e do interior do país é notória. Alguns manifestam, como sucedeu recentemente numa reportagem da TDM, a sua insatisfação e incompreensão perante uma situação que não se verifica do outro lado da fronteira.
Como se tal não bastasse, sabe-se que há períodos do dia em que é quase impossível apanhar um táxi, pois parece que vão todos tomar as refeições e render à mesma hora. É o que acontece entre as 18 e as 20 horas, e nos dias de chuva então é melhor nem dizer nada.
E o problema da falta de táxis em Macau não se resolverá com um aumento de tarifas, com a "legalização" das irregularidades ou a atribuição de "prémios de desempenho", como peregrinamente sugeriu o deputado Ma Io Fong.
A única solução viável para o problema da falta de táxis e a recorrente má qualidade do serviço é o desmantelamento do lobby que manda nos táxis e a liberalização dos serviços com a introdução de mais concorrentes, já que também continua a ser incompreensível a ausência de outros serviços do tipo UBER à semelhança do que existe em Hong Kong, em muitas cidades chinesas e em quase toda a Ásia.
Quando há dias ouvi o dirigente de uma associação de táxis local considerar que a atribuição de mais 500 licenças seria um exagero, aconselhando-se prudência na sua atribuição, lembrei-me dos dados publicados pela revista Macau Business que salientavam ser o número de residentes e turistas por táxi de 19086 em Macau, de 3491 em Hong Kong, de 388 em Taiwan e de 1814 em Singapura, números que dizem tudo sobre a irracionalidade do serviço de táxis que temos e a condescendência dos responsáveis governamentais, há um ror de anos, perante esta inqualificável bagunça que não tendo sido, seguramente, herdada do tempo colonial, nada abona a favor do patriotismo e talento dos dirigentes locais.
A incompetência, a incapacidade governativa para a resolução do problema dos táxis e o seu arrastamento ao longo de anos com conversa fiada não têm nada de patriótico. Pelo contrário, dão cabo da imagem da pátria perante quem nos visita, prejudicam e exasperam a população, colocam a reputação da cidade nas ruas da amargura, causam múltiplos transtornos aos residentes, mancham a imagem do turismo, são fonte de conflitos nas ruas e colocam Macau ao nível do caos.