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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: The Macau News e IDM)
E lá se realizou mais uma edição da Maratona Internacional de Macau, que de internacional só tinha o nome face à ausência de atletas estrangeiros, tal como aconteceu na edição anterior.
Os mais bem preparados atletas do interior da China dominaram a competição, deixando aos locais os lugares secundários. O desinvestimento no desporto e a ausência de políticas também se mede por aqui, pela falta de competitividade e de resultados dos atletas locais, sujeitos há um ror de anos às mesmas políticas e aos mesmos dirigentes que a ninguém prestam contas.
Desportivamente, porém, a grande nota foi mesmo o facto de ser uma corrida caseira, limitação imposta pela política de tolerância zero dinâmica e as medidas de controlo da Covid-19.
Esta circunstância reflecte bem até onde vai o ridículo e falta de sentido das medidas. Os "patriotas" locais esforçaram-se por berrar a pedir o fecho das fronteiras à entrada de estrangeiros, com medo do vírus, mas agora o vírus chega sempre do interior do país. Desta vez foi uma atleta que correu infectada vinda da província de Guangdong.
Isto significa que não serviu para nada que se impedisse a entrada de estrangeiros, mesmo sãos, durante quase três anos, porque o vírus viajou na mesma para Macau e não precisou de fazer quarentena. Um senhor viajante.
Depois, o que aconteceu também prova que não serve para nada estarem a pedir-se testes a quem vem do interior da China, se logo no dia seguinte acusam positivo, porque afinal os contaminados podem circular livremente pelo Cotai, fazendo compras e comendo por aí sem necessidade de respeitarem as quarentenas impostas a quem chega do estrangeiro.
Para além disso, também não se percebe, de novo, qual a razão para se permitir a vinda de estrangeiros ao Grande Prémio de Macau, embora sujeitos a quarentena, para duas semanas depois, em relação à maratona, se voltar a impedir a sua participação com a desculpa da Covid-19.
Era preferível que todos pudessem entrar e sair livremente, e que todos fossem sujeitos a uma política coerente, sem discriminação por modalidades, nacionalidades ou etnias, uma política alinhada com a OMS e com o que se passa no resto do mundo, em vez desta farsa irracional, saloia e pouco científica.
Olhando para tudo isto, em especial para os custos impostos, designadamente os desportivos – ainda há tempos um deputado sublinhava na Assembleia Legislativa as falhas da participação de Macau em provas internacionais –, e para as exigências impostas em relação a residentes que não viajaram para o exterior, mas que para participarem em eventos locais têm de apresentar testes com resultado negativo, sob pena de exclusão, fica-se sem perceber qual a lógica destas medidas.
Andamos nisto há praticamente três anos. Vamos passar mais um Natal com limitações de viagem, com zonas vermelhas, amarelas, algumas de cor de burro quando foge, não se podendo sequer participar em provas em Hong Kong (ninguém vai a HK correr num sábado ou domingo para depois ficar mais de uma semana "internado" e com código vermelho como se fosse um leproso na Idade Média) e verifica-se que a política de tolerância zero só serviu para esconder o problema real, disfarçando as infecções internas, endurecer o controlo policial sobre gente pacífica e agravar as condições de vida da maioria da população.
Esta manhã, a Agência Xinhua informou que a Comissão Nacional de Saúde da RPC registou no domingo mais 4247 casos de "transmissão local confirmada", o que não deixa de ser uma vergonha com custos pesadíssimos para a maioria da população e para quem tinha anunciado a derrota do vírus.
Estamos a pagar os custos da tolerância zero. Resta saber durante quanto tempo mais.
Amanhã, a conta-gotas, por força do descontentamento popular, tal como está a acontecer no interior da China, poder-se-ão ir alterando as medidas, para se salvar a face e se evitarem as pouco prováveis manifestações nas ruas, que nunca seriam autorizadas pela PSP com o aval do secretário para a Segurança, ou as folhas de papel em branco, mas os verdadeiros responsáveis pela tragédia política, económica e social que todos estamos a viver na RAEM continuarão por aí, e por ali, escondidos, sem que nada lhes aconteça, sem prestarem contas à população. Insensíveis ao sofrimento alheio e aos custos da sua teimosia insensata e irresponsável.