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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Ontem e hoje a comunicação social em português (A um passo do céu, na edição impressa) e inglês (Local scholars Consider Gov’t pandemic response faultless’) deu conta de um estudo (research paper) de dez académicos, nove de Macau e um da RPC, publicado no International Journal of Biological Sciences, 2022, vol. 18., sob o título "COVID-19 prevention and control strategies: learning from the Macau model.".
Estou certo de que toda a gente vai aprender imenso com o que se publicou. O estudo é demonstrativo do talento de alguns académicos que temos por cá. Estão de parabéns.
Houve quem reparasse no facto dos reviewers, que eu desconheço quem foram, e que aprovaram o estudo para publicação tivessem sido indicados pelos autores, o que para mim é uma novidade, pois que normalmente os reviewers ou peer reviews são personalidades com prestígio científico, independentes e anónimas da escolha da publicação, que se admite prestigiada, onde se pretende publicar e que a validam.
Contudo, há sempre novidades nos meios académicos de Macau, e aquela foi uma delas. A outra, o que confere ainda mais elevado valor científico ao estudo, é que apenas 30% dos reviewers tinham de ser de outro país. Um número ainda assim alto.
Outro dado interessante é que o referido estudo, presume-se que na sua versão final, pois que não me parece razoável enviarem-se rascunhos para análise científica, foi submetido para apreciação em 17/12/2021, aceite para publicação em 16/7/2022, e publicado em 21/8/2022.
Não fossem esses detalhes e eu não teria reparado, por mero acaso, que tendo o estudo sido submetido em Dezembro de 2021 e aceite para publicação em 16 de Julho deste ano, já contém dados até 11 de Agosto de 2022. Brilhante. Fiquei a pensar se essas alterações introduzidas depois da aceitação para publicação mereceram qualquer apreciação pelos reviewers, mas não deixa de ser notável, quase fantástico que assim tivesse acontecido. Um verdadeiro contra-relógio. Mais uma semana e sairia com os dados de Outubro e antes destes serem conhecidos.
É claro que um estudo com estas credenciais só podia recorrer a fontes altamente credíveis. E elas estão lá todas. Das 67 (sessenta e sete) referências bibliográficas – vamos chamar-lhes assim – , é citado 1 (um) artigo de 2020 (vol. 16), por acaso publicado na mesma revista.
A esta referência juntam-se 30 (trinta) citações de artigos de imprensa publicados pelo Macau Daily (Ou Mun Iat Pou), mais 16 (dezasseis) consultas a documentos e locais da Internet do Governo de Macau (SSM, DST, PSP, IAS, GPPDP, DSEC, Portal do Governo, DSAL, etc.), 5 (cinco) referências a documentos existentes na Internet da OMS (WHO) e da ONU, e, espantoso, ainda 2 (duas) citações da BBC, e mais algumas de sites tão reputados como os da Tencent, Sina, Zhuhai News, Weixin ou a Xinhua Net. A destoar ficaram apenas 2 (duas) citações das únicas fontes que me pareceram pouco fiáveis: a Revista Lancet e a Johns Hopkins University. Tenho pena que em 67 (sessenta e sete) citações só haja 2 (duas) que não sejam de locais na Internet, embora uma delas também aí esteja disponível.
Porém, num trabalho desta envergadura é natural que não se possa exigir mais.
Tudo isto confere uma aura de tal cientificidade ao trabalho dos académicos de Macau que deviam ser estes aqueles a quem na Assembleia Legislativa alguém se referia dizendo que tínhamos de empregar em Macau alguns prémios Nobel e medalhados olímpicos. Estes ainda não o serão, mas se continuarem a publicar a este nível os académicos da Universidade de Macau (UM) são capazes de receber esse tão respeitado galardão do Nobel. Não uma, nem duas, nem três, mas várias vezes, com o que poderão dispensar mais uns quantos TNR e comprar mais terminais para acederem a mais locais interessantes na Internet.
Motivos que me levam a deixar aqui registado com comovida satisfação uma parte das conclusões finais a que a imprensa deu justo destaque: "Generally speaking, the measures and methods for managing COVID-19 in the Macau region have almost reached perfection, with the only shortfall that the economy has not yet recovered to its level as of before the pandemic outbreak because the economic connections between Macau and other countries are almost at a standstill.".
Perfeição. Evidentemente. Melhor era impossível, tanto no conteúdo quanto nas fontes.
Já antevejo o salto que a UM vai dar no ranking das universidades. No mínimo serão uns 200 a 300 lugares para gáudio do Prof. Rui Martins, do Prof. Jorge Godinho, e de todos os outros académicos que associam o seu nome à UM e que de quando em vez nos ofertam estas pérolas.
O talento está aí. Não há nada como ver a credibilidade e a reputação internacional da UM a treparem pelos rankings acima.
Todos os PhD., MSc, Ed. D. e MD que assinam o "research paper" estão de parabéns. Este valeu por uma dúzia. Oxalá façam muitos mais assim. Macau agradece. Bem hajam.
Um tal Prof. Gu Xinhua, com um "Ph.D." em "financial economics" da Universidade de Toronto, e que actualmente lecciona na Universidade de Macau (UM), esteve ontem num evento denominado Annual Conference of Macao Studies 2019 (sim, Macao com "o"). Entre outras coisas, certamente muito interessantes, também entendeu dever pronunciar-se sobre o judiciary system de Macau e sobre os legal system e judicial system de Hong Kong.
O Prof. Gu Xinhua não explicou os conceitos que utilizou para todos perceberem a que realidades se estava a referir, mas o que disse foi suficiente para o Macau Daily Times lhe dar a atenção devida, o que eu agradeço, não fossem as suas afirmações passarem despercebidas. E o que disse foi digno de uma grande sumidade, de um verdadeiro patriota.
Um professor de uma universidade, instituição de ensino superior pública, que respeita o princípio "um país, dois sistemas", e que numa conferência produz afirmações do tipo "Macau's judiciary system is not controlled by white people. This is our advantage", "Hong Kong legal system is in the hands of white people and foreigners" e "the mess of Hong Kong is due to Hong Kong's judicial system being too lenient [on those opposed to the government or police]" só pode ter vindo directamente da campanha do Grande Salto em Frente (Great Leap Forward, 大跃进) ou da Revolução Cultural. Um sucesso, portanto.
Fico encantado, como cidadão de Macau, por saber que a UM continua a acertar no recrutamento do pessoal da linha da frente. Foi pena que Chui Sai On não o tivesse já nomeado deputado. Ao lado das outras sumidades e talentos, longe do "white people" e dos "foreigners", é que ele estaria bem.
A Universidade de Toronto foi um acidente de percurso na vida do Prof. Gu Xinhua.
Se não for nomeado deputado pelo futuro Chefe do Executivo, a RAEM e todos nós devíamos ajudar o Prof. Gu Xinhua a reparar aquele acidente de percurso, mandando o seu currículo para as instituições do outro lado das Portas do Cerco. Não digo para a Universidade de Jinan, que tem lá muitos estrangeiros, mas para uma como a UM, onde o "white people" e os "foreigners" não se atrevam a aparecer.
Bem sei que a UM, apesar de ainda por lá vaguearem meia-dúzia de portugueses (white people de estimação), e alguns desde antes de 1999, entretanto reconvertidos ao maoismo, é uma das novas vanguardas do capitalismo patriótico na luta contra o imperialismo estrangeiro, mas quem sabe se uma universidade da Mongólia Interior não terá uma cátedra à altura do seu patriotismo?