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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Os imponderáveis da pandemia impediram um intercâmbio normal e uma presença mais assídua na RAEM dos representantes da União Europeia (UE) em Hong Kong. No entanto, não foi por isso que durante estes anos estiveram desatentos ao que por aqui se passava. E os relatórios que foram sendo publicados atestam o interesse e a atenção conferidos.
Ninguém estranhou, por isso mesmo, que passado o período crítico e terminadas as quarentenas voltassem a percorrer os escassos quilómetros que separam a ex-colónia britânica de Macau, marcando presença em diversas ocasiões. A última foi ainda ontem quando de novo se assinalou o Dia da Europa.
Por ironia do destino, as duas principais figuras que representaram a RAEM e a UE não deverão voltar a estar presentes. O Eng. Raimundo do Rosário está a escassos de meses de terminar o seu segundo mandato à frente da pasta dos Transportes e Obras Públicas. E o Embaixador Thomas Gnocchi revelou a todos que irá partir para o país do sol nascente.
No movimento diplomático que se avizinha partirá igualmente o simpático Walter van Hattum, que assegurou a muitos as ligações comerciais e económicas com a UE.
Para os que partem, de quem certamente iremos sentir falta, deixo aqui um gesto de agradecimento pelo seu trabalho, e os meus votos de sucesso para as suas vidas e carreiras. Que tanto eles, onde quer que estejam, como os seus sucessores nos lugares que irão vagar continuem tão presentes e atentos, como até hoje, ao que por aqui vai acontecendo.
Por vezes às claras, de outras vezes mais dissimuladamente. Muito especialmente em matéria de direitos fundamentais.
Já passaram uns dias, é verdade, e nem sempre se pode estar em cima do acontecimento. O que, todavia, não invalida que se traga até ao presente o que já ficou lá atrás.
Vem isto a propósito do Dia da Europa, 9 de Maio, que certamente ninguém me levará a mal pelo facto de só hoje, 13 de Maio, ser aqui assinalado. Não tanto para que Maria proteja a Europa, posto que essa é prece de outro rosário, mas porque vale a pena sublinhar as duas entrevistas dadas a jornais locais por Paulo Canelas de Castro, professor de Direito Internacional e da União Europeia e orientador da Cátedra Jean Monnet na Universidade de Macau.
Intervenções claras, incisivas e esclarecidas, na linha, aliás, do desempenho que tem tido a Presidente da Comissão Europeia.
O ano passado, por ocasião da votação para escolha das personalidades e factos do ano de 2021, no Delito de Opinião, meses antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, tive oportunidade de eleger como frase do ano uma afirmação de Ursula von der Leyen: “Human rights are not for sale, at any price”. O ano em curso tem vindo a confirmar a justeza da frase e o papel cada vez mais crucial da União Europeia para a construção, não apenas de uma Europa melhor para os seus cidadãos, mas também de um mundo mais seguro, mais justo e mais solidário.
A União é cada vez mais uma comunidade de ideais, de sentimentos, de valores e de práticas assentes na democracia, na defesa do Estado de Direito e no respeito de cada um e de todos, que não tem oscilado quando se trata de defender a liberdade e o direito de escolha de todos os povos perante os autoritarismos.
Tenho pena que a sessão levada a efeito na Universidade de Macau, e que contou com a participação do próprio Canelas de Castro e com as sempre informadas e interessantes intervenções de Luís Pessanha e Paulo Cardinal não tivesse tido outra promoção, e não pudesse ser mais concorrida, quer pela ocasião, quer pela craveira dos oradores.
De qualquer modo, ficam aqui duas curtas frases e as respectivas ligações para que possam ter acesso às entrevistas a que acima me referi.
"A pandemia acabou com qualquer ilusão europeia — e sobretudo alemã — sobre a China, que exercita sem máscara a sua crescente ambição mundial e que não hesita em impor a lei do mais forte em Hong Kong ou se entrega à repressão brutal e desumana da minoria uigur no Oeste do país. O silêncio deixou de ser opção. Merkel adiou sine die uma cimeira entre a União e a China, que chegou a ser um dos pontos altos previstos para a sua presidência. A última, há uma semana, correu bastante mal.
Mas, com um novo Presidente na Casa Branca, a proposta de Mike Pompeo aos europeus para uma estratégia comum destinada a conter os avanços da China nos mais diferentes domínios, passa a fazer todo o sentido." (Teresa de Sousa, Transformar a crise numa oportunidade, Público, 01/07/2020, p. 6)
Recebem tão bem, são tão fotogénicos, a qualquer hora, que nunca se assumem como políticos. São diplomatas. Consta que na próxima vida não se importarão de ser estalajadeiros.
Que seria deles se não fossem crentes...