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insistência

por Sérgio de Almeida Correia, em 22.05.25

Jakarta Taxi - Prices and Useful Tips for Taxis in Jakarta

Uma pessoa abre os jornais, ouve os noticiários da rádio e da televisão e não há dia que não seja bombardeada com estatística sobre os números de pessoas que entram e saem de Macau. Dir-se-ia que há uma contínua insistência na mesma tecla.

Há duas maneiras de olhar para a insistência; que por vezes também é resistência.

Se, por um lado, a insistência pode ser uma virtude, por outro também admite ser vista como um erro.

Ali, tem-se a tentativa de correcção, de aperfeiçoamento, de ultrapassem de obstáculos, criando soluções para os problemas, acrescentando valor ao esforço, procurando melhorar os resultados. No segundo caso, a insistência é a aposta permanente nas mesmas receitas que já se mostraram discutíveis, inadequadas, erradas, ultrapassadas e que em nada contribuem para uma melhoria dos padrões, um aumento de qualidade, uma progressão positiva.

A aposta no turismo de massas por parte das autoridades de Macau é cada vez mais um mau exemplo de gestão, de insistência no erro, de persistência no empobrecimento do sector, de aposta na mediocridade. Não é qualidade, é defeito.

Mas vamos aos exemplos para que melhor se perceba.

Em 19 de Maio pp., uma noticia do Ponto Final, com base num despacho da Agência LUSA, referia "o consumo médio de cada visitante caiu 13,2% no primeiro trimestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado". A explicação, diz-se, estará no aumento do número de excursionistas que passaram de 54% para 59%.

O Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, lê-se na mesma notícia, alertou para a circunstância de Macau ter cada mais "turistas", sublinhando que "o nível de consumo está a baixar". Já todos os residentes se aperceberam há muito tempo. Será isto normal numa cidade que reclama ser um "Centro Mundial de Turismo e Lazer", pergunta-se?

Este mês, a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos assinalou uma descida do padrão de consumo dos visitantes. O PIB pela primeira vez diminuiu desde o final da pandemia, em 2022, e os benefícios do sector turístico caíram 3,8% neste mesmo primeiro trimestre de 2025. Repito a pergunta: Será isto normal?

Hoje, 22 de Maio, o Ponto Final e o Macau Daily Times assinalam que só em Abril houve um aumento do número de visitantes de 18,9%. Nos primeiros quatro meses significaram mais 12,9% do que no ano anterior.

A estes dados acrescentem-se mais dois.

As vendas a retalho caíram 15% nos primeiros quatro meses, com os gastos em actividades não-jogo a descerem 3,6%, prevendo os economistas um aumento das rendas habitacionais.

A satisfação estatística da DST e da TDM decorrente do contínuo fluxo de "turistas" não traz nada de positivo a Macau. São cada vez mais, gastam cada vez menos, e não é por serem mais que o volume final de receita cresce. Bem pelo contrário.

A segunda nota de registo vem, invariavelmente, da cambada dos táxis: "as irregularidades praticadas por taxistas registaram, nos primeiros quatro meses deste ano, uma subida a pique", o que corresponde a um aumento de 187% no número de infracções. 

O aumento de infracções dos taxistas é pornográfica. E isto numa terra onde esse cancro da actividade económica e dos transportes está identificado. A carência de táxis, a má condução, a falta de oferta de veículos, ausência de educação e impreparação dos motoristas começa a ser lendária e internacionalmente conhecida.

Ainda há dias em Jacarta, por comparação, numa cidade cuja área metropolitana é de mais de 30 milhões de pessoas, pude utilizar os seus serviços de transportes urbanos, autocarros e táxis, de diversos operadores, incluindo Grab, Blue Bird, Silver Bird, sem qualquer problema ou o mais leve incidente, em percurso curtos e longos, de e para a cidade e dentro dela, sempre com taxímetro, sem dificuldades de chamada, com motoristas educados, simpáticos, prestáveis, falando inglês e sem tentativas de extorsão.

Aquilo que é cada vez mais uma evidência é que as políticas que há anos vêm sendo seguidas pelo Governo de Macau e o seus departamentos de turismo e transportes são um desastre. Não acrescentam valor, inflacionam os preços, congestionam as ruas e as estradas, aumentam o grau de poluição urbana e contribuem para a degradação da qualidade do ambiente para os residentes. Aos anteriores Chefes do Executivo muito se deve da lástima de serviços e miríade de problemas que o actual CE herdou.

Importaria por isso que a aposta hoje fosse não num aumento puro e simples, contínuo, desregrado e idiota do número de pessoas que entram e saem, sozinhas ou em excursão. É preciso fazer uma volta de 180 graus nas políticas até aqui vigentes nestas áreas. E apostar numa substancial melhoria dos padrões sociais, culturais, de riqueza e de consumo de quem nos visita.

E ao mesmo tempo acabar com os bandos que operam no sector dos transportes, impondo-lhes, se necessário com medidas de polícia, a obrigação de um serviço de táxis decente e competitivo. Aqui seria ainda preciso acabar com o preconceito e os oligopólios. Permitir a concorrência de empresas estrangeiras do sector, como se faz com os casinos, e acabarmos com o proteccionismo interno de cariz trumpista em que há décadas vivemos e que só serve aos mandarins locais. Se não for assim ainda voltaremos ao tempo dos riquexós.

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modelo

por Sérgio de Almeida Correia, em 29.07.24

Sintra 07 2024 Portugal Resident.jpg(créditos: Portugal Resident)

Nem de propósito.

Há dias chamava aqui a vossa atenção para os excessos do turismo de massas e a sua perniciosa influência na vida dos residentes, acelerando a degradação dos locais que visitam e das condições de vida dos residentes.

Pela imprensa britânica fiquei hoje a saber que os habitantes de Sintra, pitoresca e acolhedora vila portuguesa, resolveram tomar posição perante os excessos decorrentes da devassa do seu espaço pelo turismo de massas.  

O Express titula que “Locals in 'Europe's most beautiful town' threaten 'guerilla action' over 'hell'”. O tablóide Daily Mail escreve que “Europe's war on tourism has now spread to Portugal and Switzerland.”

O jornal Portugal Resident esclarece que a Associação QSintra divulgou um comunicado com o título “Em defesa de um lugar único” sublinhando que “o turismo é importante para Sintra, mas não pode ser um factor de degradação da paisagem e de despovoamento da zona”, referindo que a vila tem todas as condições para ser um “centro cultural e grande qualidade e projecção mundial”, mas que “há demasiada gente, e demasiados carros e autocarros na vila e a serpentear pelas estradas estreitas.”.

Há dez anos, um artigo no The Guardian elencava 6 razões que impunham uma diferente abordagem deste modelo de turismo, o qual já teria ultrapassado o seu auge. E escrevia-se então que o “turismo industrial de massas baseia-se na montagem, distribuição e consumo de produtos embalados”, em que “a mercantilização do que deveria ser reverenciado como único é ainda agravado pela aplicação de estratégias industriais de redução de custos de homogeneização, de estandardização e de automatização que eliminam ainda mais quaisquer vestígios de diferença, quanto mais de mística (...)”. Depois, referia-se que “as baixas barreiras à entrada e a ausência de regulamentação encorajam o crescimento rápido e a especulação”. O “turismo é um produto perecível”, que “não pode ser armazenado”, acrescentando-se que “os visitantes fazem com que os preços da terra, dos alimentos, da água, da habitação e das infra-estruturas aumentem a um ritmo estreitamente correlacionado com o declínio das margens dos operadores turísticos”, tendo como consequência que “mais turismo significa muitas vezes menos benefícios para as comunidades de acolhimento.”

Um destino turístico não deve ser visto simplesmente como “um recurso a ser explorado, mas como um lugar sagrado a ser protegido e celebrado pela sua singularidade”, defendendo-se, em alternativa, “menos volume, congestionamento, incómodo, destruição e danos”, em prol de um turismo com “mais significado, propósito, valor, paz e realização”, pugnando-se por “não mais, mas melhor” turismo.

Perante o que está acontecer em Sintra e em tantos locais de peregrinação turística por esse mundo, o Turismo de Macau continua na idade da pedra e só se entusiasma com cada vez mais gente a entrar. A primeira página desta manhã do jornal Ponto Final informava-nos de que só este ano, até 25 de Julho, já entraram 19 milhões de turistas (pseudo-turistas) em Macau, representando um crescimento de 38,2%. Num dia entraram 135.000 pessoas numa cidade que tem menos de 700.000 habitantes.

Desconheço se os responsáveis turísticos já circularam por Macau, anónimos, pelos locais de maior concentração de visitantes, mas deviam fazê-lo. Para um residente, até uma simples ida à Cinemateca num sábado à tarde se tornou num pesadelo, tantos são os encontrões que leva, a berraria e a fumarada rua após rua.

O próximo Chefe do Executivo, seja ele qual for, deverá repensar o modelo turístico de Macau. E colocar uma alínea sobre este problema no seu programa de governo.

Se a política de turismo do Tibete fosse idêntica à da RAEM aquele paraíso natural e cultural da humanidade já se teria transformado num parque de diversões de montanha, gerando lixo e poluição em quantidades astronómicas. E estou certo de que ninguém quererá isso em Pequim.

Também em relação a Macau, se os responsáveis locais não conseguem perceber o mal que estão a fazer à cidade, ao seu património, às suas ruas, e à qualidade de vida da maioria dos seus residentes, se não conseguem ver isso e contribuir para a existência de política sustentáveis e de longo prazo para o turismo de Macau, então deverá ser o Governo Central a colocar um travão à falta de racionalidade e bom senso para que se possa valorizar e proteger aquilo que constitui património de todos.

Isso é que seria muito patriótico. Não o caos e a balbúrdia actuais e que terão no futuro, aliás já no presente, custos elevadíssimos (turísticos, ambientais, e na qualidade de vida e na saúde dos residentes e das futuras gerações) para todos os que aqui vivem.

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L' arc

por Sérgio de Almeida Correia, em 18.06.20

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Ao passar esta tarde próximo do Hotel L' Arc Macau levantei os olhos e deparei-me de imediato com um espectáculo que não sei como adjectivar.

Consta que o L' Arc é um hotel classificado pela Direcção dos Serviços de Turismo como sendo de luxo, mas estranhamente são inúmeras as divisões do edifício que, dando para a via pública, exibem um desleixado aspecto de armazém, a que não faltam bugigangas amontoadas junto às janelas, algumas abertas, outras com roupa estendida em cabides no seu interior, como em qualquer uma dessas "camaratas" de um dos edifícios de luxo da Taipa ou de Coloane, e umas mais até com vidros em falta, onde é visível contraplacado no lugar daqueles (serão ainda consequências do tufão Hato de há dois anos?).

Desconheço se em causa estão quartos em renovação, embora tal não me tenha parecido. Porventura, tratar-se-ão de quartos destinados ao pessoal do hotel. Mas se assim for fica-se a pensar em que condições estarão alojados os seus trabalhadores, e como poderão estes cuidar dos outros quartos destinados aos clientes do estabelecimento se os seus próprios se apresentam em tal estado para quem olhe a partir da rua. Calculo que o espectáculo para quem mora nos edifícios adjacentes também não seja o mais agradável, dado que as cortinas estão abertas.

Perante tal cenário é de perguntar que tipo de fiscalização faz a entidade competente a estes estabelecimentos de luxo depois de licenciá-los? No caso do Hotel 13, que continua a ser um mono destinado a degradar-se encerrado, já se tinha percebido que o licenciamento fora bastante "apressado", pelas razões que talvez um dia alguém nos há-de vir dizer. Todavia, no caso dos demais hotéis seria bom que se percebesse se o "visual" que me foi dado observar, enquanto simples transeunte, e que calculo não fará parte dos pacotes turísticos de excursões internas de apoio à economia, é compatível com o estatuto de luxo que lhe foi atribuído.

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excursionistas

por Sérgio de Almeida Correia, em 22.08.19

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(créditos: JTM)

Duas notícias, ambas relacionadas com o sector do turismo e publicadas ao lado uma da outra, na edição matinal do HojeMacau (22/08/2019), chamaram a minha atenção.

A primeira dessas notícias, com o título “Despesas – Turistas gastam menos 20,7% per capita”, dava conta de que os gastos médios por visitante durante o 2.º trimestre de 2019 tinham caído 20,7%, ou seja, menos 1583 patacas por visitante comparando-se com o mesmo período do ano passado. Acrescentava-se, curiosamente, que as despesas dos visitantes de Singapura, Coreia, EUA e Reino Unido cresceram em termos anuais.

Já a segunda notícia, com o título “Entradas – Número de visitantes cresce mais de 20 por cento até Julho”, informava que mais de 23 milhões de pessoas visitaram a RAEM nos primeiros sete meses do ano, correspondendo esse número a um aumento de mais de 20% face a igual período do ano transacto. Sendo feita a distinção entre “excursionistas” e “turistas”, admitindo eu que os segundos viajem sozinhos, verifica-se que aqueles aumentaram 33,6%. Todavia, este aumento teve como contrapartida que estivessem menos tempo em Macau. O grosso do fluxo veio da RPC, quase 17 milhões, representando este número um acréscimo de 21,7%.

Compulsados estes dados, afigura-se evidente concluir que o aumento do número de turistas que se verificou foi triplamente negativo. Não só gastaram menos, como permaneceram menos tempo, ainda contribuindo para a degradação das condições de circulação e de vida dos residentes e um aumento da poluição gerada, visto que os “excursionistas” deslocam-se de autocarro.

Os números divulgados mostram bem o baixo nível do turismo que chega a Macau. É cada vez pior.

Eu preferia ter menos turistas, mas mais qualificados, gastando mais e permanecendo mais tempo.

As multidões de “excursionistas” que enxameiam as nossas ruas e largos, falando alto e dando encontrões em quem passa, podem servir para fazer as delícias das estatísticas da DST, da Dra. Helena de Senna Fernandes e do Secretário Alexis Tam. Mas tirando algumas caixas de bolos e cosméticos que comprem, só servem para nos darem cabo do sossego e da cidade.

Já era tempo de olharem para os números dos “excursionistas” que vêm do interior da China e perceberem que a continuarmos com um turismo tão desqualificado não iremos a lado nenhum, e acabar-se-á por dar cabo do pouco que ainda resta de agradável na RAEM.

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turismo

por Sérgio de Almeida Correia, em 29.09.15

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No final de um festival internacional de fogo-de-artifício e do festival do "Chong Chau", em plena semana dourada, com a cidade prestes a celebrar o Dia Nacional da China, às portas de mais uma edição do Festival Internacional de Música, que vai trazer o Fausto de Gounot, Mahler, Gideon Kremer, a Kremerata Baltica, Mozart e Salieri, I Profeti della Quinta, Patti Austin e Janis Siegel, a Orquestra Filarmónica da BBC, o Canto Siciliano, e sei lá que mais, a atenção que é dada à cidade continua a ser a mesma de sempre. A mesma não, muito pior. Porque agora o lixo já nem é varrido para debaixo do tapete e o cheiro é impossível de disfarçar. Às 14 horas, de hoje, em plena zona do NAPE, às portas do Ministério Público da RAEM e do luxo do Wynn, do L'Arc e do Star World, paredes-meias com a Direcção dos Serviços de Turismo, é este o espectáculo. Aterrador, por sinal, para uma cidade que se quer do turismo, cosmopolita e moderna. Cheiro nauseabundo, caixotes de lixo todos abertos e a precisarem de limpeza, ruas imundas, contentores virados. Nunca a cidade esteve tão porca, nunca a cidade foi tão maltratada, o que também explica o nível dos turistas que tem recebido. 

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