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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Há já algum tempo que era para ter referido o problema. A circulação rodoviária nas vias públicas de Macau continua a ser, e fica pior em cada dia que passa, uma aventura muito insegura.
São múltiplos os casos de má ou ausência total de sinalização. Seja por obras ou trabalhos de jardinagem e afins, muitas vezes com placas a menos de 5 metros das intervenções em curso, há vias que de repente estreitam, iluminação que não existe de todo ou é deficiente em múltiplos pontos, milhares de tampas de esgoto, de electricidade, de telecomunicações, muitas das quais extremamente desniveladas e dando cabo das jantes, das lâmpadas, das suspensões, dos amortecedores, dos apoios de escape e dos motores, com múltiplos e péssimos remendos no alcatrão e/ou no cimento, depressões, abatimentos e buracos que mais parecem crateras, e até placas de ferro com pontas pontiagudas das quais é muitas vezes impossível a um condutor desviar-se atempadamente devido à má e tardia sinalização e aos outros veículos em circulação, em especial pesados. Muitas dessas placas metálicas rasgam os pneus, como a alguns já sucedeu no inenarrável Istmo de Coloane, cujas obras se prolongam eternamente e onde é de pasmar que não haja mais acidentes.
Se um condutor se apercebe do perigo na estrada e trava subitamente, ou tenta desviar-se e mudar de direcção, arrisca-se a provocar um acidente e a levar com o camião ou autocarro que circula a alta velocidade na sua traseira ou que vem desembestado pelo lado direito da via, local onde os condutores de pesados e de motociclos adoram circular.
Mas um dos casos que mais dores de cabeça dá aos condutores de ligeiros são as floreiras colocadas junto ao Hotel Star World, num troço da Avenida da Amizade.
Pois ali, além da evidente apropriação da via pública pela concessionária, obriga-se os condutores que circulam no sentido da Av. Sir Anders Ljungstedt para a Avenida da Amizade, e que demandando esta pretendem seguir em direcção à Avenida de Sintra, que façam uma perigosa gincana por uma zona que está muitas vezes apinhada de táxis, peões, carros e carrinhas de jogadores e de junkets, não raro estacionados em segunda e terceira fila, alguns à espera do arrumador, sem esquecer os autocarros ao serviço da concessionária que também têm ali as suas paragens para tomada e largada de passageiros. Um caos.
Depois, devido à colocação das floreiras, há uma verdadeira e permanente lotaria para qualquer condutor poder entrar na Avenida da Amizade, sendo grande o risco de se levar com outro ligeiro em cima ou de se embater num motociclo que circule encoberto pelas ditas.
Será que aquelas almas da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego e da PSP nunca se aperceberam de nada disto? De que estão à espera para agir? De uma desgraça com mortos e feridos para depois mobilarem as estradas com pinos plásticos coloridos?
O que se passa nas ruas e estradas de Macau é impossível de descrever em meia dúzia de linhas.
Dos acessos às pontes de Sai Van e da Amizade aos engarrafamentos quase permanentes na Avenida dos Jogos da Ásia Oriental, da Rotunda Ouvidor Arriaga à Rotunda do Istmo, sem esquecer a Avenida Marginal Flor de Lótus o caos é total.
As obras não param, os buracos e as barreiras são em todo o lado, crescem como cogumelos, os condutores das carrinhas dos junkets, motoristas de táxis e autocarros e camionistas fazem o que querem e como querem. Não respeitam nada nem ninguém, ignoram sinais de mudança de direcção dos outros veículos quando as vias estão parcialmente obstruídas, e mal sinalizadas, e os outros condutores querem mudar de faixa. Entram por onde lhes apetece, encostam à direita para depois voltarem à esquerda atravessando-se à frente de quem segue na faixa do lado, por sinal a do meio, à sua esquerda, obrigando tudo e todos a seguirem o seu estilo de condução se se quiserem safar. Na Taipa, ao circular da Avenida do Governador Albano Oliveira em direcção à Avenida dos Jogos da Ásia Oriental é normal apanhar motoristas de táxi a saírem em contra-mão dos acessos ao Hotel Roosevelt em direcção à rotunda onde está a bomba de gasolina da Mobil só para não terem de se meter no engarrafamento e darem a volta. Até hoje não houve um acidente por puro milagre, sendo certo que os acessos ao referido hotel também foram mal projectados.
Quanto à PSP não sabe como orientar o trânsito. Tão depressa impede a circulação nas rotundas, sem qualquer critério, como manda todos os veículos avançarem ao mesmo tempo de maneira a que ninguém consiga circular e todos fiquem parados. Onde devem estar quando são precisos nunca estão e depois de criarem a confusão montam nas suas motas e vão até outro lado verificar parquímetros e deixar mais uns talões de multa.
A falta de civismo de quem anda na estrada explica muita coisa, mas é, todavia, ainda assim insuficiente para também abarcar a péssima condução de muitos, a começar pelos que vêm do outro lado da fronteira em grandes SUV e carros topo de gama, cuja indisciplina e arrogância em matéria de condução estradal ultrapassa todos os limites, colocando em causa outros veículos, mas em especial os condutores de motociclos e os peões, incluindo nas passadeiras.
Com o estado a que chegamos, com um Secretário para os Transportes em exaustão e sem paciência nem vontade para corrigir as coisas, com um Chefe do Executivo meramente para cerimónias protocolares, ao cidadão só resta ter paciência.
E rezar, se for crente, para que nada de grave aconteça, para que não haja mais tufões, nem calamidades, e chegue depressa uma nova equipa governativa com alguma capacidade de decisão e de gestão.