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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: Forbes, DPA/PICTURE ALLIANCE VIA GETTY IMAGES)
O problema não é novo e não se me afigura de fácil resolução.
Não há muito tempo, um artigo do Vítor Rebelo, deu-nos conta de que a Escola Portuguesa de Macau realizou um inquérito junto dos encarregados de educação no sentido de apurar qual a posição destes sobre a eventual imposição de restrições ao uso de telemóveis no interior do estabelecimento de ensino e durante os períodos escolares, sem prejuízo da sua utilização "em situações de emergência, actividades pedagógicas por indicação do professor, ou para permitir o acesso a recursos educativos e ferramentas online facilitadoras da aprendizagem". A ressalva é importante, mas não é tudo.
Depois disso, em Março, saíram notícias vindas da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude de Macau sobre a vontade de se impor um "conjunto de orientações sobre o uso de telemóveis para alunos de escolas do ensino não superior". pareceu-me bem.
E quanto a este ponto, o presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (EPM), Filipe Figueiredo, manifestou a concordância da associação a que preside quanto à introdução dessas restrições, salientando, com razão, as perturbações ao comportamento das crianças e jovens que a influência e a dependência daqueles equipamentos tem causado.
Recorde-se que, em 2023, a UNESCO recomendara que fossem banidos os telemóveis (smartphones) das escolas por constituírem uma distracção à aprendizagem.
Concordar-se-á, facilmente, que há impactos positivos, mas também alguns muito perniciosos, ao uso frequente, desregrado, incontrolado de equipamentos electrónicos. E não apenas por parte dos mais novos. O mesmo se diga quanto às ferramentas de Inteligência Artificial (IA).
Ontem, o The Guardian deu-nos a notícia de que na Estónia, considerado uma dos países mais avançados do mundo em matéria de Educação e que obteve resultados muito bons na última ronda do PISA, em 2022, ocupando os seus estudantes o primeiro lugar em Matemática, Ciências e Pensamento Criativo, e o segundo em Leitura, se lançou um programa nacional designado "AI Leap" destinado a dotar os seus alunos e professores de ferramentas e qualificações de nível mundial em matéria de IA, programa esse que começará em Setembro. Desse modo se investirá na preparação tecnológica dos professores, enfatizando-se um modelo de aprendizagem autónomo, suportado numa ética digital, de maneira a que se dê "prioridade à equidade educativa e à literacia em IA".
A ministra da Educação e Tecnologia da Estónia enalteceu o uso desses equipamentos, referindo que no seu país o direito de voto é exercido a partir dos 16 anos, que o exercício desse direito é estimulado para que ser feito online, recorrendo-se aos telemóveis, e acrescentando que isso contribui para a participação cívica e eleitoral, a obtenção de informação e a análise de plataformas políticas, não fazendo sentido a imposição de restrições, que transmitiriam uma ideia contraditória.
O sucesso do uso dos telemóveis, e dos resultados obtidos por aquele país, estará antes num conjunto de regras direccionadas a crianças com menos de 12 ou 13 anos, quanto ao modo como esses equipamentos deverão ser utilizados, cabendo depois às escolas a regulação do seu uso durante os intervalos e nas aulas, sempre que o professor considere que devem ser usados como auxiliares na realização de trabalhos escolares.
Segundo Kristina Kallas, o desafio está em saber se somos capazes de evoluir no sentido de nos tornamos criaturas de pensamento mais rápido e de nível mais elevado, ou se vamos deixar que seja a tecnologia a apoderar-se da nossa consciência.
A solução não é fácil. Continua a haver todo um debate por fazer.
A solução da proibição é a mais fácil, a mais imediata. Mas, pergunto eu, será que com a proibição se garante o sucesso?
Há que encontrar as soluções mais adequadas ao momento e procurar ir adaptando-as à medida que vamos conhecendo um pouco melhor os desafios que se nos colocam, as exigências e as consequências do uso, imoderado ou regrado, desses equipamentos e da IA.
Uma coisa é certa: não podemos permitir que seja a IA a decidir por nós. Nem ficar num grau tal de dependência que a nossa autonomia seja colocada em risco. No dia em que isso acontecer será o fim da nossa espécie enquanto seres pensantes, dotados de razão e independência.
No fundo, o que está aqui em causa é saber se seremos capazes de continuar a evoluir não perdendo razão nem autonomia. Isto é, se continuamos a ser livres ou se vamos perder essa liberdade em favor das máquinas e de quem as domina.
A escolha será decisiva e voltará a ser, não há que fugir, entre a liberdade e a tirania.