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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Logo quando vi o primeiro episódio da série da TDM "Macau Compasso, apercebi-me de que estávamos perante um excelente trabalho de televisão. Estavam lá todos os ingredientes para ser um sucesso.
De acordo com o que foi anunciado, estamos praticamente no fim, sendo justo que, desde já, se enalteça o trabalho produzido.
Com os meios cada vez mais exíguos que os jornalistas do canal português da TDM têm ao seu dispor, em que até a simples aquisição de uma mesa ou a contratação de um jornalista absolutamente necessário para o canal português é um verdadeiro drama, não deixa de ser assinalável a qualidade da série e o interesse gerado.
A forma como a série foi construída em torno da obra de diversos arquitectos que marcaram a paisagem de Macau nas últimas décadas, muitos deles desconhecidos do grande público (são inúmeros os edifícios que nem sequer identificam o arquitecto na fachada), embora haja quem seja capaz de reconhecer e admirar a obra construída, o modo como se elaboraram e concretizaram projectos de elevado nível e que se tornaram referências da arquitectura local, a ponto de terem recebido diversas menções, prémios e reconhecimento local e internacional, dando-se desse modo a conhecer o que está na génese da ideia, do projecto e por detrás do edificado, bem como as suas referências, o estilo e a sua assimilação pela cidade e a sua população, colocando a arquitectura no centro das atenções, mostrando a sua função educativa, estética e funcional às gerações actuais, constitui uma pedrada na ignorância e no atavismo de alguns dos maus burocratas que passaram a enxamear e "orientar" os serviços públicos da RAEM sem qualquer chama ou visão.
Espero que em breve os episódios da série possam estar disponíveis no site da TDM e que esta sirva de exemplo para se continuar a fazer mais e melhor. Em qualquer língua, sem complexos patrioteiros e visando o bem comum.
O trabalho apresentado, para além de merecer ser conhecido e divulgado noutras latitudes, designadamente em Portugal, devia ser traduzido para chinês, o que permitiria chegar a um público muito mais vasto e desconhecedor – a começar por alguns responsáveis – da história recente da arquitectura de Macau e do contributo que para ela foi dado por gente vinda de fora que fez desta a sua cidade e nela deixou a sua pegada estética e humana.
Talvez desse modo ainda fosse possível fazer alguma coisa e evitarem-se os atentados que diariamente são cometidos contra o património arquitectónico da RAEM com a conivência, o desleixo, a complacência e, nalguns casos, a mais completa ignorância de quem devia ter um mínimo de competências para ocupar cargos de direcção e zelar pela protecção dos direitos de autor e por um bem que pertence a todos e faz toda a diferença na arquitectura do Sul da China.
São, pois, devidos parabéns e aplausos a todos, mas em especial à jornalista Ana Isabel Dias e a toda a equipa da TDM que conseguiu produzir uma série de tão elevado nível e interesse televisivo, cultural e pedagógico como é a Macau Compasso.
Oxalá consigam fazer chegar a série a um público mais vasto e em horários nobres, para desse modo poderem contribuir para a divulgação e protecção do património da RAEM.
Macau tem de ser conhecida e visitada pelo que tem de bom, pelo que a distingue e a valoriza, e não pelo que a torna insuportável para residentes e afasta o turismo de qualidade.
Ouvi e não quis acreditar. Infelizmente, já não é a primeira vez.
Depois fui ouvir de novo, e transcrevi para aqui (espero ter transcrito bem) para ter a certeza do que tinha ouvido bem (os negritos são da minha responsabilidade):
"[A Lei Básica] (...) tem servido plenamente o objectivo para que foi aprovada. As pessoas que eu oiço muitas vezes criticarem a Lei Básica, porque a Lei Básica não tem isto, e o que está a ser violada, etc.; eu quanto mais leio a Lei Básica, mais estudo a Lei Básica, mais acho que ela não está a ser violada. As críticas que se fazem à governação, as críticas que se fazem ao sistema em que estamos a viver não são, não devem ser dirigidas à Lei Básica, devem ser dirigidas à má qualidade de alguns aplicadores da Lei Básica, e à má qualidade de alguns dirigentes que deviam ter outra maneira de governar, mas que não tem a ver com o conteúdo da Lei Básica. O conteúdo não está a ser violado, como a Lei Básica segue exactamente os princípios que foram estabelecidos na Declaração Conjunta. Também há muitas pessoas que dizem, que "Ah!, a Declaração Conjunta está a ser desrespeitada". Não está a ser desrespeitada. Quem for ler com atenção vê que a Lei Básica tem tudo aquilo que ficou dito na Declaração Conjunta. E, portanto, as críticas têm de ser orientadas para outro lado, não para o conteúdo da lei, não para a redacção da lei, mas para quem a aplica."
Confesso que até hoje não ouvi ninguém criticar o conteúdo da Lei Básica.
As tais pessoas, entre as quais me incluo, do que se queixam é exactamente da má interpretação e má aplicação da Lei Básica. É da sua má interpretação e má aplicação que resulta a sua violação, e, também, a violação da Declaração Conjunta.
Se os aplicadores da lei, designadamente da Lei Básica, são maus aplicadores, como ele diz, se fazem interpretações erradas, como ele diz, se com base nestas interpretações erradas se fazem leis más, que não cabem no tal conteúdo da Lei Básica, se a ultrapassam, então não estão a violar a lei?
Mas que tem a ver o conteúdo da Lei Básica e "o seguir" os termos da Declaração Conjunta com a sua má aplicação, com o mau uso que dela está a ser feito por quem governa e por quem tem de aplicá-la?
Então se num processo judicial o juiz interpreta mal a lei, se aplica mal a lei, ele não está a violar a lei? Então qual é o fundamento dos recursos, não é a má aplicação da lei, não é a sua violação? Se um juiz interpreta mal uma disposição da Constituição ou do Código Civil, então não está a violar a lei?
E desde quando é que a má aplicação da lei por um governante não é uma violação da lei? Então para que servem os tribunais administrativos?
Não sei em que qualidade falou, mas como advogado ou jurista não foi com certeza. Não sei como foi possível dizer o que disse. Que tristeza.
A TDM e a Fundação Rui Cunha prestaram um óptimo serviço à população, aos residentes de Macau e a Portugal. Porque as declarações proferidas são de uma grande desonestidade intelectual, devem ver ouvidas, e só podem servir para querer fazer dos outros estúpidos.
O falecido Presidente Jorge Sampaio deve andar às voltas na tumba. É preciso topete.
Compreendo que todos queiram saber o que se passa na sua terra. E também me parece pertinente que lhe seja dado algum destaque no espaço informativo mais importante do único canal de televisão em língua portuguesa. Só que daí até ao que se tem visto, começa-me a parecer um exagero sem sentido e sem qualquer justificação.
Refiro-me ao tempo de antena que é dado às conferências de imprensa dos Serviços de Saúde e às descrições detalhadas dos percursos de cada vez que aparece um infectado. Sim, um infectado. Ou dois, vá lá.
Um director de serviços agarrado a uma folha de papel a descrever minuciosamente todos os passos do infectado? O telejornal dando-lhe cobertura durante minutos a fio? Ninguém se enxerga?
Bem sei que somos candidatos a "Centro Mundial de Turismo e Lazer" com a dimensão e a mentalidade de uma recôndita paróquia transmontana ou beirã nos anos 50 do século passado, mas era escusado brindarem-nos com os números "CT" do pai, da mãe, da filha, e com a descrição detalhada da vida de cada um, do estágio que a filha está a fazer num restaurante, com indicação do nome deste, mais o que fizeram às 11:18, as carreiras de autocarros que utilizaram, e por aí fora. Podemos agradecer que não se fizessem acompanhar de animais de estimação, com o que nos pouparam aos resultados dos testes do canário e da tartaruga e ao percurso do cachorro quando foi à rua alçar a perna.
Enfim, se há momentos deprimentes em televisão, os do Telejornal da TDM, a propósito da situação epidémica, nalgumas ocasiões conseguem bater todos os recordes. Ontem foi um deles. Estavam lá ingredientes com fartura para se mudar de canal. A descrição detalhada e desinteressante para o público em geral, as imagens descoloridas num cenário vazio, o tom monocórdico, um tempo longo e vagaroso, a sensação de que nunca mais acaba a lengalenga, o martírio. E depois, quando a apresentadora regressa, as cores frias e distantes do fundo e a falta de gosto do painel também não ajudam. Cores mais alegres e mais quentes também são importantes para o estado de espírito de quem está em casa a ver. Ou em observação num hotel de quarentena.
Se em vez de um caso, de tempos a tempos, como tem acontecido, tivéssemos dezenas ou milhares de casos diários, iriam fazer o mesmo com todos? O director dos SSM não tem mais nada com que se entreter? Qual o interesse de durante largos minutos nos estarem a dar a vida do infectado e da família próxima? E a TDM tem de embarcar nisso? Isso não podia ser resumido? Qual é o critério editorial?
Tomem as medidas que se impõem, aprendam a viver com o vírus, evoluam, usem os neurónios. E poupem-nos a mais deprimência. Já basta como estamos.
Desta vez, a TDM está de parabéns. O documentário "In the footsteps of George Chinnery", que ontem foi exibido em horário nobre e cuja figura do artista já mereceu destaque publicitário na BBC, constitui um notável exemplo daquilo que deve ser o serviço público de televisão em Macau. O trabalho de Patrick Conner, pela forma inteligente e agradável como foi capaz de transmitir a vida do pintor e de dar a conhecer o essencial da sua obra, sem que com isso fosse menos rigoroso em relação aos factos, merece aplauso e deverá, se tal for possível, ser disponibilizado na íntegra através da Internet ou do YouTube, única forma de poder ser levado ao conhecimento de mais gente, dentro e fora de Macau. E, já agora, ser passado nas escolas de Macau como parte dos programas educativos para que a sua população juvenil seja menos ignorante em relação à sua própria história e à obra de um homem que, à sua maneira, internacionalizou e projectou a cidade e ao qual hoje todos devemos alguma coisa.
Algumas nunca deviam ser feitas. A gente fica sem perceber se o entrevistado não está preparado para dar entrevistas, se o entrevistador se preparou para fazer a entrevista ou se nenhum dos dois está preparado para o momento. Há perguntas óbvias que ficam por fazer, outras que não deviam ser feitas e respostas que são de tal forma polidas que seria uma mais-valia que não fossem dadas. No final, são mais as dúvidas do que os esclarecimentos e as conclusões. Para além da ocupação do tempo de antena, a TDM lá deverá ter os seus critérios. Eu é que não os conheço.