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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Enquanto exerceu as suas funções profissionais, como diplomata, cumpriu o seu papel de servidor sem rasgos.
Depois, quando resolveu dar-se ares e enveredar por uma carreira política e lobista, tem sido um serviçal disponível e bajulador, que se pavoneia de leque aberto convencido de que o mundo gira em torno da sua sapiência.
A passagem pelo Governo português foi um desastre, e acabou com a sua precipitada saída pela porta dos fundos por causa do triste episódio da cunha que fez também cair o então ministro da Educação. Na memória de muitos ficou a limpeza política e pessoal que desencadeou no Palácio das Necessidades, coisa até aí nunca vista, e a forma vergonhosa como afastou Seixas da Costa.
Sempre reverente a quem manda e de onde vem o "kumbu", postura que é normalmente seguida por muitos que ainda perdem tempo a ouvi-lo, de cada vez que abre a boca debita banalidades, lugares-comuns e asneiras. Voltou a ser igual a si mesmo.
Fala de cátedra, sem contraditório e sem a mínima humildade, esquecendo-se que do outro lado da antena ou do ecrã também haverá, em circunstâncias normais, gente que vê e acompanha a actualidade política, económica, social e as relações internacionais.
O elogio barato a cleptocratas – de José Eduardo dos Santos, o ditador que se encheu e à família delapidando o Estado angolano, ao mesmo tempo que encarcerava opositores políticos, disse em tempos que deixava um legado "positivo" e chegou a compará-lo a Nelson Mandela, como se este fosse algum vulgar ladrão e torcionário –, caucionando a fraude eleitoral angolana no seu diligente papel de "observador internacional", condescendendo com Manuel Vicente e as acusações de corrupção, criticando a acção da justiça portuguesa, são episódios que constam do seu currículo.
Levantar a voz contra os fracos, ou caídos em desgraça, como na Venezuela, enquanto verga a cerviz, arredonda o discurso e fecha os olhos a tudo o que venha de outras ditaduras, colocando os interesses económicos à frente de valores e princípios, é coisa que o atrai e constitui a sua imagem de marca, tal a satisfação com que o faz.
O jornal angolano Folha 8 chegou a apelidá-lo de "sipaio luso" e escreveu a dada altura o seguinte: "Que trate os portugueses como matumbos, é um problema dos portugueses. Agora que queira pôr os angolanos no mesmo plano, isso não. Seguindo à risca as instruções recebidas de quem lhe paga, Martins da Cruz disse que além de terem sido cumpridos os prazos, a justiça angolana foi até mais rápida que a portuguesa, pois marcou o julgamento num tempo recorde. O MPLA sorriu. De facto, não é fácil encontrar um sipaio tão submisso."
Na entrevista à cada vez mais obediente e desinteressante TDM não desiludiu.
Convencido de que a ouvi-lo estaria mais um punhado de matumbos, apressou-se a dizer que Macau "diversificou a sua economia", o que constituirá certamente uma novidade para o Governo Popular Central e as autoridades da RAEM.
O futuro Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, também deve desconhecer esta diversificação porque em Agosto passado dizia que a indústria do jogo está a consumir demasiados recursos e há dias, em 10 de Ourubro, voltou ao tema para criticar a excessiva dependência do sector do jogo. No entanto, para Martins da Cruz, Macau "excedeu todas as expectativas".
De caminho aproveitou para criticar o Governo português e encostar o atraso na política de vistos da RPC em relação a Portugal ao problema da Huawei, dando guarida à narrativa de alguns bípedes sempre ansiosos por mostrarem serviço quando estão de gatas.
Esqueceu-se foi de explicar por que motivo outros países que foram bem mais críticos e apressados em sancionar a Huawei, e que, caso da Itália, inclusivamente, abandonou a sua participação na Belt and Road Initiative, não foram tão penalizados como Portugal o foi. E de tal forma aconteceu que ainda em Março passado o Embaixador de Portugal em Pequim dizia não perceber a política de vistos chinesa, entretanto corrigida há dias em relação aos cidadãos lusos.
Pois foi a este figurão que, uma vez mais, a TDM deu tempo de antena. Dir-se-ia que a empresa lhe deve alguma coisa. Ou aos patrões dele, sei lá, tanto foi o tempo concedido ao pavão lobista para debitar as "pérolas" que normalmente distribui a eito de cada vez que fareja a hipótese de uma nova ração.
Vergonha e bom senso são coisas que muita gente desconhece. Alguns que os tiveram pioram com a humidade e a idade e acabam dando entrevistas confrangedoras. Ultimamente tem havido vários casos destes na TDM.
Poderá não ser por necessidade. Por feitio será certamente.
E acaba por vir à superfície. No que, ainda assim, terá esbatidos contornos, nessa parte, de serviço público.
Quanto ao mais fiquemos por aqui. Hoje ainda é segunda-feira.
O Campeonato Europeu de Futebol 2024 começou na Alemanha. A festa do futebol está de volta. Para todos.
Isto é, para quase todos em todo o mundo e em toda a China menos para os residentes de Macau.
Ainda há dias, com toda a pompa e múltiplos encómios, aliás merecidos, se celebraram os 40 anos da Televisão de Macau, enaltecendo-se o investimento realizado, a qualidade do trabalho produzido pelos seus profissionais ao longo dos anos e a importância que este teve, e continua a ter, para aproximar Macau da China e do mundo global.
Mas logo agora que começou o Campeonato Europeu de futebol, que milhares de adeptos viajaram de toda a China para a Europa e Alemanha para acompanharem os jogos ao vivo, que o turismo chinês para a Europa é impulsionado por esse evento, como também refere o Global Times, que centenas de jovens chineses seguem os jogos ao vivo com o apoio de empresas chinesas e que milhões vêem os jogos em directo na China, os residentes do Macau, que no discurso oficial são fundamentais no esforço patriótico de segurança nacional e no apoio ao desenvolvimento de Hengqin e da Grande Baía Macau/Hong Kong/Guangdong, são inexplicavelmente deixados à margem deste grande acontecimento mundial, impossibilitados de acompanharem os jogos, em directo ou em diferido, e nem sequer a pequenos resumos dos jogos têm acesso. Vergonhosamente, os principais telejornais da TDM limitam-se a apresentar fotografias dos jogos que vão ocorrendo quando referem os resultados dos que vão ocorrendo na secção desportiva dos noticiários.
Em Macau, quem queira ver os jogos do Euro 2024 não pode contar em nada com a TDM. Que, em contrapartida, transmite jogos da Liga Japonesa. Jogos do Euro 2024 em Macau, para quem conseguir ter acesso, só através do canal CCTV 5 da televisão chinesa. Ou através de esquemas manhosos via Internet e telemóveis. Na TDM, em canal aberto, nicles.
Todos os chineses e os portugueses residentes de Macau e fãs da Selecção Nacional e das estrelas portuguesas que iluminam relvados por todos os estádios do mundo com a sua classe e genialidade, nesta era da globalização e da meditização de tudo, ficaram arredados. E nem com a estupidificante RTP Internacional do Nicolau Santos podem contar.
É inacreditável como é que a TDM, que desde 1984, como há dias alguém lembrava, quando havia muito menos riqueza, transmite todos os jogos dos campeonatos da Europa de futebol, este ano ficou de fora.
O problema não será certamente financeiro. Se há dinheiro para a Administração andar a lançar foguetes, organizar festas, jantaradas e afins, também deveria haver para prestar serviço público a todos. Dos mais jovens, estimulando-os à prática desportiva e ao interesse pelo futebol, mostrando-lhes o melhor, para que aquele se possa desenvolver capazmente em Macau e na China, onde continua atrasadíssimo apesar dos investimentos milionários que já se fizeram, quer entretendo os mais velhos com algo mais interessante do que o seu triste dia-a-dia entre quatro paredes minúsculas num vigésimo andar da Areia Preta ou seguindo programas de propaganda avulsa e os "enlatados" para patriotas e broncos, como agora acontece com programas de debate futebolístico produzidos em Portugal, que já chegaram às emissões em horário nobre, transmitindo em diferido as elevadíssimas e importantíssimas discussões do "chuto-na-bola" em futebolês lusíada.
E se fosse preciso algum patrocínio para a transmissão dos jogos, certamente que teria sido fácil à TDM obter o apoio dos casinos ou de empresas chinesas, como a Fundação Macau, que subsidia tudo e mais um par de sapatos, o Banco da China ou o BNU, ou até a Alibaba, que também paga a David Beckham para promover o Euro 2024, tal como a Sands China lhe paga para promover o Londoner e os seus casinos, ou até a BYD dos automóveis eléctricos que levou mais de uma centena de miúdos chineses à Alemanha.
Em qualquer sistema decente, os responsáveis da TDM já teriam sido chamados à pedra por tão grande manifestação de incompetência e falta de patriotismo para com os residentes de Macau, deixando-os à margem de um evento com a importância desportiva do Euro 2024. Num sistema de natureza cacical e paroquial, que premeia o carneirismo, o espirito acrítico e cultiva a ignorância e o chico-espertismo, em lugar da ética, da inteligência e da responsabilidade individual, ainda havemos de os ver condecorados. É só uma questão de tempo.
Esta falha da TDM, que deveria valer um pedido de desculpas à população por parte dos polícias que nela mandam, gravíssima pelo grau de incompetência que revela e que seria impensável no tempo de Manuel Pires e antecessores, até faz lembrar os tristes episódios da contratação de professores não-residentes pela Escola Portuguesa de Macau.
A esperteza, a pesporrência e o talento só os inclinam para a asneira. E da grossa.
Completam-se hoje quarenta anos sobre o início das emissões televisivas da Televisão de Macau. A data merece ser assinalada e deverá constituir matéria de reflexão sobre o seu passado, o seu presente e o futuro que dela se espera.
Muito embora tivesse sido, ao longo destas quatro décadas, muitas vezes utilizada como um instrumento de propaganda ao serviço do poder político, do almeidismo ao vierismo, dos senhores da terra aos novos régulos, passando por momentos difíceis, tanto a nível da gestão, com administradores detidos, como do seu financiamento, importa referir que não foi por isso que deixou de ir prestando, muitas vezes contra ventos e marés, um bom trabalho, tanto em matéria de informação, como de entretenimento, de formação de audiências e difusão da cultura e do conhecimento, aproximando povos e nações, dando a conhecer realidades próximas e longínquas, de muitos desconhecidas, contribuindo para um melhor entrosamento entre a cidade e os seus residentes.
Esse bom trabalho ficou a dever-se, em primeira linha, à qualidade das sua equipas, quer técnicas, quer de jornalistas, que com meios exíguos – actualmente ainda mais – souberam ao longo dos anos ultrapassar dificuldades, fazer das tripas coração, ignorar desconfianças várias e gerir as crises com sabedoria, para apresentarem um trabalho decente, prestando um serviço útil e fiável à população.
Com a TDM chegou gente de imensa qualidade até Macau; formou outros de igual valia, e depois também levou muitos para outras paragens, para grandes órgãos de comunicação social portuguesa e internacional, onde puderam mostrar toda a qualidade da formação de base adquirida em Macau.
Alguns há que, felizmente, ainda por cá continuam, com poucos e escassos meios, fazendo milagres e colocando o seu saber e experiência ao serviço de toda a comunidade, também ajudando a divulgar e a democratizar vários idiomas na comunidade, e não apenas os oficiais, contribuindo para a formação de um público cada vez mais exigente, e para a criação de pontes entre mundos que vivendo separados se foram conhecendo melhor e passaram a comunicar entre si num outro patamar e com outras referências.
Nos últimos anos, mercê das vicissitudes políticas por que a RAEM tem passado, assistiu-se, no canal português, que é aquele que sigo e acompanho diariamente, a um desinvestimento em diversos níveis, quer em meios técnicos, quer humanos, quer, ainda, na qualidade dos programas ou no simples mobiliário e decoração dos estúdios, não raro paredes-meias com um indescritível mau gosto.
Os programas de discussão da actualidade política e internacional tornaram-se residuais, avulsos, sem continuidade, o que se revela ainda mais patente na comparação com o que continua a fazer-se em Hong Kong. O unanimismo instalou-se. A crítica interiorizou-se, silenciou-se. Alguns houve que rapidamente se serventualizaram e vivem felizes com esse estatuto.
As vozes que garantiam a pluralidade do debate e entusiasmavam audiências desapareceram, substituídas que foram por rostos, vozes, discursos e programas cada vez mais anódinos e alinhados com o discurso oficial, alguns de características medíocres, requentados, servindo simplesmente objectivos de mera propaganda – política, empresarial, pessoal –, nada acrescentando ao conhecimento dos seus destinatários, e que apesar disso são depois repetidos ad nauseam, por vezes com curtos intervalos entre as emissões.
A informação tornou-se muitas vezes desequilibrada, oscilando entre o excepcional, o mediano e o sofrível, sem se perceber muito bem, para além do poder avulso de quem manda no momento, ao serviço de quem é que está. A gestão burocratizou-se e funcionalizou-se. O jornalismo e a informação perderam autonomia, por vezes assumindo posições subservientes e posicionando-se como meros instrumentos para realização dos objectivos políticos definidos superiormente.
Apesar de todos os altos e baixos continua a prestar um serviço essencial, particularmente ao nível da informação sobre o que se passa na cidade, na região e no país, o que se reveste de ainda maior importância quando os deuses que controlam os fenómenos climatéricos resolvem fazer das suas na região e arredores.
Por tudo isso, a TDM e todos aqueles que a construíram e trouxeram até hoje, formando pessoal, contribuindo para a formação de novas mentalidades, difundindo-as, promovendo o debate, mesmo em tempos de chumbo e de acelerada descaracterização da autonomia da região, quando era mais cómodo simplesmente papaguear, conferindo-lhe identidade e tornando-a num símbolo de Macau e das suas gentes, merecem ser saudados.
É o que aqui faço, desde já enviando, contra ventos cada vez mais fortes que sopram de diversos quadrantes, na pessoa desse resistente decano, símbolo do profissionalismo televisivo e farol do rigor informativo, o que não é colocado em causa pelo colorido e excentricidade de algumas gravatas que me poderiam levar a refrear o cumprimento, um forte abraço ao Jorge Silva, que espero não me leve a mal o abuso e torno extensivo aos que o acompanharam nesta caminhada desde os primeiros tempos, fazendo votos de que a TDM tenha vida e saúde durante muitos e bons anos, aproveitando para desejar à estação, se tal ainda for possível, que recupere algum do muito prestígio perdido de há meia-dúzia de anos a esta parte, corrigindo disfuncionalidades, melhorando o que está mal, dando-lhe mais meios – porque isto também é do interesse de quem manda se for capaz de ver mais à frente do apito e para lá da espuma dos dias –, difundindo a cultura, o pensamento e o espírito crítico, dentro e fora da estação, sem medo dos novos censores, entretendo, informando e divertindo; em suma, promovendo Macau no mundo e aproximando culturas, povos e nações.
Logo quando vi o primeiro episódio da série da TDM "Macau Compasso, apercebi-me de que estávamos perante um excelente trabalho de televisão. Estavam lá todos os ingredientes para ser um sucesso.
De acordo com o que foi anunciado, estamos praticamente no fim, sendo justo que, desde já, se enalteça o trabalho produzido.
Com os meios cada vez mais exíguos que os jornalistas do canal português da TDM têm ao seu dispor, em que até a simples aquisição de uma mesa ou a contratação de um jornalista absolutamente necessário para o canal português é um verdadeiro drama, não deixa de ser assinalável a qualidade da série e o interesse gerado.
A forma como a série foi construída em torno da obra de diversos arquitectos que marcaram a paisagem de Macau nas últimas décadas, muitos deles desconhecidos do grande público (são inúmeros os edifícios que nem sequer identificam o arquitecto na fachada), embora haja quem seja capaz de reconhecer e admirar a obra construída, o modo como se elaboraram e concretizaram projectos de elevado nível e que se tornaram referências da arquitectura local, a ponto de terem recebido diversas menções, prémios e reconhecimento local e internacional, dando-se desse modo a conhecer o que está na génese da ideia, do projecto e por detrás do edificado, bem como as suas referências, o estilo e a sua assimilação pela cidade e a sua população, colocando a arquitectura no centro das atenções, mostrando a sua função educativa, estética e funcional às gerações actuais, constitui uma pedrada na ignorância e no atavismo de alguns dos maus burocratas que passaram a enxamear e "orientar" os serviços públicos da RAEM sem qualquer chama ou visão.
Espero que em breve os episódios da série possam estar disponíveis no site da TDM e que esta sirva de exemplo para se continuar a fazer mais e melhor. Em qualquer língua, sem complexos patrioteiros e visando o bem comum.
O trabalho apresentado, para além de merecer ser conhecido e divulgado noutras latitudes, designadamente em Portugal, devia ser traduzido para chinês, o que permitiria chegar a um público muito mais vasto e desconhecedor – a começar por alguns responsáveis – da história recente da arquitectura de Macau e do contributo que para ela foi dado por gente vinda de fora que fez desta a sua cidade e nela deixou a sua pegada estética e humana.
Talvez desse modo ainda fosse possível fazer alguma coisa e evitarem-se os atentados que diariamente são cometidos contra o património arquitectónico da RAEM com a conivência, o desleixo, a complacência e, nalguns casos, a mais completa ignorância de quem devia ter um mínimo de competências para ocupar cargos de direcção e zelar pela protecção dos direitos de autor e por um bem que pertence a todos e faz toda a diferença na arquitectura do Sul da China.
São, pois, devidos parabéns e aplausos a todos, mas em especial à jornalista Ana Isabel Dias e a toda a equipa da TDM que conseguiu produzir uma série de tão elevado nível e interesse televisivo, cultural e pedagógico como é a Macau Compasso.
Oxalá consigam fazer chegar a série a um público mais vasto e em horários nobres, para desse modo poderem contribuir para a divulgação e protecção do património da RAEM.
Macau tem de ser conhecida e visitada pelo que tem de bom, pelo que a distingue e a valoriza, e não pelo que a torna insuportável para residentes e afasta o turismo de qualidade.
Ouvi e não quis acreditar. Infelizmente, já não é a primeira vez.
Depois fui ouvir de novo, e transcrevi para aqui (espero ter transcrito bem) para ter a certeza do que tinha ouvido bem (os negritos são da minha responsabilidade):
"[A Lei Básica] (...) tem servido plenamente o objectivo para que foi aprovada. As pessoas que eu oiço muitas vezes criticarem a Lei Básica, porque a Lei Básica não tem isto, e o que está a ser violada, etc.; eu quanto mais leio a Lei Básica, mais estudo a Lei Básica, mais acho que ela não está a ser violada. As críticas que se fazem à governação, as críticas que se fazem ao sistema em que estamos a viver não são, não devem ser dirigidas à Lei Básica, devem ser dirigidas à má qualidade de alguns aplicadores da Lei Básica, e à má qualidade de alguns dirigentes que deviam ter outra maneira de governar, mas que não tem a ver com o conteúdo da Lei Básica. O conteúdo não está a ser violado, como a Lei Básica segue exactamente os princípios que foram estabelecidos na Declaração Conjunta. Também há muitas pessoas que dizem, que "Ah!, a Declaração Conjunta está a ser desrespeitada". Não está a ser desrespeitada. Quem for ler com atenção vê que a Lei Básica tem tudo aquilo que ficou dito na Declaração Conjunta. E, portanto, as críticas têm de ser orientadas para outro lado, não para o conteúdo da lei, não para a redacção da lei, mas para quem a aplica."
Confesso que até hoje não ouvi ninguém criticar o conteúdo da Lei Básica.
As tais pessoas, entre as quais me incluo, do que se queixam é exactamente da má interpretação e má aplicação da Lei Básica. É da sua má interpretação e má aplicação que resulta a sua violação, e, também, a violação da Declaração Conjunta.
Se os aplicadores da lei, designadamente da Lei Básica, são maus aplicadores, como ele diz, se fazem interpretações erradas, como ele diz, se com base nestas interpretações erradas se fazem leis más, que não cabem no tal conteúdo da Lei Básica, se a ultrapassam, então não estão a violar a lei?
Mas que tem a ver o conteúdo da Lei Básica e "o seguir" os termos da Declaração Conjunta com a sua má aplicação, com o mau uso que dela está a ser feito por quem governa e por quem tem de aplicá-la?
Então se num processo judicial o juiz interpreta mal a lei, se aplica mal a lei, ele não está a violar a lei? Então qual é o fundamento dos recursos, não é a má aplicação da lei, não é a sua violação? Se um juiz interpreta mal uma disposição da Constituição ou do Código Civil, então não está a violar a lei?
E desde quando é que a má aplicação da lei por um governante não é uma violação da lei? Então para que servem os tribunais administrativos?
Não sei em que qualidade falou, mas como advogado ou jurista não foi com certeza. Não sei como foi possível dizer o que disse. Que tristeza.
A TDM e a Fundação Rui Cunha prestaram um óptimo serviço à população, aos residentes de Macau e a Portugal. Porque as declarações proferidas são de uma grande desonestidade intelectual, devem ver ouvidas, e só podem servir para querer fazer dos outros estúpidos.
O falecido Presidente Jorge Sampaio deve andar às voltas na tumba. É preciso topete.
Compreendo que todos queiram saber o que se passa na sua terra. E também me parece pertinente que lhe seja dado algum destaque no espaço informativo mais importante do único canal de televisão em língua portuguesa. Só que daí até ao que se tem visto, começa-me a parecer um exagero sem sentido e sem qualquer justificação.
Refiro-me ao tempo de antena que é dado às conferências de imprensa dos Serviços de Saúde e às descrições detalhadas dos percursos de cada vez que aparece um infectado. Sim, um infectado. Ou dois, vá lá.
Um director de serviços agarrado a uma folha de papel a descrever minuciosamente todos os passos do infectado? O telejornal dando-lhe cobertura durante minutos a fio? Ninguém se enxerga?
Bem sei que somos candidatos a "Centro Mundial de Turismo e Lazer" com a dimensão e a mentalidade de uma recôndita paróquia transmontana ou beirã nos anos 50 do século passado, mas era escusado brindarem-nos com os números "CT" do pai, da mãe, da filha, e com a descrição detalhada da vida de cada um, do estágio que a filha está a fazer num restaurante, com indicação do nome deste, mais o que fizeram às 11:18, as carreiras de autocarros que utilizaram, e por aí fora. Podemos agradecer que não se fizessem acompanhar de animais de estimação, com o que nos pouparam aos resultados dos testes do canário e da tartaruga e ao percurso do cachorro quando foi à rua alçar a perna.
Enfim, se há momentos deprimentes em televisão, os do Telejornal da TDM, a propósito da situação epidémica, nalgumas ocasiões conseguem bater todos os recordes. Ontem foi um deles. Estavam lá ingredientes com fartura para se mudar de canal. A descrição detalhada e desinteressante para o público em geral, as imagens descoloridas num cenário vazio, o tom monocórdico, um tempo longo e vagaroso, a sensação de que nunca mais acaba a lengalenga, o martírio. E depois, quando a apresentadora regressa, as cores frias e distantes do fundo e a falta de gosto do painel também não ajudam. Cores mais alegres e mais quentes também são importantes para o estado de espírito de quem está em casa a ver. Ou em observação num hotel de quarentena.
Se em vez de um caso, de tempos a tempos, como tem acontecido, tivéssemos dezenas ou milhares de casos diários, iriam fazer o mesmo com todos? O director dos SSM não tem mais nada com que se entreter? Qual o interesse de durante largos minutos nos estarem a dar a vida do infectado e da família próxima? E a TDM tem de embarcar nisso? Isso não podia ser resumido? Qual é o critério editorial?
Tomem as medidas que se impõem, aprendam a viver com o vírus, evoluam, usem os neurónios. E poupem-nos a mais deprimência. Já basta como estamos.
Desta vez, a TDM está de parabéns. O documentário "In the footsteps of George Chinnery", que ontem foi exibido em horário nobre e cuja figura do artista já mereceu destaque publicitário na BBC, constitui um notável exemplo daquilo que deve ser o serviço público de televisão em Macau. O trabalho de Patrick Conner, pela forma inteligente e agradável como foi capaz de transmitir a vida do pintor e de dar a conhecer o essencial da sua obra, sem que com isso fosse menos rigoroso em relação aos factos, merece aplauso e deverá, se tal for possível, ser disponibilizado na íntegra através da Internet ou do YouTube, única forma de poder ser levado ao conhecimento de mais gente, dentro e fora de Macau. E, já agora, ser passado nas escolas de Macau como parte dos programas educativos para que a sua população juvenil seja menos ignorante em relação à sua própria história e à obra de um homem que, à sua maneira, internacionalizou e projectou a cidade e ao qual hoje todos devemos alguma coisa.
Algumas nunca deviam ser feitas. A gente fica sem perceber se o entrevistado não está preparado para dar entrevistas, se o entrevistador se preparou para fazer a entrevista ou se nenhum dos dois está preparado para o momento. Há perguntas óbvias que ficam por fazer, outras que não deviam ser feitas e respostas que são de tal forma polidas que seria uma mais-valia que não fossem dadas. No final, são mais as dúvidas do que os esclarecimentos e as conclusões. Para além da ocupação do tempo de antena, a TDM lá deverá ter os seus critérios. Eu é que não os conheço.