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por Sérgio de Almeida Correia, em 30.04.14

"Não haverá aumento de impostos ou esforço extra sobre salários e pensões", Maria Luís Albuquerque, 15/04/2014

 

"IVA sobe para 23,25%";

"A taxa contributiva, conhecida como TSU, vai aumentar 0,2 pontos percentuais para todos os trabalhadores, subindo, assim, de 11% para 11,2%";

"Pensões acima de mil euros pagam nova CES"

 

A Rádio Renascença, que deve andar mancomunada com a CGTP e o camarada Jerónimo, confirmou-me que, efectivamente, a ministra disse uma coisa no dia 15 de Abril e duas semanas depois acabou a dar o dito por não dito. Sei que o Governo também anunciou que os aumentos seriam só para 2015, que as previsões para o desemprego são mais optimistas do que as da troika e que em 2018 não haverá défice. Boas notícias, portanto.

Registo que com a mesma seriedade disseram antes que não iam cortar salários nem subsídios; que ninguém mexeria nas pensões; que o OE de 2012 foi condicionado, mas que o de 2013 é que já era deles. Enfim, a execução orçamental seria uma maravilha, a economia estaria a crescer no final de 2012, sem cortes, e por aí fora. Pelo caminho percebi que Passos Coelho se estava a lixar para as eleições. Os portugueses até nisto acreditaram e estoicamente tudo suportaram. Tinham motivos para isso.

Agora que tudo passou, que vêm aí as eleições europeias, que vejo os reformados e os trabalhadores muito mais aliviados nas suas pensões e salários, estou tão baralhado que entrei na fase em que acredito em tudo. Até na ministra.

Convenci-me, sabe-se lá porquê, como diz o exagerado do Pedro Santos Guerreiro, que "o martírio é agora diferente". Exultei com a boa nova. Estou tão esperançoso com o futuro dos meus compatriotas e do meu longínquo Portugal que não sei se compre uma garrafa de champagne. Ou, estou indeciso, se aproveitarei o facto de estarmos no Primeiro de Maio para acender uma vela à família Pingo Doce e encomendar uns panchões para celebrar as conquistas deste novo Abril, quarenta anos depois.

De qualquer modo, penso que os portugueses vão ficar satisfeitos. As coisas estão a compor-se. Tanto mais que agora vem aí mais um grupo de trabalho para transformar Portugal numa enorme cozinha, cheia de pançudos e de estrelas Michelin, há todos os motivos para celebrar.

Para os mais cépticos - sim, porque nestas ocasiões aparecem sempre uns tipos a desfazer estas conquistas -, e de maneira a que o martírio se torne ainda menos doloroso e se transforme em prazer, pois que já se sabe que apesar das iguarias só ficaremos limpos lá para 2018, o melhor mesmo é os portugueses estarem preparados para o que ainda aí vem. E ouvirem tudo com muita atenção. Os sorteios de carros do fisco já ninguém os tira, mas não tarda e o ministro Paulo Macedo, já me confidenciaram, anunciará com o seu à-vontade de fadista o aprofundamento do estado social e a compartição integral do Serviço Nacional de Saúde na aquisição de bisnagas de vaselina. Este Governo sabe que quando se trata de abrir alas para a entrada dos clisteres que nos irão ajudar a libertar as gorduras e reformar o Estado, não há nada como ter alguém que zele por nós, garanta os cuidados paliativos e nos facilite o martírio.

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