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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Um tipo ainda está a recuperar da inqualificável gestão política feita por João Soares para substituir António Lamas no Centro Cultural de Belém e eis que temos a ex-ministra a gerir a dívida que andou a ser vendida por Portugal e pelo BANIF aos seus novos patrões.
Foram-se os anéis, os dedos e a vergonha. Agora é tudo muito mais limpinho, mais transparente. Perdido o período ficamos só com o nojo.
"Mas o que sobressai são as aplicações financeiras que António Varela, que tem uma larga carreira no sector financeiro e foi indicado pela ministra das Finanças para o cargo que actualmente exerce, possui em diferentes bancos. De acordo com o documento, que, como manda a lei, chegou ao Palácio Ratton após a nomeação, o gestor detém 1357 acções do Santander e uma acção do BCP, além de títulos de outras cotadas portuguesas, como a Mota- Engil e a Portugal Telecom. E é ainda dono “de metade”, como o próprio refere, de outras 506.261 acções do BCP, de 37.824 do suíço UBS, de 1253 do Santander Central Hispano, de 110 do Deutsche Bank e de 25 acções preferenciais do Banif (com o valor nominal de 1000 euros).
O portefólio de investimentos do administrador do Banco de Portugal abrange ainda obrigações (dívida) de diferentes entidades, incluindo uma do Santander US, com um valor de 100 mil euros, duas do BCP (avaliadas em 50 mil euros cada), uma do BBVA no mesmo montante e ainda 50 do Banif (a 1000 euros cada). António Varela também é detentor de obrigações de outras empresas, como a EDP ou a Telefónica, tendo investido igualmente em dívida grega.
A carteira declarada ao Tribunal Constitucional estende-se ainda a participações em diversos fundos de investimento, alguns dos quais rela- cionados com a evolução de títulos da banca, de divisas ou de dívidas soberanas. (...)" - Público, 21/04/2015, p. 18
Como é possível transmitir uma imagem de seriedade e confiança aos portugueses - já nem falo em garantir a isenção e a independência de actuação e decisão - quando se nomeia para regular quem tem interesses naquilo que regula?
"Ao todo, 16 membros do Governo de Passos Coelho assistiram com particular atenção ao desmoronar do império Espírito Santo. Alguns têm contas acima de 100 mil euros no BES. Juntos, têm um milhão de euros em aplicações, fundos, carteiras, banca-seguros e títulos. Um exemplo da importância dos biombos é a decisão tomada em Conselho de Ministros em plena crise do BES: até onde se deveria proteger quem tinha poupanças no BES? Todos os depositantes ou só os que tinham menos de 100 mil euros, como estipula o novíssimo regulamento europeu? O Governo decidiu que tanto os pequenos como os grandes depositantes deveriam ficar a salvo". Editorial, Público, 27/10/2014
Juízes todos somos, uma vez ou outra, na vida. A começar quando julgamos aquilo que nos diz respeito. E nessas alturas somos juízes em causa própria. Com transparência. Porque decidimos e assumimos o risco da decisão. Seja na escolha da profissão ou na escolha do cônjuge. A situação é diferente quando se decide uma intervenção num banco e há membros desse mesmo Governo que vai decidir a intervenção, e o respectivo modelo, que têm contas superiores a cem mil euros na instituição em risco. Aqui o risco corre por conta de terceiros, dos contribuintes, ou por outros que sejam chamados a entrar com a massa. No fim safar-se-ão todos. Os pequenos, os assim-assim e os grandes. Os que decidiram e estavam com o seu dinheiro em risco também. Alguém há-de ficar para pagar a factura. No escuro.
Um tipo lê as coisas que o Tozé agora deu em dizer e no fim só pode tirar uma conclusão. Quando o rapaz estava a dissertar sobre a promiscuidade entre os negócios e a política, quando se referia à linha de fractura entre a nova e a velha política, ao clima de podridão e às meias-tintas, à mistura entre negócios, política e vida pública, afinal não estava a referir-se ao Costa, nem aos gajos da capital que olham com desdém para os que vêm da província. Mas a mandar um recado aos seus apoiantes. Com muito afecto, é claro. Apesar da senhora presidente da Comissão Parlamentar de Saúde não ver nisso qualquer incompatibilidade. Incompatibilidade, para falar verdade, também não vejo. E penso que estas coisas devem ser assumidas sem meias-tintas, de preferência usando a mesma conta bancária para se receber o salário e os bónus que aquela malta (estou a conter-me) foi distribuindo generosamente à gente simpática, educada, disponível e compreensiva do centrão. Vejo é semelhanças. Muitas. Entre o que ele e Passos Coelho dizem e fazem. Como já via com um outro figurão ou com Cavaco Silva. Sempre com o ar mais sério e generoso do mundo. É a política com "p" pequenino. Com "p" de "portugal". De "ps", de "política". E também de muitas outras palavras começadas com "p", sobejamente conhecidas do Tozé, que me abstenho de enumerar para não estragar o domingo a quem tem a bondade de me ler.
Fernando Seara anunciou a sua candidatura à Liga de Clubes. Ainda não fez um ano que foi eleito para exercer o lugar de vereador da Câmara de Lisboa para um mandato de quatro anos e já está a preparar-se para dar o salto, uma vez mais deixando enganados os eleitores que o elegeram para cumprir o mandato, depois de ter jurado a pés juntos que iria ficar na autarquia.
O homem que desde há anos é especialista em todas as áreas, nunca dando o dito por não dito, do comentário televisivo futebolístico à presença assídua em jornais, sem esquecer a militância política, primeiro no CDS, depois no PSD, passando pelo exercício de cargos partidários, parlamentares e autárquicos, a advocacia, gabinetes ministeriais, o exercício da docência e o conselho de opinião da RTP; e que ficou ultimamente conhecido por liderar o "comboios dos parolos" no Copacabana Palace, predispôs-se agora a ocupar a presidência da Liga de Clubes.
Os benfiquistas até podiam ter razões para estarem satisfeitos. Eu desconfiaria. O candidato é a imagem acabada da demagogia populista e um espelho da proximidade entre a política, a bola, a construção civil e a comunicação social. Por mais sério que seja, e consta que nesse aspecto é irrepreensível, é um daqueles casos em que a personalidade pública e o currículo académico, profissional e político acabam por falar contra si. Não por ser irrelevante, mas pela polivalência. Pela facilidade com que num estilo moluscóide salta de um lugar para outro e a tudo se adapta com um sorriso e uma palavra simpática. Se a tudo isso juntarmos uma passagem por um colégio universitário ligado aos franciscanos e uma escola militar, está encontrado o homem ideal para nadar no pântano do futebol nacional, fazendo acordos com o mesmo à-vontade a norte e a sul, no interior e no litoral.
Pelo menos desta vez não corre o risco de voltar a ser humilhado nas urnas com a camisola do PSD. Basta-lhe fazer as habituais promessas e negociar apoios, coisa que já começou a fazer prometendo um rendimento mínimo para os clubes e um pacote fiscal, tanto mais que a troika já fez as malas. Para quem diz que vai unir e credibilizar parece-me um mau começo. Ou bom, dependendo da perspectiva. Unir é capaz de conseguir, nem que seja pela distribuição de euros em tempo de vacas magras. Credibilizar, com o seu currículo e exemplos recentes, é que será outra conversa. Se no fim faltarem os euros para distribuir a culpa será do Governo, dos clubes, de alguém lá mais para a frente. E assim se vai perdendo o talento e o que ainda restava de simpatia pela personagem.