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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Se Maio é o mês da França, Junho é, desde há alguns anos, o mês de Portugal em Macau e Hong Kong. Uma feliz iniciativa, primeiro em jeito de experiência, que acabou por se consolidar e tornar-se num evento anual.
Há um programa estruturado de manifestações, aproveitando-se essa coincidência do calendário gregoriano juntar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Dez de Junho, com as festividades dos Santos Populares num curto período de trinta dias, que nos transporta da história à gastronomia, à língua, à literatura, à história, à música, à pintura, à fotografia, à arte e à cultura em geral.
Divulgando-se Portugal, aproxima-se o país de outras comunidades, estimula-se o debate, promove-se o conhecimento, ajudando-se à renovação e à troca de ideias, à partilha de experiências, conhecimentos e projectos, em particular numa região e numa pequena comunidade em que a discussão está cada vez mais ausente, a intervenção social e cívica é reduzida, pouco participada e, ultimamente, temida pelas consequências que pode acarretar, social e profissionalmente, sujeitando a nossa rica e saudável multiplicidade lusíada a cingir-se e acomodar-se à pequenez dos interesses mais imediatos, ao cinzentismo medíocre da intriga e da conformação bolorenta e interesseira ao quotidiano, aos interesses económicos e à satisfação de egoísmos circunstanciais.
Daí que seja de saudar o início do ciclo de “Conversas no Consulado” com a participação esclarecida, livre, arejada e sempre desempoeirada da Professora Elisa Ferreira, assim se aproveitando a sua presença em Macau no âmbito de um programa universitário do Instituto de Estudos Europeus.
A sua intervenção, passando brevemente em revista o Portugal dos últimos cinquenta anos, dos sucessos democráticos às encruzilhadas do presente, olhando para os números, para as nossas relações internacionais e desafios que se colocam ao país, interna e externamente, foi uma pequena oportunidade para nos voltar a fazer pensar e discutir Portugal em português, numa sessão que se prolongou por mais de duas horas e em que ninguém deu o seu tempo por desperdiçado.
Com um currículo notável qualquer que seja o prisma de análise, Elisa Ferreira, para além das suas qualidades pessoais e académicas, constitui uma das poucas mais-valias que o país possui numa cada vez menos qualificada e menos competente elite política. Economista pela Universidade do Porto, doutorada por Reading, professora universitária, deputada, parlamentar europeia, ministra por duas vezes em pastas exigentes, administradora e vice-governadora do Banco de Portugal, tendo sido Comissária Europeia para a Coesão e Reforma entre 2019 e 2024. Currículo não lhe falta e não precisa de ser inventado à última hora.
Numa altura em que tanto se fala da ausência de candidatos presidenciais credíveis, que saibam falar português e consigam transmitir as suas ideias numa linguagem clara e acessível, sem uma postura paternalista e que possuam formação académica de nível, experiência profissional qualificada, com intervenção política e governativa competente e reconhecida, dentro e fora do país, Elisa Ferreira é uma pessoa conhecedora da Constituição, das leis e das instituições que nos regem.
É capaz de falar sem teleponto, e, em especial, possui um pensamento estruturado, ideias claras e arrumadas, consequentes, informadas, sensibilidade social e política, e uma visão civilizada, moderna, europeia, equilibrada e actual de Portugal e do mundo. E sendo uma independente, estou certo de que a Professora Elisa Ferreira daria uma excelente candidata presidencial.
Se a isso juntarmos o facto de ser mulher e mãe, ter uma visão distante do centralismo tecnocrático, burocrático e bafiento do país misógino e subserviente de um passado que alguns querem à viva força recuperar, não lhe faltam qualidades que a recomendem para ser a mais alta magistrada da nação.
Uma candidatura de Elisa Ferreira à Presidência da República seria uma lufada de ar fresco em Belém, uma esperança renovada para Portugal e os portugueses.
Oxalá que ela possa reflectir sobre isso, esteja disponível para prestar mais esse serviço ao País, e haja quem seja capaz de convencê-la.
(Foto de Pedro A. Pina, RTP)
Eu já estava admirado com a sua ausência. Pensava que o homem se refugiara num retiro sabático no Copacabana Palace ou no Polana até depois das eleições, mas compreendo que não quisesse desiludir ninguém e eis que resolveu aparecer a tempo de dar uma mãozinha na recta final da campanha. Depois de ter pedido o apoio no Conselho Nacional do PSD ao candidato "independente" do partido e de ter conseguido a aprovação de uma recomendação desse mesmo Conselho Nacional para o voto no candidato "independente", eis que Miguel Relvas surge em força na recta final da campanha das presidenciais. Sei de fonte segura que o Prof. Marcelo ficou entusiasmadíssimo com esta aparição e prepara-se para logo à noite agradecer o empenho do apoiante.
Especialistas na arte de baralhar, partir e voltar a dar há poucos. Em Portugal é uma das profissões mais reconhecidas publicamente, mais bem pagas, e que para além de uma boa agenda telefónica, alguns contactos ao mais alto nível e muita lata, não exige especiais qualificações. Com as voltas que a banca dá, se o Prof. Marcelo for eleito ainda vamos ver o apoiante a ser recebido em Belém. Na qualidade de banqueiro, pois claro, que isso sempre dá outro estatuto.
Faz agora três meses que o assunto começou a ganhar força. O pretexto foi o lançamento de um livro, devidamente enquadrado por uma entrevista à Sábado e, que me recorde, uma notícia do i. Entretanto, Santana Lopes também assomou fugazmente à varanda. No passado dia 12 de Agosto foi a vez do Público retomar o assunto. De mansinho, enquanto não disparam os nobres e as aves de capoeira, os presidenciáveis começam a ocupar os seus lugares.
António Guterres tem vários pontos a seu favor. Não é um arrivista, tem educação - coisa que muitos políticos no activo não têm -, apresenta pergaminhos académicos insusceptíveis de discussão nas primeiras páginas de alguns jornais que misturam assuntos sérios com o silicone que levou ao rompimento de noivados, possui experiência governativa, não fala com a boca cheia, não usa fatos castanhos, consegue comunicar em várias línguas, e, o que não é desprezível, sabe ler e escrever em português decente. Para além disso, é reconhecido fora de portas, mostra um currículo com uma vasta experiência internacional e os pergaminhos de uma carreira na ONU à frente de um cargo particularmente difícil e exigente como é o ACNUR. Acima de tudo, tal como Santana Lopes, é um homem sério, não constando que ande por aí a amealhar para a reforma e as peúgas com as acções que o primeiro vendedor de castanhas lhe ofereça.
Contra si pesa, ainda, a imagem que deixou quando bateu com a porta do Governo e do PS, após umas autárquicas pouco conseguidas, uma proximidade à Igreja Católica vista por alguns sectores como excessiva, para já não falar na dificuldade que tem em fazer contas complicadas com microfones à frente.
Todos sabemos que as funções presidenciais são bem diferentes das de um primeiro-ministro, e que o facto de um indivíduo não ter sido um excelente primeiro-ministro, com excepção de um caso conhecido, não o transforma num Presidente sofrível. Em especial se tiver um mínimo de bom senso, a noção de que a Terra é redonda e de que o Sol não gira à volta do Palácio de Belém.
Guterres tem boa imprensa - tal como Cavaco Silva no seu tempo e Passos Coelho ainda mantém -, mas para conseguir ser bem sucedido vai ter de se afastar da imagem que deixou no espírito de muitos portugueses de ser um "mole" demasiado palavroso. O ACNUR deu-lhe outra dimensão e mostrou que é um homem que não foge à luta, sendo capaz de compreender a dimensão do sofrimento humano. Quanto à segunda parte, se quiser fazer o caminho, vai ter de ser mais poupado nas palavras de cada vez que tiver de falar.
Pedro Santana Lopes, como qualquer pessoa normal, tem virtudes e defeitos. Considero que o seu governo foi um desastre, que nunca deveria ter aceitado a pasta nas condições em que Durão Barroso a passou; e para fazer um "jeito" ao seu partido, ao incumbente que estava de saída e, pensava ele, prestar um serviço a Portugal, enfiou-nos num buraco do qual só Jorge Sampaio nos tirou. Todos sabemos o que veio a seguir e que ainda hoje persiste, pelo que sobre esta última parte poderemos falar noutra altura.
Mas tirando esse episódio, e alguns outros menos conseguidos na Secretaria de Estado da Cultura ou na Câmara Municipal de Lisboa, o ex-primeiro ministro tem três características que eu aprecio em qualquer pessoa. Mais ainda num político. É inteligente, frontal e corajoso. É evidente que tudo isso junto não chega para fazer um bom líder ou um bom governante, menos ainda um bom Presidente, mas confesso que às meias-tintas, à dissimulação e sonsice de alguns que nunca se definem e vão mascando pastilhas, prefiro tipos como ele que se chegam à frente e dizem que estão presentes.
Ficamos todos a saber com o que contamos, as coisas ficam claras e os coelhos são obrigados a sair da toca para não levarem com o chumbo dentro dela