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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(foto: Rodrigo Antunes/LUSA, daqui)
A decisão do primeiro-ministro de manter em funções – admitamos por hipótese académica que contra a vontade do próprio – o ministro das Infra-estruturas, João Galamba, marca o fim de um ciclo e o início de outro, numa espécie de bailado a dois tempos.
Pouco importa saber se, como dizem alguns articulistas, os portugueses foram colocados perante uma encenação, ou várias produzidas todas ao mesmo tempo. Certo é que, desde ontem, a coabitação entre o Presidente da República, um encenador nato, e António Costa mudou de figura.
Se, por um lado, tivemos uma afirmação de princípio e de liderança por parte do líder do governo, por outro passamos a ter um Presidente enfiado numa camisa-de-onze-varas.
Convenhamos que Marcelo Rebelo de Sousa, até agora, e penso apenas no segundo mandato, tem sido igual a si próprio, discursando aqui e ali, lançando avisos e atirando reprimendas, dando uma no cravo e outra na ferradura sempre que pode, distribuindo sorrisos e selfies pelo povinho, colocando-se sempre no centro das atenções, como se fora um exímio e contentinho bailarino, com o seu palco e o seu público, muito popular e em permanente exibição, tão depressa embarcando num corridinho para logo a seguir envergar colete, cinta e barrete e fugir para um fandango, antes de se embrenhar num vira e receber os aplausos das moçoilas rosadas e viçosas. É a sua pele, é a sua natureza, e contra isso pouco ou nada se pode fazer.
António Costa, foi e continuará a ser criticado pela sua decisão. Porém, neste momento, depois de tudo o que assistimos, a presença de Galamba no Governo, tirando o facto de se ter tornado num nado-morto político, pouco ou nada o afectará. Nem ao desempenho do Executivo.
A borrada está feita, não há como esconder o urso com um lençol, e o remédio é, sem esquecer a monumental galambada e a vaia que lhe sucedeu, seguir em frente e procurar tirar partido da conjuntura para segurar as finanças públicas e colocar o país num patamar superior, controlando a inflação, criando emprego, "inventando" um aeroporto para as cercanias de Lisboa, enfim, fazendo render o maná de fundos europeus colocados à nossa disposição com horizonte numa remodelação cada vez mais indispensável.
O fantasma da dissolução poderá continuar a pairar por aí, sem prejuízo de Montenegro – não se riam – estar embrenhado na preparação, de “forma preliminar”, de um novo governo, em caso de eleições antecipadas, o qual admite ser minoritário (vd. Diário de Notícias, de hoje, p. 5), o que diz bem sobre a sua figura, noção de estabilidade política, confiança que pode transmitir aos portugueses numa altura de crise como a que atravessamos – só pode ter estado à conversa com Miguel Relvas e o Santana da Figueira – e a ideia (qual?) do que poderá vir a fazer nessas circunstâncias.
Bem sei que o líder do PSD se reuniu com Rui Rocha, mas depois daquela outra manifestação, misto de ingenuidade política e espírito de surf fácil, de que a Iniciativa Liberal começa ultimamente a dar mostras, com a visita de um tal de Tiago Paiva à Assembleia da República, que acabou com um pedido de desculpas e um vídeo no YouTube, não será fácil recuperar o que tem vindo a perder em tão pouco tempo para conseguir dar uma imagem de um pouco mais de seriedade para quem aspira ser o fiel da balança.
Chega, Bloco de Esquerda e PCP continuarão sem saber muito bem o que fazer. Se o primeiro se dedica às suas especialidades, berrar sem sentido enquanto promove garraiadas parlamentares e os marialvas lançam piropos e insultam quem passa, já o BE continua à procura de uma liderança e de uma agenda, vendo “a juventude” do PCP discutir, na mesa dos fundos, a queda do Muro de Berlim e as teses para o próximo congresso.
O panorama não é brilhante. Prever o futuro também não é a minha praia.
O baile ainda não acabou, o espaço não abunda no palco e há muita gente aos saltos. Porém, de uma coisa poderemos estar todos certos: não vai ser fácil perceber quem, a partir de agora, estará disposto a querer brincar aos governos antes de sair de cena, de ser “remodelado” ou de ir a votos.
Bem sei que agora será mais difícil ver o Aramis do brinco por aí, de espada em riste, em duelos de norte a sul, sendo por isso mais difícil admitir que algum dia chegará a superior geral dos jesuítas do Rato. Mas se ainda tiver aspirações a tal, convém que não se esqueça que Augusto Santos Silva já está de volta da Ucrânia, não se sabendo quando irá à Venezuela; Carlos César tem uma especial apetência por microfones; o ministro Adão e Silva, além de especialista em rock alternativo, possui uma vasta experiência a virar discos nas noites de Lisboa, e o SIS pode sempre voltar a emitir um comunicado se lhe disserem que de uma janela de São Bento saiu um computador a voar. Ele que se cuide.
Quanto ao Costa, a partir de agora é usar um capacete. Daqueles amarelos das obras. Já o tenho visto com alguns, e sempre a rir-se. Até ver.
Pois é, contra factos não há argumentos. Má vontade sim, há muita. E "cotovelite aguda".
"El Benfica personifica la nostalgia y el alma de un pueblo, incluso de aquellos que no son aficionados del club. Esto se siente especialmente cuando uno sale de Portugal. No hay en todo el mundo un club así. Además el Benfica tuvo y tiene a Eusébio. También el Real Madrid tuvo a Alfredo di Stéfano o Manchester United a Sir Bobby Charton. Pero Eusébio era otra cosa. Eusébio no era argentino ni inglés. Eusébio era africano, de Mozambique, lo que representaba la vocación universal del Benfica. Eusébio era un chico pobre y humilde con un talento incomparable. Eusébio cargó sobre sus hombros a todo un pueblo en el Mundial de 1966. Y lloró. Las lágrimas de Eusébio dieron la vuelta al mundo y lavaron el alma de todos los portugueses que sufrieron con él." - Revista Líbero, Marzo 2016
O problema de algumas situações, como a que José António Cerejo dá conta nas páginas do Público, não é, como lhe chamaram os senhores juízes, a "falta de consciência da ilicitude". Num país como o nosso o mais comum é a "falta de consciência do esquema", que é a qualificação e a figura jurídica adequada para essas situações que decorrem do chico-espertismo nacional. De facto, se há umas coisas que só o coração alcança, há outras que não estão ao alcance nem deste nem da razão. E há, ainda, umas outras, como é o caso de toda a história relatada e o simples percurso "profissional" do rapaz, que só estão ao alcance do "esquema". Aliás, como é próprio de um país de esquemas, cunhas e compadrios.
1. Não vejo qual seja o problema de o estudo ter sido coordenado por um economista que um desses avençados já “rotulou” de "liberal". Se fosse socialista era porque era socialista, como é “liberal” e com formação numa prestigiada universidade norte-americana também não serve. Parece-me que o fundamental é que o trabalho, esse ou qualquer outro, seja feito por gente capaz, conhecedora e competente, se possível recorrendo a um leque alargado de pessoas com diferentes visões e experiências de vida. Só assim se poderá encontrar uma solução que sirva aos portugueses e os retire da situação humilhante em que os governos de Sócrates e de Passos Coelho os colocaram.
2. As ideias pareceram-me interessantes e em linha com aquilo que penso em termos globais. Se os números batem certo ou se são atingíveis é outra questão. Como não sou um especialista na matéria, tal como a maioria dos portugueses, deixo isso a quem sabe e confio na seriedade das apreciações que aqueles que me merecem confiança e se dedicam a estudar as questões irão fazendo.
3. Seriedade é coisa que não existe em gente que ainda antes do final da apresentação do relatório, sem o ter lido, já o comentava e desvalorizava as propostas efectuadas. A falta de seriedade de alguns políticos é mais grave do que a sua cegueira ideológica. Como hoje o Público escreve, “[o] deputado Matos Correia não esperou para ler o documento para afirmar que, “se o caminho miraculoso que o PS descobriu tivesse pés para andar, não havia nos países da Europa comunitária a tendência que tem vindo a ser seguida do ponto de vista da consolidação orçamental e da sustentabilidade”.
4. Depois, vir afirmar a fraca qualidade das propostas com base em argumentos como aquele que já vi referido de que se António Costa não sabe tratar das contas do partido e o PS vai pedir um empréstimo à banca para resolver a sua situação interna é porque também não saberá tratar do país, é esquecer que em Novembro de 2014 já o Observador escrevia que ele iria herdar do antecessor mais de 10 milhões de dívida, e que o próprio PSD, até há bem pouco tempo, antes de começar a capitalizar com a ida para o Governo, era o partido mais endividado do país. Com este nível de argumentação, típica de quem cospe para o ar, e susceptível de ser acolhido e aplaudido pelos comentadores blogosféricos de algumas remotas freguesias do interior, bem podem limpar as mãos à parede.
5. Ficarei à espera dos comentários dos entendidos e de todos aqueles que não sendo especialistas leram o documento antes de falar para poderem formar uma opinião esclarecida. Eu também tenho de ser convencido da bondade e exequibilidade das propostas.
6. Aquilo que vivamente aconselho, permitam-me a sugestão, é que alguém que soubesse português, antes de divulgarem e colocarem para consumo no espaço público relatórios deste tipo, procedesse à revisão do texto. Já bastava terem-no escrito em “acordês”. Que tenham pedido a colaboração de um deputado jotinha, presumo, para separar os parágrafos e colocar a pontuação, é que era de todo despiciendo. Seria uma lástima que o Programa de Governo do PS saísse assim, permitindo às pessoas pensar que teria tido a colaboração de um conhecido deputado do PSD que escreve para o Expresso. Ou que pudesse vir a ser criticado por alguém, em razão desse facto, independentemente da justeza das medidas.