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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: SCMP)
Macau é por estes dias a cidade dos palpites. Para alguns será mais das palpitações. O caso não é para menos.
Passada a fase em que os oligarcas e "talentos" da terra apostavam na continuidade de Ho Iat Seng, acreditando este que também seria o ungido por Pequim, e apanhados com "as calças na mão" perante a surpresa da escolha de Sam Hou Fai, são agora muitos os palpites segredados de futuras escolhas para os lugares da equipa governativa vindos por estes dias de todos aqueles que, embora participando na eleição, se viram marginalizados.
Colocados à margem, ou despachados para lugares de segunda linha onde se limitam a fazer prova de vida pelas piores razões, quando ainda se julgavam os detentores das verdades oficiais e dos segredos da corte, viram-se de repente obrigados a engolir toda a espécie de sapos e de insectos voadores e rastejantes para primeiro subscreverem e depois aplaudirem a eleição pelos membros da Comissão Eleitoral do futuro Chefe do Executivo.
Antecipam-se partidas, passagens à reforma, umas mais apressadas do que outras, enquanto não chega a chuva para lhes ensopar os sapatos, as calças e as saias.
Certo é, também arrisco aqui o palpite, que a equipa governativa está escolhida e a preparar-se para os urgentes trabalhos que a esperam, inteirando-se dos dossiês, recolhendo informação, trabalhando silenciosamente, e procurando arrumar as peças no tabuleiro antes deste ser conhecido da população.
O Dr. Sam Hou Fai precisa de ter a certeza de saber com quem é que conta para não correr o risco de ver torpedeada a sua acção governativa. Alguns "patriotas", disfarçadamente, começarão, como sempre fizeram no passado, a tentar atirar areia para a engrenagem. Tentarão encostar-se ao futuro CE para evitar que este tire dos armários os esqueletos herdados, os coloque à luz do dia e limpe os cantos à casa. Como a população anseia e terá de ser feito.
Conhecendo Macau, o novo CE sabe onde estão os estrangulamentos no funcionamento da máquina administrativa e judicial, quais as reformas que se mostram imperiosas executar, e como voltar a dar trabalho ao IAM, agora que algum mobiliário inútil será dispensado e substituído por peças mais funcionais.
E também sabe que terá de se descartar dos vários Sir Humphrey Appleby que ainda por aí circulam, estando impedido de entregar funções de comando à nobreza terra-tenente, entretanto desapossada de alguns bens que lhes iam permitindo especular e acumular ao mesmo tempo que empobreciam a RAEM. Os comícios da Nam Van e associados acabaram. O Beijing Imperial Palace Hotel, que de imperial não tinha nada, a não ser o mau gosto, e de palácio ainda menos, verá finalmente o camartelo que o deitará abaixo. De igual modo, não vai haver mais nenhuma ideia peregrina para reinterpretar a Lei de Terras. A interpretação autêntica é a única admitida.
Creio que particular atenção será dada à Fundação Macau, na linha do que se começou a fazer no mandato do CE ainda em funções; bem como ao trabalho de algumas associações que se especializaram em cobrar contrapartidas leoninas a quem precisasse dos seus serviços, embora recebessem ao mesmo tempo financiamentos públicos exorbitantes. O novo Hospital Macau Union, mais conhecido como Hospital das Ilhas, contribuirá, assim se espera, para se moralizarem algumas prestações de serviços médicos elevando a qualidade da oferta.
A campanha do candidato eleito deixou muitas pistas sobre a sua acção futura. As suas palavras e o modo como se conduziu pareceram-me claríssimas. Só não viu quem ainda acreditava no Pai Natal. Sam Hou Fai tem ideias claras, não deixou a população durante semanas a fio sem saber o que pensava em relação às principais questões que tem de resolver, sabe o que o espera e o que tem de fazer.
Apesar disso, há quem queira reinterpretar as suas palavras. E ainda sonhe em ver escorrer algum melaço por debaixo das portas da Praia Grande. Não haja ilusões. O Dr. Sam Hou Fai é um homem regrado, seco e disciplinado.
E sabe que uma equipa de gente com uma prol imensa de dependentes, obesa, com problemas cardíacos, hipertensão, gota e diabetes nunca poderá funcionar bem. E tem mais dificuldade em mexer-se, cumprir em tempo útil as tarefas que lhe serão distribuídas, subir consecutivos lances de escadas ou acompanhar as limpezas que se aguardam, colocando termo à reprodução do baratame e da rataria.
O que, convenhamos, em circunstância alguma constituirá obstáculo a que usufrua de uma boa garrafeira. De preferência com vinhos tintos de excelência, que ele bem precisa de se inspirar ao serão enquanto pensa nos problemas que tem pela frente para resolver em várias línguas.
Em chinês, em português e em inglês. Espera-se que o faça sempre com frases curtas e simples. Para a mensagem poder chegar a todos os destinatários sem problemas de tradução. Mesmo em chinês, porque há quem só domine o cantonense e continue com dificuldades evidentes na articulação do mandarim. E também na leitura do chinês simplificado, evitando-se que confundam, na leitura dos despachos e das instruções, os reminbis com euros ou estes com os dólares de alguma contabilidade mais criativa.
Mas sabendo-se que há imenso para fazer, e com urgência, e que as traduções são caras e morosas, não se pode correr o risco de notificar as pessoas numa língua que não entendam. Ainda que alguns sejam "bandidos". Porque esta é a parte que, ainda assim, dói mais.