Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Um belíssimo texto da Ana Sá Lopes, no Público de hoje, fazendo justiça àquele que foi o mais sério, mais culto e mais bem preparado Presidente do Portugal democrático, o que todavia não me faz esquecer o chorrilho de asneiras em relação a Macau, designadamente quanto a esse espécime que se refugiou na Quinta Patiño, e pelas quais os residentes estão a pagar os juros da incompetência e da pesporrência.
p.s. Eanes foi igualmente sério e desligado do poder, mas foi Presidente quando os militares ainda condicionavam a democracia portuguesa, visto que só com a alteração e a aprovação de uma nova Lei de Defesa Nacional, quando Freitas do Amral foi ministro da Defesa, é que o país se civilizou e se tornou definitivamente, espero, numa democracia adulta. Tiveram papéis diferentes, ambos igualmente importantes.
Desconheço em que dados (científicos) a autora se baseou, porque não os apresenta, para concluir que "[e]xiste, no mundo ocidental, uma generalizada desconfiança e um generalizado desencanto com a Democracia".
Não sei mesmo de que "mundo ocidental" fala, nem se Hong Kong, por exemplo, cabe nesse seu conceito, percebendo-se pela prosápia que a articulista confunde o desencanto com os partidos e os dirigentes políticos com o desencanto com a democracia.
É natural que assim seja para quem veio dos cafundéus do marxismo-leninismo.
Não sei se em breve nos brindará com um texto em que concluirá supinamente pela excelência das conquistas dos regimes autoritários e totalitários, certamente os mais adequados à gestão de sociedades globalizadas, de ciganos, negros e refugiados económicos.
Mas em dia de aniversário do Público, sabendo-se do contributo que este jornal deu para que os órfãos do maoísmo pudessem pregar nas suas páginas as virtudes do liberalismo puro e duro e do capitalismo desenfreado, mantendo o seu espaço na imperfeita democracia que ainda assim construímos, nada melhor do que o texto de hoje a questionar a adequação da democracia aos tempos da globalização.
Enquanto o People's Daily não promover a tradução para chinês, deixo aqui o link para a bonifácia homenagem aos trinta anos do Público. Um jornal, como se escreve no editorial desta manhã, "que não prescinde de cultivar a diversidade de opinião", o "cimento das sociedades livres".
Melhor homenagem e prova da sua importância na construção de uma sociedade plural, tolerante e democrática, e num mundo globalizado, não poderia haver.
"O dever de escrutinar o poder político, seja o Governo ou a oposição, dá cada vez mais lugar à produção de anátemas ou de certezas sectárias que menosprezam a exigência, a defesa do interesse público ou a factualidade verificada. A crescente propensão, muito inflacionada pelas redes sociais, de se analisar o que se publica a partir de trincheiras ideológicas, partidárias ou clubísticas estimula o vazio onde germina o populismo, a xenofobia e os radicalismos. A pós-verdade e/ou a verdade pessoal, relativa e insusceptível de questionamento, ganharam terreno. A crise da imprensa é em grande medida um espelho da crise do espaço público – mas, reconheçamo-lo, é também, e com excessiva frequência, uma das suas causas". – Os compromissos da Direcção Editorial
O respeito que tenho pelo jornalismo feito por profissionais íntegros e de mão cheia, por uma imprensa livre, descomprometida com o poder e os seus mainatos, e o gosto que tenho em ler um jornal bem feito, bem escrito, de preferência em formato papel, e ainda a cheirar a tintas, não me permitem que deixe passar este momento sem lhes dirigir uma palavra. Curta, necessariamente, porque só o correr dos dias, dos meses e dos anos nos mostrará se o seu compromisso foi respeitado.
Estou convencido de que não deixarão ficar mal quem como eles ainda acredita.
Oxalá tenham sucesso e consigam levar avante o seu projecto. Por isso desejo a todos os que irão fazer o jornal a partir de agora, mas em especial a Manuel Carvalho, Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes e Tiago Luz Pedro, as maiores felicidades.
Portugal precisa mais do que nunca de um jornal sério e credível. Nós cá estaremos para escrutinar o seu trabalho, criticando e aplaudindo sempre que o mereçam.
Bom trabalho.
P.S. E se não for pedir muito, que acompanhem a situação que se vive em Macau com a atenção, a exigência e o rigor que a situação actualmente vivida exige.