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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
"A história do Novo Banco é conhecida, tem quase seis anos. No final de 2014, com a perspectiva de eleições em Outubro, a ex-ministra das Finanças de Pedro Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, impôs ao BdP a venda rápida do Novo Banco. E a equipa do supervisor, liderada por Carlos Costa — que seria reconduzido pela ministra em Julho de 2015 —, encarregou o BNP Paribas de encontrar um comprador para o Novo Banco. Foi a primeira tentativa de o vender.
No final de 2014 e início do ano seguinte, foram produzidos pelo menos dois documentos, concebidos por entidades internacionais diferentes, BNP Paribas e auditora PwC, ambos por encomenda do BdP, que contrariam os fundamentos das sucessivas injecções de capital pedidas pelo Novo Banco ao Fundo de Resolução, depois da mais recente venda ao Lone Star, e que já totalizam 2,7 mil milhões de euros, dos quais 2,1 mil milhões de empréstimos do Estado.
E isto, porque o actual presidente executivo, António Ramalho, desde a venda ao fundo norte-americano, tem vindo a descobrir buracos relacionados com “problemas do antigamente”. Traduzindo: do BES." (Banco de Portugal garantiu que banco estava limpo em 2015, Cristina Ferreira, Público, 13/06/2020)
"Na véspera de o BES ser intervencionado, a 2 de Agosto, o governador reuniu-se com Vítor Bento, a quem garantiu que o banco só seria vendido ao fim de cinco anos, dando tempo para o sanear. E foi com esta promessa que Bento saiu nesse dia do BdP, o que evitou que se demitisse naquele momento, a horas de Costa anunciar a resolução ao BES. Um mês depois, Carlos Costa anunciou que o banco seria colocado no mercado em dois anos, como pretendia Maria Luís Albuquerque. E Bento demitiu-se." (Vítor Bento desmente Carlos Costa sobre o BES, Público, 13/06/2020)
A jornalista Cristina Ferreira, do Público, trouxe ontem mais alguns dados sobre o escândalo do Novo Banco e tudo aquilo que foi prometido aos portugueses. Não teria custos para o contribuinte, disseram-nos. Nunca mais me esqueci.
Quem em tempo oportuno duvidou da solução encontrada e dos mundos e fundos que aquela malta apregoou (Ante-escuta do segredo, Uma fraude que só serve para enganar os portugueses, Tudo do avesso, Tiro e queda, Está a fazer um ano, Rocambolesco), não tem que se admirar. Mas lá que fico triste e revoltado, isso fico.
E depois ainda falam das contas do Centeno...
Quem engendrou a solução para o Novo Banco devia prestar contas aos portugueses na barra de um tribunal. Seria o mínimo.
"Tem havido manifestações de interesse por parte de várias instituições";
"Estou em crer que haverá condições para vender muito antes do prazo";
"Como tal, a venda deve ser rápida, o que não significa à pressa nem ao desbarato";
"É a demonstração de uma boa saúde por parte do sistema financeiro".
(intervalo para negociações com os lorpas)
Partindo do princípio de que a bola de cristal de Marques Mendes está baça, o que inviabilizou a apresentação das contas da Segurança Social que António Costa e Catarina Martins já pediram e permitiram que a ministra da Justiça avançasse com umas sugestões (bitaites), o melhor será o primeiro-ministro e a ministra das Finanças porem-se ao caminho, meterem uma "cunha" ao Dr. Mário Soares, que vai lá trocar impressões com alguma regularidade e pode ser que o convença a arranjar espaço na agenda entre as visitas habituais, e irem falar com o inquilino do número 33 da Rua Abade Faria. Não custa nada. Quem sabe se oferecendo com o banco uns computadores Magalhães, uns pares de sapatos e o dr. Marques Mendes, o problema não ficava resolvido?
Estou em crer, com excepção do sempre inconveniente António Lobo Xavier, que Sócrates será o único com experiência acumulada sobre este tipo de situações. O único, como diria o prof. Marcelo, que sabe disto a potes, capaz de transformar situações duvidosas em sucessos retumbantes, e em posição de ajudar a encontrar os parceiros ideais para este tipo de negócios. Talvez fosse a maneira de tramar o António Costa, dar gás ao Seguro, encontrar o consenso nacional que pede o Presidente da República, e poupar mais uns cobres aos novos milionários. Indirectamente, é claro. Essa gente nunca aceitaria benefícios directos.
"Aquilo que digo é aquilo que sempre disse - e que tive oportunidade de dizer na comissão de inquérito ao BES (Banco Espírito Santo): que os contribuintes não serão chamados a cobrir qualquer prejuízo com este processo. Isso cabe ao Fundo de Resolução."
"É verdade que há um banco público (CGD - Caixa Geral de Depósitos), que faz parte dos bancos do sistema, mas isso decorre da existência de um banco público, que é um banco igual aos outros em termos de direitos e obrigações para esta matéria. Em todas as outras questões, os contribuintes não serão chamados. E no caso da CGD é uma via indire[ct]a, que decorre do facto de o banco ser público." - Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças
A senhora ministra também pode dizer de dedo espetado que os alunos das universidades portuguesas não pagam propinas, que não têm que se preocupar com o seu valor porque quem paga não são eles, são os seus pais. Qualquer aluno, por muito cábula que seja, mesmo um jotinha, sabe que isso não é verdade. E se perder o ano, sendo um aluno e filho minimamente responsável, ficará envergonhado perante os pais. Porque sabe que o dinheiro dos seus pais, se não tiver sido roubado nem caído do céu, lhes custou a ganhar, saiu-lhes do pêlo para que as propinas fossem pagas e ele pudesse frequentar a universidade. E sabe que esperavam que ele também tivesse correspondido ao esforço que fizeram.
Por isso, declarações como as transcritas só são boas para serem aplaudidas nos comícios da Universidade de Verão. Lá é que a senhora ministra pode fazer dos outros parvos, ser aplaudida em cada frase que profere, dar a volta à praça e sair em ombros.
Na vida real não é assim. Directa ou indirectamente, o dinheiro vai sair do bolso de sempre. Umas vezes é pescado pela mão direita do contribuinte, de outras pela sua mão esquerda. Depende das legislaturas. Mas às vezes o dinheiro é-lhe tirado antes de entrar na conta bancária, antes de lhe chegar ao bolso, sem que lhe tenha sido perguntado se está disposto a pagar. E, às vezes, até depois do primeiro-ministro lhe ter dito que podia ficar tranquilo. É este o caso.
(a foto pertence ao Expresso e foi tirada daqui)
Gente séria tê-lo-ia admitido desde o princípio, tal como muitos atempadamente alertaram.
É mais um "tecno-embrulho" que, de novo, não constava do pacote testamentário recebido dos antecessores. E volto a dizer que não estou a discutir a bondade da solução encontrada, nem se é melhor ou pior que a do BPN, apesar de sem rebuço admitir que em princípio será menos má.
Em causa está, porque é isso que me preocupa no padrão comportamental dos dirigentes políticos, a actuação política em concreto de quem decidiu e as declarações que a suportaram, destinadas a atirar areia para os olhos dos contribuintes.
Se pode ser estabelecido um paralelo entre este caso e o BPN, para lá da inenarrável actuação do supervisor, ele encontrar-se-á na forma como em ambos os casos se assumiram riscos iludindo a opinião pública sobre os custos inerentes. Sem frontalidade, sem transparência, fazendo dos outros tolos. A começar pelo Presidente da República.