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metades

por Sérgio de Almeida Correia, em 04.11.13

Disse o primeiro-ministro que "metade do que aumentou a dívida em termos brutos, metade desse caminho são reclassificações, era dívida que já lá estava". A frase vem no Diário Económico e é mais uma frase genial que um seu ex-ministro certamente não desdenharia ter proferido.

Tinha ficado com a ideia de que o actual Governo português, entre outras missões não menos importantes, estaria vinculado ao controlo do aumento da dívida, fosse em termos brutos ou em termos relativos. Era coisa para estancar. Ponto. Dois anos e meio depois , mesmo dando de barato, e que para já não passa de pura retórica, que "metade do que aumentou" era "dívida que já lá estava", o que temos? A outra metade, diz o primeiro-ministro, são depósitos "que nós temos à ordem para pagar a dívida". Dinheiro, dinheiro vivo, portanto.

Ou seja, do aumento da dívida só metade é que é dívida, a outra metade da dívida não é dívida. É dinheiro.

Bem sei que a inteligência em política é hoje em dia um bem de tal forma escasso que qualquer coelho com uma cenoura num cartaz chega a líder partidário. E que nem todos podem ter as mesmas aptidões para dominarem os números complicados da economia nacional. Mas se isto é tão simples, se metade da dívida é dinheiro vivo, dinheiro que está em depósitos para pagar a outra metade da dívida e tudo o resto que se "herdou", por que razão foi necessário mandar fazer uma brochura com 57 páginas e 41 gráficos para o explicar aos próprios militantes do PSD?

Temo que com a dificuldade que deve ter sido encontrar esta explicação ainda haja neurónios capazes de substituírem os que entretanto se terão queimado. Engendrar a reforma do Estado, preparar o orçamento para 2014 e explicar a dívida aos militantes do PSD não são coisas fáceis.

 

Começa a ser dramático perceber qual é neste momento a metade do País que ainda pensa sem recorrer aos neurónios alheios. A distância só complica a compreensão do que é simples estando perto. Neurónios, infelizmente, não é coisa que se possa emprestar. Ou trocar por dívida. Ou por pneus. Talvez um dia, quem sabe, a ciência descubra maneira de recauchutá-los. Já não digo todos, mas talvez metade seja ainda uma hipótese em aberto.

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