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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
"E até é bom haver aqui em Macau alguma coisa, que é a sabedoria milenar chinesa, com alguma agitação portuguesa.
É bom quando me chegam, de vez em quando, notícias de Macau acerca de como um ou outro português é português, vive inquieto, quer mais e melhor, quer aqui mais ou quer melhor ali, e gostaria de ter uma ideia na Administração, outra ideia na Justiça, outra ideia na Língua, outra ideia na Cultura.
Eu vou lendo tudo, vou lendo tudo, e sabendo tudo.
E eu digo: que bom é haver a sabedoria e a calma chinesa e haver também este acicate desta capacidade imaginativa e de frenesim português." – Marcelo Rebelo de Sousa, Residência Consular, Macau, 1 de Maio de 2019
(Lusa/Arquivo)
Num tempo de acentuada crise dos valores e da cidadania, perante um país empobrecido e carente de esperança, cansado de caixeiros-viajantes trapaceiros e de amanuenses para todo o serviço, Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu obter a maioria absoluta que lhe garante ser o Presidente da República. Independentemente das críticas que possam ser feitas à volatilidade de algumas das suas posições políticas no passado, Marcelo Rebelo de Sousa é um homem bem formado, com preparação académica e política, com uma carreira profissional de indiscutível mérito, com provas dadas em relação ao seu comprometimento cívico e com conhecimento do mundo e da vida. Tem, ainda, a seu favor o facto de ser senhor de um indiscutível carisma e de argúcia e perspicácia política, que nem sempre funcionaram para o seu lado, mas que poderão agora vir a ser indispensáveis para um bom desempenho. O resultado que obteve, apesar de uma abstenção grande e pela qual não é responsável, foi suficientemente bom para evitar uma segunda volta, poupando os portugueses ao espectáculo deprimente a que vinham assistindo, assim se evitando maiores rupturas e o aprofundamento de crispações recentes.
Como aqui disse e pelas razões que tive oportunidade de expressar, não apoiei nenhum candidato presidencial na actual contenda, e embora não tenha votado em Marcelo Rebelo de Sousa não posso deixar de dizer que espero que seja possível, dentro de cinco anos, ver o titular do cargo recandidatar-se e melhorar o resultado agora obtido, pois será sinal de que terá sabido cumprir bem o seu mandato. A forma como se comportar nos próximos meses será decisiva para o futuro a curto prazo do país e para o reforço da confiança dos portugueses nas suas instituições e na democracia.
Depois de um interregno de vários anos, os portugueses podem, finalmente, voltar a ter no Palácio de Belém um Presidente da República que não os envergonhe quotidianamente na sua acção, que não se queixe do valor da reforma, nem das agruras do cargo, o que só por si deverá ser motivo de satisfação. Com o seu primeiro discurso pós-eleitoral, no qual me revejo, e no espaço que tão bem escolheu para o fazer, deu um merecido destaque à sua Faculdade de Direito de Lisboa, que também foi a minha, deixando um sinal positivo daquele que poderá vir a ser o seu primeiro mandato.
Que se assuma como um homem livre e sem complexos, que não depende, nem nunca dependeu, do clientelismo partidário, por também dele não precisar, e um referencial da democracia, no qual através da sua acção todos os portugueses se possam rever, é o que desejo. E espero, sinceramente, que Marcelo Rebelo de Sousa seja capaz de recolocar a Presidência da República no local de onde nunca deveria ter saído, devolvendo-lhe o papel, o prestígio e a dignidade que perdeu na última década. Unindo os portugueses, seguindo a história, honrando a memória.
(Foto de Pedro A. Pina, RTP)
Eu já estava admirado com a sua ausência. Pensava que o homem se refugiara num retiro sabático no Copacabana Palace ou no Polana até depois das eleições, mas compreendo que não quisesse desiludir ninguém e eis que resolveu aparecer a tempo de dar uma mãozinha na recta final da campanha. Depois de ter pedido o apoio no Conselho Nacional do PSD ao candidato "independente" do partido e de ter conseguido a aprovação de uma recomendação desse mesmo Conselho Nacional para o voto no candidato "independente", eis que Miguel Relvas surge em força na recta final da campanha das presidenciais. Sei de fonte segura que o Prof. Marcelo ficou entusiasmadíssimo com esta aparição e prepara-se para logo à noite agradecer o empenho do apoiante.
Especialistas na arte de baralhar, partir e voltar a dar há poucos. Em Portugal é uma das profissões mais reconhecidas publicamente, mais bem pagas, e que para além de uma boa agenda telefónica, alguns contactos ao mais alto nível e muita lata, não exige especiais qualificações. Com as voltas que a banca dá, se o Prof. Marcelo for eleito ainda vamos ver o apoiante a ser recebido em Belém. Na qualidade de banqueiro, pois claro, que isso sempre dá outro estatuto.
"Li-o em diversos jornais e revistas, entrevistei-o na SIC e em vários jornais mais de uma vez, acompanhei-o em manifestações cívicas, estive ao seu lado em celebrações religiosas, fiz a sua “apresentação” nalguns fóruns e eventos. Em suma: conheço-o de há muito e da primeira fila.
Por isso cedo me apercebi de algumas debilidades na ossatura da sua personalidade. E cedo alcancei que elas poderiam por vezes fazer gripar o motor do seu carácter. É que, com o mesmo brilho e a mesma velocidade, Marcelo era capaz de dizer tudo e o seu contrário, ser tudo e o seu oposto, sem nunca estar inteiramente comprometido com nada (a sério, só com Deus, já lá irei)."
Um tipo depois de ler isto, e o resto do texto de Maria João Avillez, que o conhece de ginjeira, fica a pensar se será possível à esquerda haver alguém que a ultrapasse pela direita. O Observador, sem saber, prestou um serviço público. Temo que o único conselho que daqui posso dar ao candidato Marcelo, para ele não ter de repetir aquela rábula do mergulho no Tejo, é sugerir-lhe que peça uma prancha ao McNamara e entre por uma daquelas ondas do canhão da Nazaré antes de dia 24. Se não for assim, corre o risco de não evitar a segunda volta com um dos outros marretas.
"Como dizia o poeta Castro Alves: "Bendito aquele que derrama água, água encanada, e manda o povo tomar banho" (Odorico Paraguaçu).
(foto Rui Ochôa, Expresso)
Meu caro Professor Marcelo Rebelo de Sousa,
Lamento desiludi-lo, mas V. Exa., apesar de todo o seu virtuosismo, não está com sorte nenhuma. Deixe lá, essas coisas acontecem a qualquer um. Para a Académica o fim-de-semana também não correu de feição. Há noites assim e para essas temos a certeza de que o tempo, como dizia o outro, não volta para trás, pelo que agora importa, futebolisticamente falando, "corrigir os erros e levantar a cabeça".
Todos nós compreendemos que quem - não me interprete mal mas é o que me parece das suas aparições televisivas analisadas à distância -, condiciona a decisão política aos jogos de interesses clientelares, dando dela a ideia de que tudo não passa de um negócio de bastidores, rumores, boatos e meias-verdades ao sabor das conveniências e das agendas pessoais e televisivas, tenha dificuldade em definir-se e em assumir os riscos inerentes à política sem receio de fracassar.
Se o meu caro Professor quer ser Presidente da República, e é legítimo que o seja num momento tão difícil como aquele que Portugal atravessa, então avance já, não perca tempo, apresente-se aos seus concidadãos. Poderá fazê-lo em directo, na TVI, sem gastar um chavo, com garantia de audiências e o monopólio das manchetes de segunda-feira. Depois seria só cavalgar a onda. Quem nada no Tejo e nas águas do Guincho pode cavalgar qualquer Nazaré. Não espere pela definição e estabilização da galeria dos condenados. Deixe isso para os fracos e os sacristães. Essa seria a sua forma de marcar a agenda e condicionar eficazmente as escolhas de Passos Coelho. O PSD ficaria refém do seu anúncio e o Professor garantiria de imediato o apoio do seu partido. Não se acanhe. O Professor Sampaio da Nóvoa ficaria apavorado ante a perspectiva de um debate com V. Exa., com a Judite de Sousa e o Rodrigues dos Santos a moderá-lo, e eu com receio do que lhe pudesse acontecer. Quanto ao apoio do CDS-PP e de Paulo Portas, como sabe, com mais ou menos amuo, isso seria sempre negociável. Em política quase tudo é negociável: sobreiros, submarinos, vistos "gold", sondagens, computadores "Magalhães", "PPP's", barcos que metem água, comissões de inquérito, as contribuições do Jacinto Leite Capelo Rego, enfim, tudo menos a vichyssoise. Até aí compreendemos todos. Aliás, não há quem não compreenda que seja mais fácil percorrer os caminhos florentinos ao crepúsculo do que entrar e sair da corte quando o Sol está a pique.
É claro que se não quer ser candidato, nem está disposto a avançar, deverá dizê-lo desde já. Não lhe ficaria bem andar a alimentar amores impossíveis domingo após domingo. Nenhuma dona de casa gosta disso. Um homem tem de se definir ou então que desampare a loja. Para empata já chega o inquilino de Belém. Não deixe que neste aviário em que se tornou a apresentação de candidaturas presidenciais qualquer avestruz se predisponha a chocar os ovos alheios. E deixe-me dizer-lhe que frangos e pintos para andarem a correr de um lado para outro e a conspurcar a capoeira já temos os suficientes para esta fase. Está na hora de aparecerem os galos. O Professor tem um porte e uma crista suficientemente vistosos para não se perderem nos "entretantos" daquelas entediantes conversas de salão com as tias e os tios de Cascais que só percebem de canasta e gamão.
Certamente que lhe daria imenso jeito, como ao PSD, e talvez mais a este, ter como rival numa eventual candidatura presidencial o Professor Sampaio da Nóvoa. Tudo isso nós percebemos. O que ninguém entende é que queira fazer do homem um Fernando Nobre, coisa que ele nunca será, e do PS, com o devido respeito, o partido dos animais. Isso os portugueses nunca lhe perdoariam e poderiam zangar-se com quem teve a ideia. Como também ninguém entende a sua pressa em querer que o PS defina um candidato e o apoie sem que os candidatos se definam primeiro e o PSD diga qual a sua estratégia presidencial e qual o mole que vai apoiar.
A sua tentativa de condicionar as escolhas, que foi o que ontem quis fazer sob a capa do comentador independente, não passará disso mesmo. Uma tentativa para depois ver as reacções. Só que as presidenciais não são orais de Constitucional em que a rapaziada bronzeada se põe a atirar bolas para canto. O PS não precisa de apoiar o Professor Sampaio da Nóvoa. Não se iluda. Ao PS basta um, um único candidato, e não precisa de alternativa ao Professor Sampaio da Nóvoa porque este não é candidato [oxalá não me engane]. É uma lebre.
Porque é evidente que o meu caro Professor está farto de saber que jamais se apresentará contra um Guilherme d´Oliveira Martins. Por amizade, eu sei. Mas também porque ser cilindrado, sejamos realistas, por um homem tão discreto não seria bonito de se ver. O Professor Marcelo sabe bem, porque é um homem culto e inteligente, que a discrição é sempre mais eficaz do que o brilho dos holofotes. O brilho é transitório, apaga-se com o tempo. A discrição faz parte do carácter. É fiável. E é isto que os portugueses esperam do seu próximo Presidente da República. Fiabilidade. O Professor Marcelo sabe muito bem que, tal como na amizade, no amor ou na vida só há duas coisas que contam: a fiabilidade e a seriedade. Na política não é diferente. E também sabe que só será vencedor das presidenciais quem for fiável. Chega de feira. Pessoalmente, não tenho dúvidas de que entre dois homens (ou mulheres) igualmente sérios os portugueses escolherão quem lhes dê mais garantias. Quem seja mais fiável. E é aí que a porca torce o rabo para o seu lado.
Os portugueses já perceberam quem quem canta em qualquer palco, a qualquer hora, desde que tenha um microfone e uma câmara, sendo-lhe indiferente se o faz na TVI, na Madeira, na Universidade de Verão ou em Quarteira, por muito simpático, bem-disposto e sério que seja, não é fiável. As verdadeiras estrelas, tal como um Presidente da República que se preze, não podem estar em todo o lado ao mesmo tempo, não podem andar aos saltinhos a dar palpites e a mandar recados. Porque se desgastam. E o meu caro Professor Marcelo sabe isso tão bem quanto eu. O Professor Marcelo não é o dr. Marques Mendes para lhe andar a disputar audiências. Eu não queria estar a dizer-lhe isto, eu não sou ninguém. Eu emigrei. E habituado como estou a apreciá-lo e a vê-lo brilhar em qualquer palco desde os tempos de antanho, nunca esperei que se espalhasse ao comprido de forma tão confrangedora.
Peço-lhe desculpa, não me contive, tinha de lhe dizer isto. Às vezes temos de fazer de Lopetegui para não fazermos de trolhas.
Com estima e elevada consideração, subscreve-se um admirador desiludido.