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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
De todos os líderes dos países que estiveram representados no convénio de Samarcanda, quantos usaram máscara de "modelo KN95 ou superior" ou máscara cirúrgica? Quantos respeitaram uma distância entre si de, pelo menos, 1,5 metros? Quantos têm uma política de tolerância zero ou "zero dinâmico" nos seus países? Quantos destes paíes retomaram a normalidade? Quantos mantêm populações confinadas e obrigam ao uso de máscara? Quantos obrigam os seus residentes e os viajantes oriundos do estrangeiro a programas de quarentena em hotel? Quantos vão fazer quarentena no regresso? Dos países ali representados, quais é que são, tirando os que enfrentam situações de guerra, instabilidade interna ou embargos internacionais, os mais atrasados na sua recuperação económica e que se confrontam com mais problemas desde o início da pandemia?
Aparentemente, hoje é o dia do regresso à quase-normalidade. Os serviços públicos, que têm estado fechados e em regime de semi-férias desde que a crise começou, deverão começar a funcionar em pleno. A faltar ficarão as escolas, o que não é pouco.
As medidas tomadas pelo Governo têm-se revelado eficazes na contenção da epidemia. Com os números que temos e face à inexistência de novos casos, desde há quase quatro semanas, é-se tentado a concluir que os que cá estão estarão todos limpos.
Psicologicamente as pessoas acreditam que a crise passou. As pequenas multidões que nos dois fins-de-semana passados se juntarem em Coloane em longas filas automóveis e ao longo dos trilhos, largando máscaras (lixo) pelos percursos, são sinal disso.
Com o que não me conformo é com estes apêndices com que temos de diariamente andar.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e numerosos médicos desaconselham o uso de máscaras por quem não está doente. A Chefe do Executivo de Hong Kong, apareceu na televisão, num segundo momento da crise, de cara descoberta, ao contrário do Presidente Xi Jinping que recebeu o responsável da OMS, em 28 de Janeiro, sem máscara. No entanto, alguns dias depois, sem que tivesse estado em zonas de crise, o Presidente Xi também apareceu de máscara a falar para um ecrã de televisão. Aqui ao lado, Carrie Lam pediu às pessoas para só usarem máscaras se estiverem doentes e para as reservarem para os profissionais de saúde.
Tudo isto só serve para confundir. A informação e a desinformação são imensas. Não sei qual delas será neste momento a mais grave.
Confesso que percebo a preocupação daqueles que insistem em que todos devemos andar de máscara. Quantos haverá que estando doentes disso não se apercebem e que por esta razão não usam máscara? E eu, que me recordo de ver muita gente a tossir e espirrar em locais públicos, perto de mim, sem o hábito de sequer se darem ao trabalho de desviarem o rosto, também penso que a máscara evita este tipo de situações, embora tenha sérias dúvidas quanto à sua eficácia.
Dizem que não se deve andar a pôr e a tirar a máscara. Claro, mas se temos de ir fazer uma refeição fora de casa – houve quem tivesse de trabalhar desde que a crise começou e não tem outra alternativa – não podemos comer de máscara. Temos de tirá-la e guardá-la durante o tempo necessário, recolocando-a ao sair do restaurante. E para isso ou mexemos nela pelo lado do fora, onde estarão os vírus plantados, ou pelo lado de dentro, o que será sempre pouco higiénico.
Depois, há ainda o problema dos óculos. Não os consigo usar quando estou de máscara porque ficam permanentemente embaciados. O ar quente expelido pela parte de cima da máscara e que também me causa desconforto aos olhos não perdoa.
E o calor no rosto é ainda pior. A zona do nariz e da boca estão sempre transpiradas. De tempos a tempos lá tenho de levantar a máscara para me limpar, o que não me faz esquecer a alergia aos materiais de algumas máscaras que me saíram em rifa e me deixam o rosto vermelho e com comichão, obrigando-me por vezes a que tenha de lavar a cara com um sabonete medicinal.
Também tentei correr com a máscara nos primeiros tempos e ela ficava toda ensopada com o suor. Depois, como os SSM também só nos facultam uma máscara por dia, ainda que também pagando pelas que lhes foram oferecidas, está fora de questão fazer desporto de máscara.
Apesar de tudo lá vou usando a coisa. Não quero ser olhado como um extraterrestre e importa que me proteja de quem aparece, visto que sou obrigado a contactar com muita gente e não sei em que condição os deixam entrar. Mas lá que é desagradável é, pensando muitas vezes como suportarão as crianças este calvário para se ajeitarem com o artefacto.
Os laboratórios podiam começar já, enquanto procuramos regressar à normalidade, a estudar o desenvolvimento de modelos de máscaras cirúrgicas menos incomodativas e em materiais inovadores, mais eficazes, económicas e confortáveis.
Quem sabe se Macau, com a experiência adquirida, não poderia trazer inovação ao mercado e criar aqui um nicho empresarial que ajudasse à diversificação? As máscaras serão sempre necessárias. É negócio garantido.