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por Sérgio de Almeida Correia, em 09.02.17

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Não sei se todos já se aperceberam, mas num curto espaço de tempo desapareceu das vias públicas da cidade uma montanha de lugares de estacionamento automóvel de superfície, sem que tenham sido substituídos por novos espaços para a mesma finalidade. Eliminaram-se os parques e fizeram-se crescer os passeios, ainda que isso ocorra em zonas sem ou praticamente nenhum movimento de peões que justifique as obras e o alargamento. O que acontece em prejuízo dos cidadãos automobilistas e em zonas comerciais. Ao mesmo tempo dá-se dinheiro a ganhar aos senhores que produzem os horríveis aros metálicos verdes que passaram a "enfeitar" todas as artérias, mesmo em zonas onde existem nas bermas linhas contínuas amarelas indicativas da proibição de estacionamento.

Eu não acredito que sejam só coincidências porque os que beneficiam com o que se está a passar são os que sempre beneficiaram: os empreiteiros que fazem as obras, os concessionários dos silos automóveis, a PSP, e às vezes, também, os vendedores das câmaras de filmar que contribuem para ir transformando Macau no sucedâneo de um estado policial. A gente de sempre.

Por outro lado, são instalados novos parquímetros, sem que perceba muito bem a razão para a substituição dos anteriores, que funcionavam razoavelmente bem e cumpriam a sua função. Ainda pensei que como os antigos não davam recibo estes agora passassem a emiti-lo. Pura ilusão. Um tipo paga, alguém mete ao bolso, e quem paga fica sem recibo e não tem maneira de provar que pagou.

Este problema dos recibos, infelizmente, parece estar generalizado e afecta, inclusive, os próprios serviços públicos. Ainda há dias fui ao Centro Ecuménico "Kun Iam", na Av. Dr. Sun Yat-Sen, no NAPE, e aproveitei para comprar um dos livros que se vende na pequena loja aí existente, explorada pelo Instituto Cultural de Macau (ICM). Pagar paguei, recibo é que nem vê-lo. Ainda perguntei pelo dito, mas a funcionária, à laia de uma qualquer mercearia, limitou-se a encolher os ombros e a lançar numa folha de papel a venda que acabara de efectuar.

O mal é geral, está a espalhar-se e nem as gasolineiras escapam a esta nova moda da eliminação dos recibos. Quanto aquelas, que até há pouco tempo emitiam recibos manuscritos onde era aposta a matrícula dos veículos que abasteciam, agora recusam-se a emiti-los e impingem ao cidadão os duplicados dos talões (nem sequer são os originais) que retiram das máquinas. E que, além do mais, sendo impressos em papel térmico, com a humidade, estão destinados a desaparecer em pouco tempo.

Nada disto é inocente e o problema não é só de (in)competência de quem manda. E não me venham dizer que os contribuintes terão de passar a fotocopiar todos os seus recibos, com os inerentes gastos em papel, tinta e electricidade para se poderem proteger perante o fisco porque dá-me logo vontade de dizer um palavrão. 

Ao contrário do que se passava no Ministério Público, onde os recibos das obras e viagens se multiplicaram alegremente durante uma década, e com a PSP, que se farta de emitir "facturas e recibos" aos cidadãos, parece que em Macau mais ninguém se importa com este assunto. Fiscalização, nesta como noutras situações em que o contribuinte necessita de ser urgentemente protegido, parece ser coisa inexistente e com a qual também não se preocupa a maioria dos deputados da Assembleia Legislativa. Para os cidadãos é uma espécie de salve-se quem puder. Para outros, como ainda agora também se viu com alguns generosos subsídios da Fundação Macau, é um "venham a nós os vossos milhões". Um dia a gente chateia-se e a casa vem abaixo.  

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(foto JTM) 

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