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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Aos 70 anos travou o seu último combate, a derradeira corrida de uma vida plena de sacrifícios, glória, coragem, dor e intransigente respeito pela sua condição de homem e de piloto.
Espalhou classe e desportivismo pelas pistas de todo o mundo, numa época em que a Fórmula Um se fazia com cavalheiros, com homens e não com meninos.
Deu dois títulos mundiais à Ferrari (1975/1977), um terceiro à McLaren (1984), mas se me perguntarem o que de mais vivo tenho na memória, talvez fruto da minha condição de Alfista, foram as vitórias em Anderstop, no Grande Prémio da Suécia (1978), com o Brabham-Alfa Romeo BT 46-B com efeito de solo, e em Monza, no mesmo ano.
A primeira constituiu um duelo entre o motor Cosworth DFV do Lotus 79 de Mario Andretti, que viria a ser nesse ano o campeão do mundo, e o fabuloso motor de 12 cilindros da Alfa Romeo, que conduzido pela lenda austríaca esmagou toda a concorrência. A segunda foi uma corrida atípica, com muitos acidentes e interrupções, num fim-de-semana aziago em virtude do falecimento de Ronnie Peterson.
Lauda deixará mais um espaço por preencher na galeria dos notáveis que nos deixaram muito cedo. Que tenha o merecido descanso.
(foto daqui)
Nasceu em 26 de Abril de 1937, em Boulogne-Billancourt, nos arredores de Paris, e desde muito cedo mostrou a sua fibra. Depois de ter conquistado entre 1961 e 1964 onze títulos de campeão de França de motociclismo, empreendeu uma carreira no automobilismo. O seu nome era sinónimo de liberdade, rebeldia e espírito de combate. A sua primeira corrida, como ele próprio disse, poderia ter sido a última, quando o seu carro, um Djet, preparado por Bonnet, derrapou e se incendiou nas 12 horas de Reims. A sua morte chegou a ser anunciada aos microfones. Miraculosamente sobreviveu e dez meses depois, tendo escapado a uma amputação do braço esquerdo, voltou às pistas. Vingou-se com uma vitória em Fórmula 3 nessa mesma pista de Reims, como que dizendo ao destino que estava ali para vencer. Campeão de França de Fórmula 3 em 1965, campeão da Europa de Fórmula 2 em 1968, tornado famoso pelas páginas de Michel Vaillant, cunhado do inesquecível François Cevert, correndo ao lado de Henri Pescarolo e Jean-Pierre Jarier, a sua carreira ficaria marcada pela sua única vitória na Fórmula 1, numa tarde chuvosa de Maio, em que desafiando nomes como Jackie Ickx e Emerson Fittipaldi arrebatou a coroa de glória do Grande Prémio do Mónaco, ao volante do BRM n.º 17 com as cores da Marlboro, equipa onde viria a encontrar Niki Lauda e Clay Regazzoni. As 85 corridas que fez na Fórmula 1 não lhe deram nenhum título e após a morte do seu cunhado, nos treinos de Watkins-Glen, em Outubro de 1973, decidiu colocar no ano seguinte um ponto final na sua carreira na F1. Em 1976 faria história em Le Mans, na categoria GTP, onde fazendo equipa com Pescarolo levou o Inaltera-Rondeau à vitória. Nos Sport-Protótipos obteria mais 12 vitórias para lhe rechearem o palmarés. O seu nome ficará para sempre associado ao de um piloto talentoso, excepcionalmente combativo, que como qualquer ser humano teve horas de sorte e de azar. Transportou sempre consigo uma aura de romantismo e glória. Desapareceu agora aos 77 anos, fora das pistas, vítima de um acidente vascular cerebral, sofrido em Dacar (Senegal), mas será como um herói que permanecerá para sempre na memória dos amantes do automoblismo de competição.
A velha Lourenço Marques vira-o nascer em 6 de Agosto de 1935. A jovem cidade do Maputo viu-o ontem partir. Pelo caminho ficam 57 jogos com a camisola de Portugal, capitaneando a selecção nacional que brilhou no Mundial de 1966. Com um domínio perfeito dos espaços, uma presença física que impunha respeito e uma calma e lucidez que desconcertavam qualquer um, dominava o centro do terreno como poucos. Com a camisola das quinas ou a do Benfica representava na hora de defender a primeira barreira dos adversários. E quando se tratava de construir o jogo ofensivo era o motor que fazia disparar os homens das alas e o foguete Eusébio. O último golo fê-lo no antigo Estádio da Luz, no dia 25/10/1969, numa tarde em que o Boavista saiu da Luz com oito golos no cabaz. Com Mário Coluna vão dez títulos de campeão nacional, mais sete taças de Portugal e duas taças dos campeões europeus, registando-se que marcou nas duas em que esteve presente. Irá agora fazer companhia ao seu protegido e amigo Eusébio, no Olimpo das lendas, deixando por aqui muitas saudades pelo exemplo e pela classe.