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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(foto obtida no sábado, 24/06/2023, pelas 16:18, num supermercado da Taipa)
Desconheço se será pelo facto de alguns produtos populares e de consumo corrente não estarem incluídos no chamado "cabaz básico" que os valores da inflação em Macau continuam tão distantes da realidade de quem frequenta supermercados, mercados, cafés e restaurantes.
Já anteriormente chamei a atenção para essa situação que distorce os números reais, mas que, continuando a passar ao lado das autoridades da RAEM, se agravou bastante durante a pandemia.
A pandemia, entretanto, por artes mágicas, passou a integrar o passado. O mesmo não se diga da realidade inflacionista – sejamos moderados – que continua a florescer sem qualquer controlo depois de abertas as fronteiras e restabelecida a normalidade.
As duas fotos que aqui deixo foram obtidas com um intervalo de menos de 24 horas, em dois estabelecimentos da Taipa que distam cerca de 100 metros um do outro, sendo facilmente identificáveis.
Se há três semanas já existia uma diferença média de MOP$ 10,00 em relação a produtos iguais, sempre com vantagem para a grande superfície, como explicar que de um momento para outro o preço tenha voltado a aumentar no supermercado e a diferença de preços entre os dois estabelecimentos seja neste momento de MOP$ 23,80 e de MOP$ 16.90? No supermercado, que por natureza deveria vender mais barato, as embalagens de salmão fumado custam, respectivamente, MOP$ 101,80 e MOP$ 104,90. Na pequena loja "gourmet" de bairro custam MOP$ 78,00 e MOP$ 88,00.
Não sei se alguém quererá qualificar esta situação que está muito para além da simples especulação. Eu irei abster-me de fazê-lo, deixando aqui apenas os exemplos devidamente ilustrados à vossa consideração.
Recordando um velho exemplo, ocorre-me dizer que se não der para o salmão, então que comprem caviar.
Mas sabendo-se como começam as revoluções, e atendendo à dimensão que a especulação atinge entre nós, que vai dos iogurtes e do leite aos sumos, à carne de porco ou ao salmão, e que até se verifica com produtos agrícolas que vêm do interior da China, espanta-me que os nossos legisladores se tenham esquecido de incluir o crime de especulação alimentar nas últimas alterações legislativas à lei relativa à defesa de segurança do Estado. Imperdoável falta de visão.
(foto obtida no domingo, 25/06/2023, pelas 15:07, numa loja de bairro da Taipa)
Já me tinha apercebido do fenómeno há duas semanas. Há dias confirmei.
Antes de ser anunciada a nova ronda de cartões de consumo, houve vários restaurantes em espaços comerciais de concessionárias do jogo que apresentavam umas ementas simpáticas, com preços razoáveis, e ofereciam promoções nas escolhas à la carte para os residentes.
No chamado set menu, em regra, os valores continuam a ser convidativos, embora aí não haja descontos. Todavia, no que diz respeito ao menu à la carte, o que se passa assume outros contornos.
De repente, chegamos a Maio, publicam-se anúncios nos jornais da terra e anunciam-se reduções de 25% para residentes, enquanto se espera que a população comece a fazer uso das ofertas do Governo em Junho próximo.
O que não se diz, não deveria acontecer e está a verificar-se, é que a pretexto de se renovarem as ementas, incluindo e retirando um ou dois pratos do habitual cardápio, se tenha procedido a um aumento brutal dos preços, de maneira a que com as promoções e reduções o valor a pagar acabe por ser praticamente o mesmo, ou um pouco superior, ao que se pagava antes.
Quando um bife que custava 200 e tal patacas passa para 400, e o de 300 e tal passa para 500 é porque alguma coisa está mal. Muito mal.
É compreensível que depois de meses a fio suportando prejuízos, os restaurantes queiram a facturar alguma coisa que se veja, mas lá porque há por aí muito mau gestor, aldrabão e ladrão, isso não quer dizer que os consumidores sejam estúpidos e que os restaurantes tenham também de esportular à sorrelfa os clientes menos informados. Já bastam as variações dos preços nos mercados e supermercados.
Ou o Governo, através do Conselho dos Consumidores, começa a actuar, fiscalizando o que está a acontecer e pedindo a esses espaços que lhes apresentem as suas ementas de Abril, para comparar o preço dos pratos então vigentes com os praticados neste mês de Maio, ou o caldo vai entornar-se rapidamente.
E depois não digam que não os avisei.