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infelicidade

por Sérgio de Almeida Correia, em 06.10.15

Anunciou que não ia às comemorações oficiais do 5 de Outubro apesar de ser o primeiro representante da República. Justificou com o facto de se estar em período eleitoral, dizendo que outros também o fizeram anteriormente. Uma vez mais só disse meia-verdade. Nas outras situações as eleições foram depois do 5 de Outubro. Este ano já tinham sido, por isso a sua presença não iria influenciar o que já não podia ser influenciado. Também se disse que se fosse teria de falar sobre as eleições legislativas, o que também não era verdade. No 5 de Outubro os Presidentes falam, normalmente, sobre a República e os seus valores, não para comentar resultados eleitorais. Ninguém o obrigaria a falar sobre o que não queria. Depois também veio a desculpa de que iria receber os líderes dos partidos nesse dia ou de que estaria a reflectir sobre os resultados das eleições. Quanto aos líderes dos partidos só vai começar a recebê-los hoje, 6 de Outubro. Essa desculpa também não serve E sobre a reflexão disse em Nova Iorque que já tinha todas as soluções pensadas, não se vendo porque iria ficar a reflectir logo no 5 de Outubro, não podendo tirar uma horita para celebrar a República que o pôs em Belém.

Enfim, teria sido mais honesto e menos infeliz se tivesse dito, simplesmente, que os valores da República não são os seus. Ou que não lhe apetecia ir. Ninguém ficaria escandalizado. Já todos o conhecem. 

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certezas

por Sérgio de Almeida Correia, em 29.06.15

Não sei qual será o resultado da crise em que a Europa está mergulhada. Não sou bruxo. Como em qualquer ruptura, creio que há culpas de parte a parte. Uns porque prometeram o que não deviam, outros porque impõem o que não devem, esquecendo que se a Europa chegou ao beco em que se encontra isso se deve à distância em relação aos cidadãos e à intransigência em que assentou a construção daquilo que temos hoje. Um referendo nunca fez mal a ninguém. E parece-me fazer mais sentido perguntar aos cidadãos se querem agora o que não estava no contrato de governo, no programa eleitoral, do que apresentar-lhes como consumado aquilo que à partida rejeitaram e que quem os governa se comprometeu, demagogicamente ou não, a rejeitar.

É certo que, perante as circunstâncias em que a consulta terá lugar, a decisão que venha a ser tomada será tudo menos ponderada. As condições para a realização do referendo são sofríveis. Mas aí, como uma personagem de um filme que fez sucesso há uns anos dizia à sua paixão, parafraseando Faulkner, há gente que quando se vê numa situação de desespero é confrontada com a escolha entre a dor e o nada. Os gregos estão nessa situação. Porque quem não tem nada já nada tem a perder. Porque já teve dor que chegue. Porque já está para tudo. 

Não sei se na segunda-feira o euro continuará a cair, nem se a Europa algum dia irá recuperar, mas há coisas que nunca mudam. E é com elas que temos de contar.

Uma é confirmar-se que para os agiotas é sempre preferível correr o risco de esticar a corda e deixar que o devedor agonizante se enforque com ela, não reavendo os juros nem o capital, do que dar mais cinco dias para que esse mesmo devedor tome uma decisão final e se recomponha para voltar a pensar. No final, as culpas poderão ser imputadas ao devedor mas estarão todos a arder. Ou melhor, no fundo.

A outra são as sempre rigorosas e felizes declarações de Cavaco Silva. Enquanto a chanceler Merkel, quando questionada sobre um eventual fracasso do euro e uma saída da Grécia, dizia que "se o euro falha, a Europa falha", em Portugal, questionado em termos similares sobre o mesmo assunto, o Presidente da República fazia contas de somar e subtrair para concluir que "se a Grécia sair ficam dezoito". 

Perante isto que mais se pode dizer? 

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