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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Um dos problemas com que qualquer cidadão se confronta em Macau, de há muitos anos a esta parte, é com a má qualidade da construção dos edifícios. A corrupção sempre grassou na área e a melhor prova disso é o facto de haver um ex-Secretário para as Obras Públicas e um ex-Procurador a cumprirem dezenas de anos de prisão.
Poder-se-ia pensar que, apesar disso, haveria a preocupação em fazer bem, em melhorar padrões, em assegurar uma qualidade de construção compatível com o PIB da Região. Pura ilusão, a única preocupação é ganhar mais sem olhar a meios, enganando na medida do possível os consumidores.
E quanto à acção dos serviços públicos competentes a sua acção é meramente formal, verbo de encher sem quaisquer consequências práticas.
Os maus cheiros em casas de banho e cozinhas são recorrentes. E não estou a falar de habitação social ou em zonas degradadas. Refiro-me a construção considerada topo de gama, em urbanizações recentes, cujo preço de venda de uma fracção custa dezenas de milhões de patacas.
Imensas vezes chego a casa e dou com um cheiro pestilento logo à saída do elevador. Cheiro intenso a gases, por vezes a parecer-me amoníaco. Queixei-me às autoridades: IACM, DSPA e DSSOPT. Todos os serviços me responderam. A DSPA chegou a fazer-me uma visita, com um técnico. Todos muito simpáticos.
A resposta da DSPA, depois de inspeccionar os locais, foi a de que é normal haver cheiros porque os sifões estão secos, daí que a sugestão que me foi dada foi a de ir todos os dias buscar um copo de água, de manhã e à noite, e ir às casas de banho e cozinha meter água nos sifões.
Quanto à DSSOPT teve o cuidado de me escrever isso mesmo numa comunicação remetida por correio electrónico, depois de eu sugerir que se alterasse o modelo de sifões e o padrão de construção: "Antes de mais, agradecemos a opinião apresentada por V. Ex.ª. Relativamente aos sistemas de águas residuais domésticas em prédios, em conformidade com o disposto no n.º 6 do artigo 251.º e no artigo 202.º do Regulamento de Águas e de Drenagem de Águas Residuais de Macau, cada aparelho sanitário deve ser munido de sifão individual e de sistema de ventilação de modo a prevenir a entrada de gás no interior do edifício e a canalização de ventilação tem o objectivo complementar a ventilação nos tubos de queda de água, assegurando assim o funcionamento normal dos respectivos tubos e canalização, pelo que, para que seja assegurada a função do respectivo sifão, sugere-se que o mesmo seja inspeccionado periodicamente e que se coloque bastante água no sifão."
Confesso que durante de 50 anos, fosse em África ou na Europa, nunca ninguém em casa dos meus pais ou em minha casa teve de andar diariamente a verificar se os sifões tinham água e a verter copos de água. E na única situação em que me ocorreu um problema de cheiros foi no Algarve, onde alguns construtores também primam por uma construção sem qualidade. A situação resolveu-se com a simples substituição de sifões direitos por sifões que mantinham o nível de água e impediam a passagem dos cheiros para o interior da residência, operação que me custou uns meros cinco euros e demorou alguns minutos.
Aqui, onde um apartamento T3 – que é gelado no Inverno, se está frio, um forno no Verão, o vento silva de cada vez que há tufão, não obstante a calafetagem extra, e os acabamentos sofríveis – é transaccionado por valores entre os 14 e os 16 milhões de patacas, ou seja, entre 1,4 e 1,5 milhões de euros um tipo tem de aguentar com os maus cheiros e andar com copos de água a verificar o nível de água nos sifões.
Será isto normal, aceitável? Não será possível mandar dois ou três técnicos das Obras Públicas a Portugal ou a qualquer outro país onde se construa decentemente para eles aprenderem alguma coisa? E depois impor essas regras aqui em matéria de construção para que se possa erradicar este problema? Será assim tão difícil corrigir e melhorar a qualidade da construção e o bem-estar dos moradores dos edifícios de Macau?
Desconheço se, para além da candente questão do reforço da segurança interna da Pátria, todos os Secretários do Governo da RAEM e demais altos dirigentes que os acompanharam à acção de formação que teve lugar em Pequim, no decurso da semana finda, foram alertados para os problemas de saúde pública de Macau.
Como não sei se isso aconteceu, à cautela, deixo aqui, de novo, mais um reparo e uma chamada de atenção para a situação da cidade e o que se passa no NAPE, mesmo nas barbas do Ministério Público.
Desta vez, como se pode verificar pela foto de cima, consegui apanhar a lixeira aberta, o que normalmente acontece todos os dias em períodos regulares.
Mesmo ao lado dos Serviços do Ministério Público existe uma lixeira disfarçada, mas facilmente verificável por qualquer pessoa, criada num espaço que, penso eu, devia ser uma área destinada ao comércio ou que constitui zona comum de um edifício em propriedade horizontal.
Também não tenho informação que me permita saber se as escadas interiores dessa espelunca dão acesso a algum restaurante. Estou convencido de que sim, tantas são as caixas de alimentos e o lixo que ali é diariamente depositado. O espaço, pelo cheiro que dali vem, nunca deve ter sido lavado desde que existe. Como aliás deve acontecer com quase todos os passeios e locais de depósito de lixos do NAPE, que são fonte de reprodução de baratas, rataria e seres vivos similares, os quais não são particularmente reconhecidos pelo seu contributo para a higiene e bem-estar dos humanos.
Eu também sei que o IACM anda mais preocupado em "enjaular" os espaços verdes de Coloane, fazendo obras horríveis e que não servem rigorosamente para nada na Estrada do Alto de Coloane, e que, aliás, nunca fizeram falta, assim dando dinheiro a ganhar aos vendedores de tintas, ferro e cimento, do que em conduzir uma verdadeira operação de limpeza urbana, que resgate a cidade ao lixo, aos maus cheiros, às gorduras que nos fazem escorregar nos passeios imundos, e a toda a bicharada que acima referi.
Admira-me que o Ministério Público consiga conviver lado a lado com esta inqualificável nojeira, e outras na mesma zona. Mas, apesar disso, volto a insistir para que se faça alguma coisa. Talvez a associação cívica do deputado Sulu Sou queira convidar os deputados da AL a visitarem o espaço que a foto ilustra.
Porque é uma vergonha que uma cidade que se quer internacional e de turismo continue a manter níveis de higiene típicos dos países mais pobres dos mais pobres do Terceiro Mundo.
O que se passa no NAPE é um escândalo e todos os responsáveis pela saúde e higiene públicas da RAEM deviam pedir desculpas à população.
Quanto a quem tutela o IACM já nem digo nada. Nem espero alguma coisa. Talvez o estado a que isto chegou também explique a razão para que tenham afastado eleições directas para um órgão autárquico. Assim, da maneira que isto está, e que como é previsível assim irá continuar, ninguém responde por esta e outras "nojeiras". Até quando?*
* - Desde já esclareço os poderes públicos da RAEM, bem como o senhor Presidente do IACM, de que estou disponível para lhes fazer uma visita guiada, fora das minhas horas de trabalho, pelos locais da cidade, e não apenas do NAPE, que são a vergonha de todos os cidadãos que querem bem a Macau. Para ver se eles percebem a gravidade do problema. E, já agora, até onde chega a incompetência (mas não me perguntem de quem para eu poupar alguns deles à vergonha).