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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Um senhor reformado, apresentado como ex-Director of Public Prosecutions de Hong Kong, cargo para o qual fora nomeado em Outubro de 1997, já depois da transferência da soberania de Hong Kong do Reino Unido para a China, e no qual se manteve durante uma dúzia de anos, veio a Macau, a convite, ao que parece, da British Chamber of Commerce, fazer a defesa da versão patriótica do sistema judicial de Hong Kong, permitindo-se dizer, contra toda a propaganda dos esbirros do imperialismo, que a Comissão de Direitos Económicos e Sociais das Nações Unidas está mal informada sobre a actual situação de Hong Kong.
Trata-se de uma evidência em relação à qual o senhor Cross fez o favor de vir graciosamente a Macau esclarecer uma plateia de ignaros. É, pois, pena que o Governo de Hong Kong não tivesse enviado o senhor Cross a Genebra para fazer a defesa do actual sistema judicial e da sua independência.
O senhor Cross seria uma pessoa especialmente habilitada para fazê-lo, visto que há vários anos se dedica a subscrever os pontos de vista de quem depois da reforma lhe dá espaço nas páginas do China Daily. Este ano já ali escreveu 14 artigos em menos de 11 semanas, e só em 2022 escreveu 69, o que dá uma média superior a 1 por semana. Há mesmo alturas em que o senhor Cross escreve em dias seguidos, coisa que eu não consigo fazer em nenhum jornal, nem mesmo no Público.
O China Daily, onde também há alguns sujeitos de Macau conhecidos pela verticalidade das suas posições que têm a honra de ali publicar, é um referencial da independência jornalística em Pequim, em Macau e em qualquer latitude onde seja lido.
Não admira, por isso mesmo, que depois de ter feito uma acérrima defesa da Lei de Segurança Nacional de Hong Kong, afirmando que esta respeitava a independência judicial – ao contrário de muitos dos advogados e juízes de Hong Kong que, certamente, tal como a ONU, estavam mal informados e por isso mesmo desfilaram pelas ruas de Hong Kong contra a lei de extradição, repetindo a graça em 2019 –, o senhor Cross, cuja cruz será bem mais leve do que o peso da sua crescente credibilidade, tenha recebido a Bauhinia de Prata em 2010 e a Bauhinia de Ouro em 2021.
Se continuar assim, e oxalá que consiga manter a lucidez e o bom senso, o senhor Cross ainda será candidato, dentro de menos tempo do que aquele que se poderia imaginar, a receber a Grand Bauhinia.
Já os de cá, os que assistem às suas prédicas nos eventos da British Chamber of Commerce, terão de continuar a porfiar. Talvez escrevendo com a regularidade do senhor Cross no China Daily, ou trazendo-o mais vezes a Macau.
O senhor Cross poderia ser especialmente útil à RAEM na formação de novos magistrados e advogados. O Grande Lótus da RAEM não está, por isso, fora de questão. E sempre seria melhor de que andar com um saco de enchidos às costas.