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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
A substituição de Mário Centeno na pasta das Finanças era apenas uma questão de tempo. Cumpriu o que lhe foi pedido e, não obstante o contratempo do COVID-19, entrega a casa arrumada ao sucessor, sendo responsável pelo primeiro superávite em muitas décadas.
A circunstância da escolha de João Leão ser uma solução de continuidade, aprovada pelo antecessor, e sabendo-se que aquele foi o "herói" das cativações e o homem que esteve na preparação e execução dos cinco orçamentos anteriores, parece-me uma decisão inteligente e séria.
Garante-se a renovação, assegura-se a continuidade das políticas, e torna-se mais fácil a accountability final. Qualquer que seja o resultado, daqui a um, dois ou três anos a responsabilidade pelo que de bom acontecer, assim o espero, será sempre do primeiro-ministro, de Mário Centeno e do agora escolhido. E se correr mal, o que ninguém deseja, também será dos mesmos. Em qualquer um dos casos, a Oposição não tem com que se preocupar porque os alvos serão sempre aqueles.
E antes que comecem a desancar no novo ministro, acusando-o de ser mais um perigoso despesista esquerdista, nada como ler o que outros, à direita, já disseram dele:
"José Silva Peneda, o histórico social-democrata que entre 2009 e 2015 presidiu ao Conselho Económico e Social, um órgão consultivo que João Leão integrou como elemento técnico durante esse período, lembra-se de ter conhecido “um homem competente e preparado, quer nas discussões sobre as Grandes Opções do Plano, quer nos Orçamentos do Estado”. À frente do Ministério da Economia estava Álvaro Santos Pereira, que logo na altura ficou “com a melhor impressão sobre a sua competência e dedicação à causa pública”. No Twitter, o ex-ministro e diretor da OCDE apontou-o como “o grande executor da política de consolidação orçamental dos últimos anos” e também por isso confia que “a sua escolha dá as garantias necessárias que a prudência orçamental vai continuar”, mesmo depois da partida do “Ronaldo das Finanças”. (João Leão, O artífice das cativações que come polvo e foge dos holofotes, in Jornal de Negócios, 12/06/2020, p. 11).
Posto isto, resta-me desejar as maiores felicidades ao novo ministro das Finanças. Os seus êxitos serão os de todos nós.
"Ao todo, 16 membros do Governo de Passos Coelho assistiram com particular atenção ao desmoronar do império Espírito Santo. Alguns têm contas acima de 100 mil euros no BES. Juntos, têm um milhão de euros em aplicações, fundos, carteiras, banca-seguros e títulos. Um exemplo da importância dos biombos é a decisão tomada em Conselho de Ministros em plena crise do BES: até onde se deveria proteger quem tinha poupanças no BES? Todos os depositantes ou só os que tinham menos de 100 mil euros, como estipula o novíssimo regulamento europeu? O Governo decidiu que tanto os pequenos como os grandes depositantes deveriam ficar a salvo". Editorial, Público, 27/10/2014
Juízes todos somos, uma vez ou outra, na vida. A começar quando julgamos aquilo que nos diz respeito. E nessas alturas somos juízes em causa própria. Com transparência. Porque decidimos e assumimos o risco da decisão. Seja na escolha da profissão ou na escolha do cônjuge. A situação é diferente quando se decide uma intervenção num banco e há membros desse mesmo Governo que vai decidir a intervenção, e o respectivo modelo, que têm contas superiores a cem mil euros na instituição em risco. Aqui o risco corre por conta de terceiros, dos contribuintes, ou por outros que sejam chamados a entrar com a massa. No fim safar-se-ão todos. Os pequenos, os assim-assim e os grandes. Os que decidiram e estavam com o seu dinheiro em risco também. Alguém há-de ficar para pagar a factura. No escuro.