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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Os nomes são o que menos importa, embora um deles seja de antologia. São casos que se repetem, aqui e ali, de cada vez que há lugares em disputa num partido. Ou porque moram todos na mesma casa, ou porque pura e simplesmente não existem e quem controla as estruturas de base de alguns partidos não tem idoneidade política, ética e moral para andar por lá. Mas, apesar disso, continua a gozar do apoio dos compinchas, da protecção dos que dependem e dos seus votos, e dos dirigentes que enterrando a cabeça na areia lhes vão aparando os golpes. À socapa.
É um padrão que se repete de Norte a Sul e que não é exclusivo dos partidos. Olhe-se para a banca. Veja-se o que se passa em muitas grandes empresas e até na gestão das finanças de algumas autarquias. Assumem formas moluscóides que se reproduzem com grande facilidade em determinados meios e gozam de aceitação e condescendência social. Da família da alta finança, cujos filhos estudaram na Suíça, ao laparoto da concelhia do partido que quer garantir a senha de presença e os "contactos" na assembleia da terriola, salvo raríssimas excepções de meia dúzia de postergados que preferem o anonimato e a desesperança a terem de vergar, o modelo aplaudido é sempre o mesmo. Com ou sem variantes.
Aquilo que devia dar cadeia justifica-se com o facto das eleições serem concorridas, a dimensão do negócio, a interpretação mais favorável ou o currículo do candidato que por acaso, e só mesmo por acaso, é filho de quem é. As regras que se acomodem. Nós somos assim e temos orgulho em ser assim. Estamos conversados.
Tempo houve em que a culpa era dos fascistas. Depois passou a ser do Otelo e dos comunistas. De caminho foi dos retornados, antes de passar a ser da abstenção e da União Europeia, e de dar lugar à Constituição, ao BPN, ao BES, sem esquecer a Lusófona, a Internacional, a Lusíada, e toda a série de falcatruas, cambalachos e maroscas que tomou conta do país e encheu os bolsos de quem manda. Agora estamos no ponto em que a culpa é da participação. A malta entusiasma-se, quer participar, e aqui vai disto. É o salve-se quem puder.
Podem continuar a fazer reformas como até aqui, a promover primárias, directas, prós e contras, comissões de inquérito, novos acordos ortográficos, a constituir fundações e a endeusarem desportistas ricos, que sendo muito bons no que fazem não deixam de ser quem são, e miúdas giras. Daquelas que usam telemóvel "xpto" com a boca cheia e levam a faca à boca enquanto mostram os aveludados seios fartos nos matutinos e revistas da sociedade.
Enquanto permitirem a sobrevivência do modelo, enquanto tivermos um padrão que é intrínseca e estruturalmente desonesto em quase todas as suas manifestações, tudo continuará recorrentemente como até aqui. E para o caso é irrelevante que estejamos a falar do primeiro magistrado da nação, do diplomata jubilado que assessora autarquias e promove "golden visas" para chineses ou de um trolha. A pobreza sente-se na bolsa, na vida, no quotidiano noticioso, nas declarações dos dirigentes, nos casos do dia. Da política ao desporto.
Não há, não pode haver, nunca haverá excelência, rigor, educação, cultura, decência, numa palavra apenas, civilização, entre ervas daninhas. Se não matarem o padrão; enquanto, parafraseando o Rui Rocha, não se livrarem do cabrão lusitano não entrarão no reino dos céus. Por mais que gemamos a cantar o fado ninguém terá piedade de nós.