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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
De vez em quando também há boas notícias. Nem tudo são quarentenas, máscaras, rondas de testes em massa, tufões, cretinos e afins.
Desta vez o motivo é de regozijo e prende-se com a instalação por parte do IAM de equipamento desportivo na Estrada do Alto de Coloane. Quem teve a ideia, lembrou-se bem.
E se não for pedir muito, pode ser que numa próxima oportunidade possam ser instalados revestimentos anti-derrapantes para as mãos nalgumas barras, para que aquelas não fiquem todas queimadas e cheias de calos. Quando está calor não dá muito jeito andar de luvas.
Estou, estava, habituado a fazer quilómetros diariamente, há anos, pelos trilhos e estradas de Coloane.
Sozinho, de manhã, à tarde ou à noite, conforme o estado de espírito, as cores do dia ou as minhas disponibilidades. De vez em quando encontrava alguém. Fosse, de manhã, com alunos da Escola Superior das FSM, ou à noite, subindo pela Estrada da Aldeia, quando me cruzava com inúmeros polícias que frequentam a Carreira de Tiro e que, conhecendo-me de me verem ali passar quase diariamente, me cumprimentavam e aguardavam para colocarem as suas viaturas em marcha.
Há vários anos que deixei de o fazer acompanhado. Os meus antigos parceiros de corrida partiram quando o princípio "um país, dois sistemas" começou a estalar e o verniz quebrou.
Hoje vejo-me impedido de correr, mesmo sozinho, porque ainda que obrigado a fazer testes diários de despistagem da Covid-19 só o poderia fazer usando uma máscara "KN 95 ou superior", o que aumentando o esforço, provoca a reinalação do ar expirado, expõe-me a níveis mais elevados de CO2, susceptíveis de causarem acidose respiratória aguda ou até mesmo conduzirem ao pneumotórax devido ao esforço intenso e prolongado.
Para além do stress e da pressão que a actual situação provoca em todos nós, a falta de exercício ao ar livre tem consequências a nível físico e psicológico, sendo natural que o sedentarismo decorrente da quarentena e dos confinamentos a que estamos sujeitos também se reflicta na balança e nos resultados dos próximos exames.
Percebo que para quem vá sentadinho no carro oficial da Praia Grande para o IAM ou para quem venda medicamentos aos SSM e receba as respectivas comissões sejam bem mais lucrativos os lençóis de medicamentos para a hipertensão, o colesterol, a diabetes, o ácido úrico e todas as demais maleitas que nos são receitados ao quilo e sem que muitas vezes disso tenhamos necessidade, do que o exercício físico gratuito e regular num trilho de Coloane.
Mas o que mais me perturba é que, estando impedido de correr sozinho e sem máscara, como os velhotes de poderem descansar durante o seu passeio na Guia, ou outros estão de andarem de bicicleta ou de fumarem na rua, esteja autorizado pelo Governo a ir ao casino, para que num ambiente fechado, sem luz natural e sem ar puro, me possa sentar ao lado de outros "camaradas" mais habituados aos exercícios manuais de contagem de notas e de fichas e ao fumo dos maços de mata-ratos que despacham todos os dias.
Há alguma razão de natureza lógica, científica, patriótica ou outra em mais esta proibição? Será que ninguém vê a falta de senso e de inteligência de tudo isto? É esta falta de inteligência, de que a decisão em relação à comunidade filipina foi notória, que pretendem "consolidar" na fase "pós-confinamento parcial"?
Se é, então talvez Pequim pudesse abrir concurso para concessionar a governação da RAEM e exercer apenas rigorosos poderes de tutela e supervisão.
Se assim fosse, estou certo de que o concessionário escolhido – só serem admitidas a concurso equipas de patriotas constituiria uma das condições – estaria mais preocupado em cumprir com critério, o que não tem acontecido, as orientações recebidas do Governo Central; em agradar aos "utentes" (residentes), preocupação que tem estado completamente ausente nalgumas decisões; e em apresentar resultados, até agora escassos, sofríveis ou inexistentes, que lhe permitissem ao fim de cinco anos renovar a concessão.
E seria, estou certo, indiscutivelmente mais criterioso na protecção da imagem da RAEM e da RPC, na aplicação de medidas coarctantes de direitos, liberdades e garantias, bem como na forma como são esbanjados os dinheiros públicos e se têm delapidado as reservas financeiras com o pretexto do combate à pandemia e a inimigos que aqui só existem na banda desenhada e nas mesas de snooker.