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bananas

por Sérgio de Almeida Correia, em 25.01.17

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 (Chang W. Lee/ The New York Times)

O editorial desta manhã do New York Times reclama que o Presidente Donald Trump apresente as suas declarações de impostos. Como aí se escreve, o conhecimento dessas declarações permitirá obter a percepção dos contornos dos seus negócios e finanças, dando ao povo a oportunidade de saber se a criatura é tão rica quanto apregoa, se paga impostos e a que taxa, quanto é que dá para obras de caridade e, mais importante, quais são as suas ligações empresariais, com que gente faz negócios e qual o seu envolvimento com a Rússia e o Médio Oriente, tudo de maneira a que potenciais conflitos de interesses vejam a luz do dia.

Não creio que o visado esteja disposto a disponibilizar tais dados, pelo que os mesmos só poderão chegar ao conhecimento público por meios ínvios, do tipo "WikiLeaks". Ou através de uma fuga de informação, o que será sempre questionável de um ponto de vista ético e moral, já que a sua divulgação se coloca no mesmo plano das escutas ou imagens obtidas ilegalmente. Ainda que o interesse público, tal como no Watergate, se possa sobrepor aos meios utilizados para lá se chegar.

Mas, para além disso, e independentemente do interesse público que resida nessa divulgação, que segue de braço dado com algum voyeurismo, há um outro aspecto que está a montante da transparência e do cumprimento das regras saudáveis de uma democracia e que se encontra na resposta à pergunta de se saber até que ponto é necessário conhecer os dados que as declarações encerram para se fazer um juízo sobre o fulano. O comportamento de Trump antes e durante a campanha eleitoral, o discurso de posse, a forma como trata a mulher em público, desconsiderando-a e repreendendo-a ostensivamente, o modo como se refere a jornalistas e adversários políticos, a sua profunda arrogância e a ignorância evidenciada, bem como a de todos aqueles que o rodeiam, a começar pelo novo porta-voz da Casa Branca, uma espécie de australopiteco da era digital, levam-me a questionar a necessidade da apresentação pública dessas declarações.

A transparência ficaria a ganhar, seguramente, mas isso seria importante para se conhecer melhor o Presidente?

A amostra já foi mais do que suficiente. O que vai ser interessante de seguir nos próximos tempos será ver até quando os EUA e a sua opinião pública estarão dispostos a manter na Casa Branca um indivíduo que se comporta como um ditadorzeco sem nível de uma qualquer república das bananas, sendo que neste caso as bananas são os milhões de dólares e de estado-unidenses, de porta-aviões, de jactos de combate, tanques, drones sofisticadíssimos e armamento nuclear.

The Economist, ao fazer uma viagem pela Biblioteca e Museu de Richard Nixon, em Yorba Linda (Califórnia), perguntava se um mau homem pode ser um bom presidente. A mim parece-me que ter em Washington uma espécie de Duterte ou de Maduro louro com uma boquinha de enchedor de balões, de onde quando não sai apenas ar saem asneiras, não pode dar segurança a ninguém. Ainda menos aos seus concidadãos, mesmo numa república das bananas. Por isso, como no The Economist também se escreveu, a presidência não é o trabalho adequado para um tipo amoral. Quem diz a presidência diz um lugar num qualquer governo decente. De todo.

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inteligência

por Sérgio de Almeida Correia, em 18.12.14

obama_castro_handshake_AP.jpgQuando em 2009 o Presidente Obama prometeu conduzir a política externa norte-americana, relativamente a Cuba, numa nova direcção, o que se confirmaria desde logo com o reinício do diálogo sobre as questões da imigração que estavam suspensas desde 2003, muito poucos acreditariam que uma relação inamistosa e conflituosa que se prolongou durante quase cinco décadas, tendo múltiplos palcos espalhados pelo mundo e que perdurou para lá da Guerra Fria, terminasse da forma simples, civilizada e respeitosa que foi agora conhecida. O aperto de mão selado aquando das exéquias de Nelson Mandela, entre Raúl Castro e o seu homólogo norte-americano, obtém assim confirmação. Num raro sinal de sensatez, boa fé, inteligência e pragmatismo, os vizinhos desavindos resolveram conversar e encontrar soluções para os problemas que persistiam. Nos próximos anos a opinião pública dos dois países e das demais nações irá observar o desenvolvimento dessa relação com atenção aos mais ínfimos detalhes.

É natural que muita gente não fique satisfeita, a começar pela Rússia de Putin, a Coreia do Norte da família Kim ou a Venezuela madurista. E que outros não saibam como reagir. Mas essas são questões de somenos perante a importância do que agora se conseguiu. A simples leitura das reacções da maioria dos leitores do Gramma, jornal oficial do Partido Comunista de Cuba, ao discurso do Presidente Raúl Castro, diz bem da satisfação que a decisão transporta para a maioria dos cubanos. O risco maior, para já, estará do lado de Obama, na forma como conseguirá manter os sempre difíceis equilíbrios entre as decisões da política externa dos EUA e o acolhimento das mesmas na sua frente interna, problema que desde há muito está presente nas sempre atribuladas relações em matéria de política externa entre os inquilinos da Casa Branca, o Congresso e o Senado. Recorde-se apenas Versalhes, a Liga das Nações, a Declaração de Wilson e tudo o que se passou deste então.

Ao escolher o caminho do "socialismo próspero e sustentável", Cuba parece querer abdicar dos modelos mais radicais que conduziram muitos cubanos à pobreza e à miséria, e opta por uma via de desenvolvimento de pequenos passos do tipo chinês. 

Por outro lado, o fim do embargo a Cuba e a normalização das relações diplomáticas introduz um factor de desanuviamento e paz nas relações internacionais que constitui um excelente sinal de esperança e uma forma simpática de se chegar ao fim de um ano muito conturbado, entre outros, pelos problemas na Síria e na Ucrânia, desta vez com a perspectiva de que nem tudo foi em vão.

Oxalá que este importante sinal, que abre uma nova via no entendimento entre os EUA e Cuba, não seja destruído pelo fundamentalismo de alguns sectores mais conservadores norte-americanos, nem pelos extremismos latino-americanos, e possa constituir um modelo a seguir noutras situações - a começar pelo Médio Oriente - e um novo sopro de liberdade e progresso no golfo do México e no mar das Caraíbas.

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