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epílogo

por Sérgio de Almeida Correia, em 29.05.25

Os votos no Estrangeiro - fonte: MAI(créditos: DN/MAI)

O apuramento final dos resultados das eleições legislativas de 18 de Maio, que ontem se concluiu com a divulgação das escolhas dos eleitores nos círculos da Europa e de Fora da Europa, acaba, de certa forma, por lançar novo alerta aos partidos políticos tradicionais, à classe política em geral, e por confirmar o veredicto ditado pelas urnas em quase todo o país. 

Embora com menos 4313 votos, com a vitória nos círculos da emigração, o Chega ultrapassou o Partido Socialista (PS) em deputados e será em S. Bento o partido líder da oposição. Não apenas à maioria circunstancial e transitória da AD, mas também ao regime político saído da Constituição de 1976 e a que desde sempre firmemente se opusera.

Quanto ao "sistema", todos perceberam que o Chega já entrou para o seu lado de dentro e conseguiu aceder aos generosos fundos públicos disponibilizados pelos impostos dos portugueses a todos os partidos. O Chega pode consolidar a partir de  hoje a profissionalização dos seus quadros, ainda que possa dizer que não o vai fazer, e receberá os mesmos milhões de euros que os partidos políticos por si tão criticados sempre receberam dos contribuintes. 

O resultado obtido nos círculos da Europa e de fora da Europa, ao remeter a AD e a aliança PSD/CDS-PP para o segundo lugar aponta o enorme falhanço do discurso montenegrista junto dessas comunidades de portugueses. E destaca a perfeita nódoa que foi a acção de José Cesário e da sua equipa, não obstante as múltiplas, frequentes e na maior parte das vezes inexplicáveis, deslocações que realizou ao estrangeiro para fazer as habituais promessas e segurar o eleitorado potencial da coligação nas suas homilias para analfabetos, sacristãos e defuntos. De nada serviram as cartas enviadas para casa dos eleitores residentes no estrangeiro. E seria bom apurar o número de viagens que Cesário efectuou em menos de doze meses, detalhando-se as que fez já depois do chumbo da moção de confiança, quanto custaram – incluindo as suas ajudas de custo – e que resultados deram, quando se verifica um aumento dos abstencionistas – em 2024 votaram 6.473.789 portugueses, em 2025 apenas 6.317.949, apesar do número de eleitores inscritos ter aumentado em 31.989 – e o número de votos nulos, apesar de ligeira diminuição, continua bastante elevado (172.379 quando o ano passado foi de 189.676).  

Em relação aos votos nulos importa referir que a preocupação manifestada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que se mostrou alarmada com o facto de nalgumas mesas o seu número ser superior a 40%, é comportamento que revela muita hipocrisia. A CNE estava mais do que alertada para essa situação, a que eu próprio me referi em artigo publicado em 2022. E nem essa entidade nem os Governos de António Costa e Luís Montenegro, este com menos responsabilidades atento o curto período em que esteve em funções, fizeram alguma coisa que permitisse acautelar a repetição do sucedido.  

Confirmado que está o reforço substancial da votação no Chega, a vitória de Luís Montenegro, e o reforço da direita parlamentar,  torna-se ainda mais evidente o descalabro eleitoral do PS de Pedro Nuno Santos.  

Porém, quanto a este convém referir que não está sozinho no afundamento. Nunca será de mais dizê-lo. O líder era mau, mas os que o acompanharam não são melhores. Aquele rebanho de dirigentes oportunistas do PS que salta de secretário-geral em secretário-geral e a todos apoia, por mais diferentes que sejam, transborda de incompetência e desligamento da realidade, retirando qualquer sentido aos apelos pungentes que vêm tarde e a más horas fazer à reflexão. Reflectissem antes, dessem ouvidos a quem queria bem ao PS e ao país.  

Todos os barões e baronesas do Largo do Rato que há ano e meio entronizaram, com fanfarra e foguetes, o líder demissionário para comandar uma embarcação que já então vogava à deriva num mar encapelado, e que prenunciava os trambolhões nas vagas que levaram à inundação da casa das máquinas, varreram o convés, entrando pelos camarotes, e atiraram à água o infeliz e tonitruante capitão barbudo, deviam ser corridos.

Todo o Secretariado Nacional e os membros da Comissão Nacional do PS que teceram loas à liderança e assinaram de cruz para garantirem algum protagonismo nas filas da frente são responsáveis. Ninguém sai ileso, embora agora haja uns e umas com menos vergonha na cara e que venham dizer depois da tragédia acontecer que aconselharam o ex-secretário-geral a deixar passar o voto de confiança pedido por Luís Montenegro. Houve mesmo quem tivesse o desplante, em vez de ficar caladinha, de dizer numa entrevista que travou a sua candidatura à liderança do partido para não prejudicar o PS nas autárquicas. Um destes dias ainda vêm dizer que Pedro Nuno Santos chegou sozinho à liderança e que nunca nenhum deles o apoiou.  Enfim, é lá com eles.

Seria sim conveniente que em Portugal, que é o que verdadeiramente nos interessa, se começasse por arrumar a casa, fosse rapidamente dada posse a um novo Governo, nas ideias e nas pessoas, removendo-se os emplastros do último, e as coisas voltassem à normalidade. A começar nos aeroportos. O caos que aí se tem vivido também tem responsáveis.

Quanto ao resto, isto é, a democracia, se tiverem juízo e não andarem a perder tempo a rever com todo o folclore o preâmbulo da Constituição, equiparando-se aos dirigentes e às preocupações do Partido Comunista Chinês, como se daí dependesse o futuro da nação, o desenvolvimento do país e a alegria do povo, acabará por se reformar, continuando a acolher todos os que nela se revêem, incluindo aqueles portugueses incógnitos que nas urnas se manifestaram contra a paz podre do regime político, castigando as suas medíocres elites e as aberrações de um sistema eleitoral que teima em não se reformar e prefere continuar a afastar-se dos eleitores, empobrecendo a participação e a responsabilização individual e colectiva.

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eleições

por Sérgio de Almeida Correia, em 20.02.24

Bolteim Voto 2024 legisaltivas.jpg

Enquanto não for operada uma reforma da legislação eleitoral, que mantendo a segurança diminua a burocracia, reduza custos e assegure maior rapidez do processo de votação e escrutínio, lá começaram a chegar as cartas da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna contendo a documentação necessária ao exercício do direito de voto por correspondência, por parte dos cidadãos residentes no estrangeiro, para as eleições legislativas de 10 de Março.

Pode ser que desta vez, não havendo mais feriados e greves pelo meio, sejam contabilizados os milhares de votos que nas últimas eleições ficaram por contar.

Entretanto, gostaria de perceber qual a razão para que nos boletins de voto os nomes dos partidos e coligações que se apresentam a sufrágio surjam nalguns casos só em maiúsculas.

Quem olha para o boletim não pode ficar indiferente, visto que aquelas saltam de imediato à vista e, nessa medida, as forças concorrentes que têm o seu nome impresso exclusivamente em maiúsculas acabam por ser favorecidas.

Desconheço qual seja a magna razão que leva a que nos boletins de voto os nomes de "Nós, Cidadãos!", "Reagir Incluir Reciclar", "Bloco de Esquerda", "Iniciativa Liberal", "Juntos pelo Povo", "Ergue-te", "Partido Socialista" e "Volt Portugal" não surjam grafados nos mesmo termos em que aparecem "ALTERNATIVA 21", "ALTERNATIVA DEMOCRÁTICA NACIONAL", "ALIANÇA DEMOCRÁTICA", "CHEGA", "NOVA DIREITA", "LIVRE" e "PESSOAS-ANIMAIS-NATUREZA"? E a "CDU - Coligação Democrática Unitária" também é diferente porquê? Não faria sentido que os nomes surgissem todos uniformizados, com o mesmo tipo de letra e recorrendo a igual critério no uso de maiúsculas, tal como acontece com as siglas?

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oportuna

por Sérgio de Almeida Correia, em 26.04.15

ng4175555.jpg(foto JN)

A decisão de PSD e CDS-PP de se apresentarem coligados às próximas eleições legislativas é uma decisão oportuna por várias razões.

Em primeiro lugar, porque é natural que quem governou em coligação se apresente ao eleitorado nos mesmos termos em que governou, ou seja, em coligação. Se governaram juntos, se foram parceiros nas boas e nas más decisões, se entendem que o caminho que percorreram deve continuar a ser trilhado no futuro, então a decisão é perfeitamente compreensível e, em meu entender, sensata. Essa será a melhor forma do eleitorado avaliar o desempenho do Governo de Passos Coelho e manifestar o que pensa sobre o futuro que deve ser reservado aos coligados.

Depois, é uma decisão oportuna porque introduz clareza numa área tradicionalmente confusa. A coligação é uma medida higiénica que traz transparência ao eleitorado, promove uma adequada separação de águas e mostra ao eleitorado que ao centro há, por agora, pelo menos dois caminhos. Um mais à direita, outro mais à esquerda.

Também é uma decisão oportuna porque permitirá ao PS saber com o que conta, podendo dessa forma ver facilitada a sua estratégia eleitoral e consolidar as suas propostas para o país. Os portugueses sabem que o PS não irá manobrar nos bastidores um qualquer governo de "consenso" para o país.

Por outro lado, é ainda uma decisão oportuna porque também responsabilizará daqui para a frente o Presidente da República naquilo que disser e no que pontualmente venha a fazer quanto ao pouco, pouquíssimo, que lhe for exigido. Se Cavaco Silva pensava que ia ter um final de mandato calmo, fica agora com a certeza de que depois de todas as "asneiras" que promoveu as suas hipóteses de chegar ao fim sem mais problemas ficam ainda mais reduzidas. Essa é para ele uma recompensa merecida pelo seu desempenho até aqui.

Finalmente, a coligação que acabou de se apresentar ao país para as próximas eleições é também uma decisão oportuna porque mostra aos portugueses o pânico que grassa entre as hostes do PSD e do CDS-PP. Depois de todos os amuos, traições, sacudir da água do capote, intrigas e golpes a que o país assistiu, a coligação é uma imagem do estado a que chegaram e é a prova acabada de que só existe e só é anunciada nesta altura porque o desastre foi tão grande que nenhum dos partidos se sente à-vontade para se apresentar sozinho a eleições.

Esta é, pois, uma boa notícia para o país e que deve por isso mesmo ser devidamente saudada.

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