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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
"Tivemos encontros com vários departamentos do Partido, visitámos empresa, centros científicos e escolas. Assistimos a um concerto da Orquesta Sinfónica de Budapeste e visitámos a vida nocturna da capital da Hungria, tradicionalmente famosa em toda a Europa Central, que na altura estava a ser retomada em larga escala.
O nosso acompanhante, alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mais diplomata do que quadro partidário, levou-nos a um cabaré que na altura fazia grande furor. Mal nos sentámos, Cunhal desconfiando do ambiente segredou-nos, ao José Vitoriano e a mim: << Vamos lá ver o que sai daqui.>>
Ora, o que havia de sair, depois de uns números cómicos e de pantomina relativamente inocentes: um grande espectáculo de striptease. Aguentámos. Cunhal bastante contrafeito. À saída não se conteve e repreendeu o acompanhante, embora de modo delicado: <<O camarada devia ter-nos prevenido da natureza do espectáculo. Suponha que não queríamos vir?>> O diplomata, ainda novo, meio zíngaro, teve um momento de embaraço, mas recompôs-se, sorriu e respondeu simplesmente: << Agora trazemos aqui todas as delegações mais importantes e não tem havido protestos.>>
O espectáculo nocturno de Budapeste foi assunto muito debatido na nossa delegação, no dia seguinte, dedicado ao repouso, nas margens do Lago Balacon, a estância turística mais importante da Hungria de então." - Carlos Brito, in Álvaro Cunhal - Sete Fôlegos do Combatente - Memórias