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pândegos

por Sérgio de Almeida Correia, em 30.12.22

(créditos: Macau Daily Times)

Até há algumas semanas, os estrangeiros estavam impedidos de entrar na China, qualquer que fosse a porta e a razão para quererem entrar, mesmo não estando infectados com Covid e com todas as doses e reforços de vacinas que a Medicina colocou aos dispor das nações. Pais ficaram anos sem poder ver os filhos, casais foram separados, filhos impossibilitados de acompanharem os pais à sua última morada. Mesmo aos nacionais e residentes permanentes que se ausentassem para o estrangeiro foram impostas quarentenas de 28, 21, 14, 10 e 5 dias, códigos vermelhos e amarelos, e inúmeras despesas supérfluas para se garantir a política de tolerância zero ou "zero dinâmico".

Agora, perante uma vaga de infectados sem precedentes na China, com milhões doentes, sem qualquer controlo, e com vacinas de eficácia muito questionável, há dois aviões procedentes deste país que à chegada a Itália apresentam cerca de 50% de infectados. E que faz o país de destino? Impõe restrições à entrada de viajantes, sem discriminação de nacionalidade, exigindo que sejam feitos testes de despistagem. Os EUA fazem o mesmo, anunciando que a partir de 5 de Janeiro de 2023, quem quiser entrar nesse país, procedente da China,  de Hong Kong ou Macau, terá de apresentar um teste PCR negativo. E tal como estes, outros mais (Espanha, Malásia, Coreia do Sul, Japão) farão o mesmo.

Não me parece que seja algo de excessivo ou incompreensível perante a situação que actualmente se vive e que os próprios órgãos de comunicação chineses têm difundido. A TDM tem passado no seu Telejornal algumas reportagens bastante esclarecedoras, algumas da CCTV, como sucedeu, por exemplo, nos passados dias 26 (minuto 12:40), 28 (minuta 13:40) e 29 de Dezembro (minuto 07:50). Repare-se que apresentar testes com resultado negativo para se entrar num país não é o mesmo que fechar fronteiras aos estrangeiros e não-residentes permanentes, ou criar obstáculos à saída de nacionais e obrigar os residentes a fazerem quarentenas pagas em hotéis e baterias de testes PCR à sua custa e com pagamentos antecipados para se poder viajar.

Curiosamente, depois de tudo aquilo que as autoridades chinesas fizeram, e das limitações que impuseram às suas próprias populações, aos residentes estrangeiros e a todos os nacionais de outros países que queriam entrar no país, até por razões humanitárias, veio o porta-voz do MNE chinês, Wang Wenbin, naquele estilo e com o adorável tom a que já nos habituou, com a maior desfaçatez deste mundo, dizer que, "para todos os países, as medidas de resposta à COVID têm de ser baseadas na ciência e proporcionais, e aplicar-se igualmente às pessoas de todos os países sem afectar as viagens normais e o intercâmbio e cooperação entre as pessoas", esperando que "todas as partes sigam uma abordagem de resposta baseada na ciência e trabalhem em conjunto para assegurar viagens transfronteiriças seguras, manter estáveis as cadeias industriais e de fornecimento globais, e contribuir para a solidariedade global contra a COVID e a recuperação económica mundial".

Para quem fez exactamente o contrário daquilo que afirma, inclusive contra as recomendações da Organização Mundial de Saúde, e que ainda em Outubro, no XX Congresso do PCC, reafirmava a linha da tolerância zero, não deixa de ser curioso que perante uma situação de quase catástrofe interna haja quem queira, agora, que os outros países deixem entrar livremente os seus infectados, com todas as variantes e mais algumas, e que façam aquilo que a China não fez durante quase três anos: acreditar na ciência, respeitar a proporcionalidade das medidas de contenção do vírus e não discriminar.

É só olhar para os exemplos recentes de Macau e de Hong Kong e para os custos sociais e económicos que foram impostos a estas regiões e às suas populações.

Há coisas que, de facto, não lhes faltam. Mas hoje vou respeitar a quadra, e o Pelé, e poupar-vos a lê-las.

Bom Ano para todos. Sem Covid, com saúde.

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derrota

por Sérgio de Almeida Correia, em 09.12.22

O anúncio feito pelas autoridades chinesas de abandono da política de tolerância zero, com o afastamento radical de medidas que ainda há dias eram consideradas essenciais, só foi possível devido à conjugação de duas ordens de razões.

Por um lado, a verificação de que essa política se revelava em cada dia que passava mais desajustada da realidade à medida que os casos aumentavam por todo o país, na ordem das dezenas de milhares, e a situação económica se agravava.

Depois, porque o povo se começou a manifestar nas ruas em múltiplas cidades contestando a política oficial, o regime de clausura que lhes foi imposto há quase três anos e o seu empobrecimento generalizado.

Ao contrário do que aconteceu em Junho de 1989, em que tudo se resumiu a um foco de revolta e contestação de jovens localizado e centrado na Praça da Paz Celestial, o que facilitou o envio de tropas e a "limpeza" que se seguiu, desta vez todos viram que a revolta popular contra a política de tolerância zero e os seus defensores se estendeu a dezenas de cidades, com milhares de pessoas nas ruas. A contestação foi generalizada e começou a assumir contornos violentos, como se viu pelas imagens que nos chegaram do que se passou em Guangzhou e noutros locais, com violência contra as próprias autoridades policiais.

Não fosse isso e não teria havido qualquer inflexão nas medidas. A contestação social generalizada continua a ser o pesadelo de qualquer autocracia.

Recorde-se que ainda há menos de dois meses, no XX Congresso do Partido Comunista Chinês, havia sido reafirmado que a política de tolerância zero seria para manter

Também em Macau, na Assembleia Legislativa, o Chefe do Executivo manifestava há três semanas a continuação da política de tolerância zero dinâmica e que, ao contrário de Hong Kong, prosseguiriam em Macau as políticas determinadas pelos autoridades centrais.

Tão pouco tempo depois e a RAEM é obrigada a abrir. Era inevitável que o erro teria de ser corrigido. O que ainda há dias era verdade, científico e patriótico, para ser seguido de olhos fechados, afinal hoje já não convém. Num ápice tudo mudou

A lição a retirar é a mesma de sempre: quando a inteligência, o bom senso e a justiça desaparecem das políticas governativas, para darem lugar ao seguidismo acrítico e à arbitrariedade, e aquelas apenas representam a medida da teimosia, constituindo um espelho da insensatez, do atavismo e do provincianismo, torna-se muito mais difícil dar resposta às necessidades da comunidade. E isto é válido para qualquer governante e qualquer regime independentemente da respectiva latitude.

A RAEM perdeu mais uma boa oportunidade de reconquistar a sua autonomia e mostrar o caminho a tempo e horas.

A derrota da política de tolerância zero é uma vitória da razão e da cidadania, uma derrota da arbitrariedade a coberto da lei.

Tivessem as medidas agora anunciadas, embora insuficientes, visto que as quarentenas para quem chega do estrangeiro continuam, sido tomadas há um ano, quando em todo o mundo se percebeu que o vírus tinha vindo para ficar e era preciso mudar de políticas para salvar a economia e o ganha-pão da maioria, e ter-se-ia encetado o caminho da mudança muito mais cedo, com muito menos prejuízos e poupando a todos os elevadíssimos custos sociais, económicos e financeiros que nos foram impostos. 

É preciso voltar à vida rapidamente. Sem medo, não chorando sobre o tempo perdido. Quem não se vacinou que se vacine, que se proteja, e que acorde para a realidade. O mundo não pára, não espera por nós.

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descaramento

por Sérgio de Almeida Correia, em 06.12.22

AL_RAT-kits.jpg.webp(créditos: Macau Daily Times)

Como se não bastassem já todos os constrangimentos a que os residentes estão sujeitos, agora ainda têm de participar no pagamento de kits de auto-testes rápidos de antigénio.

Antes foram os encargos com as máscaras azuis que não servem para nada, e que logo ao primeiro surto a sério, como foi o de Junho passado, o Governo recomendou às pessoas que não as usassem, optando antes pelas KN95 ou modelos superiores. Como neste momento não há nenhum surto activo podemos voltar a usar máscaras inúteis para irmos ao bufete buscar o pão-de-ló e a salada de frutas.

Em relação àquilo que é o cumprimento de um dever cívico, que deveria ser um acto de patriotismo para protecção dos próprios e de toda a comunidade, que é a vacinação, o Governo sentiu-se na obrigação de oferecer vales pecuniários às pessoas com mais de 65 anos, aqueles cujas taxas de vacinação são mais baixas e que mais resistem à vacinação com argumentos espúrios, vales que podiam depois ser trocados em estabelecimentos como o Supermercado Luen Fong, a Pastelaria Maxim’s e os estabelecimentos da cadeia McDonald’s (porquê estes e não outros?). 

Aquilo que devia ser penalizado, que é a falta de vacinação, a falta de sentido cívico, a falta de patriotismo que a todos nos trama, para o Governo de Macau continua a ser irrelevante. 

Tanto faz ser vacinado como não-vacinado que os encargos e incómodos são os iguais para todos. Quem não se vacinou continua a poder circular livremente, a frequentar serviços públicos, a entrar e sair sem restrições, e até pode receber vales pecuniários por não ter feito o que deve. O absurdo é total. 

Por causa dos que não se vacinaram, e da estupidez que tomou conta de tudo, todos estão sujeitos a limitações à sua liberdade de circulação, à sua liberdade de deslocação, de reunião e até de convívio, obrigados a usar máscaras – mesmo que por vezes seja só para a fotografia oficial –, a fazerem testes por tudo e por nada para entrarem num serviço público, seja num tribunal para consultar um processo ou assistir a uma audiência de julgamento, seja para participarem em cerimónias públicas e eventos festivos privados; isto para além das desgastantes e dispendiosas quarentenas em hotel impostas a quem se atreve a sair para o estrangeiro.

A imposição da aquisição de kits pelo Governo da RAEM aos cidadãos é mais uma medida abusiva, insensata e que servirá apenas para dar dinheiro a ganhar aos fabricantes, vendedores e intermediários que fornecem os SSM, e que até hoje a maioria desconhece exactamente quem são e quais as suas margens de lucro.

Repare-se, por exemplo, que o Festival da Gastronomia, junto à Torre de Macau, durou dezassete dias. Havia lá gente infectada a passear, mas o Governo entendeu que não havia risco, ou o risco era "controlável", para a comunidade. Desde o dia 28 de Novembro são já 56 casos. Quantos se devem ao Festival de Gastronomia? Quantos tinham a vacinação completa com as doses de reforço? 

Em contrapartida, no Festival da Lusofonia, com meia-dúzia de falantes lusófonos, sedentos por uma bifana e uma caipirinha, num evento que só durava três dias e onde não havia qualquer infectado, considerou-se que havia risco, ou risco "incontrolável", concluo eu, e toca de fechar tudo a correr antes do último dia.

Tenho pena que a presidente da Casa de Portugal não tenha um nome parecido com o do presidente do Festival de Gastronomia. Muito provavelmente também não teria havido risco, pese embora o laxismo do controlo deste último.

Fica, pois, a sugestão de no próximo Festival da Lusofonia a organização arranjar uma comissão de honra que integre, pelo menos, um deputado do regime para presidir ao evento. Ao mesmo tempo podia-se pedir-lhe ajuda para encontrar alguém que também fornecesse umas máscaras KN95, coloridas e alusivas ao evento, e kits de auto-testes rápidos para venda no local durante três dias para assim se diminuírem eventuais riscos e se aumentarem os números do negócio (das máscaras e dos kits, que as bifanas não dão dinheiro).    

Se é do interesse do Governo que se façam esses testes por tudo e por nada, então deveria ser aquele a subsidiá-los na íntegra e a distribui-los por toda a população. Como faz com as câmaras de segurança pelas ruas. Ou, então, deveriam ser distribuídos kits gratuitamente a todos os que se tenham vacinado com as duas doses mais as duas de reforço. Os que sem razão recusam a vacinação ou rejeitam as doses de reforço que paguem os kits. Em Portugal, os comunistas diziam que os ricos é que deviam pagar as crises, não os pobres ou remediados. Aqui deveriam ser os egoístas e os insensatos.

Este seria sempre um custo muitíssimo inferior por comparação com os milhares de milhões que se têm desbaratado em rondas sucessivas de testes, em períodos de observação disparatados e à caça de "turistas" infectados, enquanto se corre com os trabalhadores não-residentes sem haver quem os substitua, delapidando-se sem racionalidade as reservas financeiras da RAEM e a qualidade de vida da população.

Sim, porque de cada vez que chega alguém para passear na RAEM, ou para participar em maratonas internacionais sem estrangeiros, ou em festivais gastronómicos que se prolongam por mais de duas semanas e por onde andam infectados, ou quando há residentes sem vacinas que vão ao lado de lá às compras ou em visitas de estudo e regressam contaminados, voltamos sempre ao mesmo.

Aqui, em Macau, todos pagam por igual a falta de descaramento, a pouco patriótica resistência à vacinação e as decisões desproporcionadas e destituídas de razão.

Decisões que no interior da China levaram ao cansaço e ao descontentamento generalizado das populações, originando manifestações de rua, e que obrigaram as autoridades à mudança de critérios e de medidas.

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saga

por Sérgio de Almeida Correia, em 05.12.22

l-1.jpeg(créditos: The Macau News e IDM)

E lá se realizou mais uma edição da Maratona Internacional de Macau, que de internacional só tinha o nome face à ausência de atletas estrangeiros, tal como aconteceu na edição anterior.

Os mais bem preparados atletas do interior da China dominaram a competição, deixando aos locais os lugares secundários. O desinvestimento no desporto e a ausência de políticas também se mede por aqui, pela falta de competitividade e de resultados dos atletas locais, sujeitos há um ror de anos às mesmas políticas e aos mesmos dirigentes que a ninguém prestam contas.  

Desportivamente, porém, a grande nota foi mesmo o facto de ser uma corrida caseira, limitação imposta pela política de tolerância zero dinâmica e as medidas de controlo da Covid-19.

Esta circunstância reflecte bem até onde vai o ridículo e falta de sentido das medidas. Os "patriotas" locais esforçaram-se por berrar a pedir o fecho das fronteiras à entrada de estrangeiros, com medo do vírus, mas agora o vírus chega sempre do interior do país. Desta vez foi uma atleta que correu infectada vinda da província de Guangdong

Isto significa que não serviu para nada que se impedisse a entrada de estrangeiros, mesmo sãos, durante quase três anos, porque o vírus viajou na mesma para Macau e não precisou de fazer quarentena. Um senhor viajante.

Depois, o que aconteceu também prova que não serve para nada estarem a pedir-se testes a quem vem do interior da China, se logo no dia seguinte acusam positivo, porque afinal os contaminados podem circular livremente pelo Cotai, fazendo compras e comendo por aí sem necessidade de respeitarem as quarentenas impostas a quem chega do estrangeiro.

Para além disso, também não se percebe, de novo, qual a razão para se permitir a vinda de estrangeiros ao Grande Prémio de Macau, embora sujeitos a quarentena, para duas semanas depois, em relação à maratona, se voltar a impedir a sua participação com a desculpa da Covid-19.

Era preferível que todos pudessem entrar e sair livremente, e que todos fossem sujeitos a uma política coerente, sem discriminação por modalidades, nacionalidades ou etnias, uma política alinhada com a OMS e com o que se passa no resto do mundo, em vez desta farsa irracional, saloia e pouco científica. 

Olhando para tudo isto, em especial para os custos impostos, designadamente os desportivos – ainda há tempos um deputado sublinhava na Assembleia Legislativa as falhas da participação de Macau em provas internacionais –, e para as exigências impostas em relação a residentes que não viajaram para o exterior, mas que para participarem em eventos locais têm de apresentar testes com resultado negativo, sob pena de exclusão, fica-se sem perceber qual a lógica destas medidas.

Andamos nisto há praticamente três anos. Vamos passar mais um Natal com limitações de viagem, com zonas vermelhas, amarelas, algumas de cor de burro quando foge, não se podendo sequer participar em provas em Hong Kong (ninguém vai a HK correr num sábado ou domingo para depois ficar mais de uma semana "internado" e com código vermelho como se fosse um leproso na Idade Média) e verifica-se que a política de tolerância zero só serviu para esconder o problema real, disfarçando as infecções internas, endurecer o controlo policial sobre gente pacífica e agravar as condições de vida da maioria da população.

Esta manhã, a Agência Xinhua informou que a Comissão Nacional de Saúde da RPC registou no domingo mais 4247 casos de "transmissão local confirmada", o que não deixa de ser uma vergonha com custos pesadíssimos para a maioria da população e para quem tinha anunciado a derrota do vírus. 

Estamos a pagar os custos da tolerância zero. Resta saber durante quanto tempo mais.

Amanhã, a conta-gotas, por força do descontentamento popular, tal como está a acontecer no interior da China, poder-se-ão ir alterando as medidas, para se salvar a face e se evitarem as pouco prováveis manifestações nas ruas, que nunca seriam autorizadas pela PSP com o aval do secretário para a Segurança, ou as folhas de papel em branco, mas os verdadeiros responsáveis pela tragédia política, económica e social que todos estamos a viver na RAEM continuarão por aí, e por ali, escondidos, sem que nada lhes aconteça, sem prestarem contas à população. Insensíveis ao sofrimento alheio e aos custos da sua teimosia insensata e irresponsável.

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preocupante

por Sérgio de Almeida Correia, em 01.12.22

image-4.jpg(créditos: Carmo Correia/Lusa)

Mais um mês e estaremos a completar três anos sobre o início da pandemia. A esperança de um rápido regresso à normalidade desapareceu com a sucessão dos anos. E com a partida da esperança foram também muitos sonhos, promessas, encontros e reencontros que nunca mais terão lugar. Vidas que nos fugiram, sorrisos que se evanesceram para nunca mais voltarem, beijos e abraços que jamais serão dados.

A tudo isso se somou, aqui onde estamos, o aproveitamento da situação para tratar de inventariar e catalogar cidadãos pacíficos como potenciais criminosos, portadores e disseminadores de um vírus terrível, uma nova peste que se queria à força que fosse estrangeira e que, afinal, surgiu, percorreu mundo e sempre esteve entre nós. No meio de nós, não distinguindo etnia, nacionalidades ou preferências de género.

Andou disfarçado e escondido, sob a ilusão da tolerância zero, para agora reaparecer em força, invadindo o interior do país, provocando agitação, desconforto, mobilizando os censores, passeando-se por aí, colocando à prova a nossa paciência ao mesmo tempo que expunha a falência das políticas, o fracasso do processo de vacinação, enfim, a ausência de humanidade e racionalidade nas escolhas e no modo como durante estes anos se lidou com a situação.

Três anos de empobrecimento contínuo a todos os níveis: económico, financeiro, social, psicológico, educativo, desportivo, gastronómico, cultural, laboral, empresarial. Custos que serão pagos por mais do que uma geração, embora haja quem não se importe, persista na ignorância, resista à ciência, despreze a integridade e prefira resignar-se à prisão, à solidão e à pobreza enquanto busca razões para a sua própria insensatez.

E quando o silêncio de tudo toma conta, lá surge a notícia envergonhada no jornal, na televisão, nas redes. Um dia é um, no outro dia é outro. É a mulher que "cai" do nono andar, é o desgraçado que é atingido pelo corpo desamparado que se estatela; é o septuagenário que o filho encontra "pendurado" ao chegar a casa.

A escuridão da vida pública é o caminho mais célere para a injustiça. Para a estupidez. E o filme está para continuar até que um campónio convoque um concílio para se debruçar sobre o futuro da humanidade. Enquanto isso, do lado de fora do palácio, escarafunchar-se-á a narina e testar-se-á o cachorro. Até jorrar o sangue.

A contemplação da regressão não é opção; é antes sinal de grave maleita.

Não há nada que perdoe tanto talento junto.

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leitura

por Sérgio de Almeida Correia, em 29.11.22

f4121930-6776-45c1-aba5-0576dd2c3e40_206e403d.jpg(fonte: Getty Images/TNS)

My Take, by Zhou Xin (South China Morning Post, 29/11/2022)
China faces moment of truth on its zero-Covid-19 policy amid public defiance, pandemic fatigue

"China’s zero-Covid drive is not going as smoothly as Beijing wished: the country has found itself locked in an impossible battle after trying for nearly a year to contain the Omicron variant, using its old playbook of mass lockdowns and mandatory testing to fight a faceless enemy that cannot be eradicated.
That approach, which had once convinced Beijing of the supremacy of its governance system, is looking increasingly cumbersome, costly and unsustainable.
A well-implemented zero-Covid policy is supposed to do the trick of containing the virus while keeping economic activities humming and ensuring that development is on track. But the hard reality is that the virus is now out of control, the economy is in tatters, and angry citizens are showing public defiance.
The Chinese government this month relaxed some Covid-19 controls and introduced what is known as the “20 measures”, offering hope that the country is finally pivoting to living with the virus. But if this counts as a pivot, it is a weak one, as Beijing’s overall guiding principle remains unchanged. Unsurprisingly, the move has created confusion and the big question lingers: what does Beijing really want?
For local governments, it is a burning question that awaits a clear answer. If Beijing’s ultimate goal continues to require rooting out virus transmissions in communities as quickly as possible, local authorities have no choice but to maintain universal testing, impose snap lockdowns and drag patients into makeshift hospitals deemed by some people as “coronavirus gulags” that often consist of hundreds of beds crammed together under one big roof.
A number of Chinese cities, including Shanghai, have even imposed fresh restrictions, such as keeping domestic travellers away from restaurants and pubs – a clumsy upgrade of a similar three-day ban in Hong Kong directed at international arrivals. That means tourists at the Shanghai Disney Resort can have fun taking rides and watching character parades, but they cannot dine in indoor restaurants.
Yet under the new “20 measures”, local authorities are explicitly told to refrain from imposing additional restrictions. In other words, they are directed to steer left even when the destination is on the right. Some grass-roots officials have resorted to the informal way of governance by giving out verbal instructions for lockdowns so as to leave no written evidence for people to file complaints to higher-level authorities.
Such tricks, however, have backfired as residents under lockdowns demanded proof of authorisation. In Beijing, several communities tried to negotiate over the weekend with grass-roots Communist Party committees, which are legally self-organised bodies without government authority, to lift lockdowns. Piece by piece, China’s zero-Covid system is crumbling under its own weight.
t has been a year since the World Health Organization declared the arrival of Omicron, calling it a new and different variant that would change the pandemic trajectory. Since then, many countries are forced to, or have voluntarily chosen to give up on zero-Covid-19 as a strategy.
But China, which achieved stellar performance in minimising death while maintaining economic growth in 2021, neglected the warnings and doubled down on its approach, wrongly assuming that Omicron would make no difference.
China earlier this year budgeted a 5.5 per cent GDP growth target for 2022, a clear sign of excessive confidence, and it briefly pushed for mainland-style universal testing in Hong Kong. In May, the government promptly quashed debates about Shanghai’s painful two-month lockdown by declaring war against any words or actions that “doubt, distort and negate” zero-Covid.
A lot of things have happened over the past year. China’s pursuit of zero-Covid is losing support and no longer resonates with the great majority of the population, who have had enough lockdowns and testing. It is time for Beijing to face the reality and make the right choice."

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critérios

por Sérgio de Almeida Correia, em 21.11.22

9e13084c13d3e9fe8df1c7a178a6e7de.jpg(foto daqui)

Seria importante perceber quais os critérios do Governo de Macau e dos Serviços de Saúde em matéria de controlo dos riscos epidémicos porque há cada vez mais gente que não consegue entender a razão para que sejam tomadas decisões díspares num curto espaço de tempo.

Em 30 de Outubro pp., detectada que foi a existência de um caso de Covid-19 numa trabalhadora de um casino e seus filhos, as autoridades determinaram de imediato o encerramento do casino, o sequestro dos hóspedes do hotel e frequentadores do casino durante vários dias no seu interior, o cancelamento do último dia da Festa da Lusofonia, bem como de diversas outras actividades desportivas e culturais, obrigando-se toda a gente na cidade a fazer testes durante vários dias.

Pouco mais de duas semanas volvidas, em plena semana de Grande Prémio e com um festival gastronómico a decorrer na cidade em barracas ao ar livre, em situações em tudo idênticas às verificadas na Festa da Lusofonia, mas com muito mais gente, e durante mais dias, há uma turista vinda do interior da China, em 14 de Novembro, que se hospeda no Hotel Harbourview e que quatro dias depois de se andar a passear pela cidade testa positivo. Uma outra pessoa, também vinda do outro lado, instalou-se no edifício "The Residencia Macau", na Areia Preta.  

E que dizem os Serviços de Saúde? Que o risco para a comunidade é baixo, não se mostrando necessário realizar testes em massa, e podendo, naturalmente, o Grande Prémio e o Festival de Gastronomia, que trouxeram à cidade uns milhares de visitantes, prosseguir sem limitações, ainda que ninguém tivesse de apresentar testes de ácido nucleico negativos para se sentar nas bancadas ou conviver à volta de uns petiscos.

A mim não me pareceu mal que as actividades programadas continuassem a decorrer durante o passado fim-de-semana, uma vez que entendo que a situação devia ser gerida de outro modo e que Macau, não sendo propriamente uma aldeia nos confins do mundo entregue a um chefe tribal, já há muito devia ter regressado a uma vida normal.  

Uma coisa é os visitantes de um conhecido restaurante da cidade não compreenderem a razão para deixarem de ter guardanapos decentes às refeições. Este é apenas um problema deles e de quem gere os custos insignificantes dos guardanapos, e que só tem repercussões no bem-estar dos comensais e na imagem e nível do estabelecimento. Um problema privado de caserna.

Outra coisa é todos os residentes perceberem quais são os critérios que guiam as autoridades sanitárias, para além obviamente dos políticos, para que em situações em tudo aparentemente idênticas haja diferentes decisões. Aqui, contrariamente ao exemplo anterior, os custos são elevadíssimos, dizem respeito a toda a população e têm graves consequências na saúde e bem-estar dos residentes e das empresas. Um sério problema público.

Não se percebem as exigências absurdas, e com custos elevados, para algumas situações que à partida não oferecem qualquer risco visível – outro caso de absoluta desproporcionalidade foram as limitações impostas à publicidade, aos advogados e ao exercício de direitos de defesa de arguidos num julgamento que está a decorrer invocando-se razões sanitárias –, e outras em que, pese embora estejam envolvidas milhares de pessoas que nem sequer residem em Macau, trazendo o vírus do exterior e circulando livremente pela cidade, se relaxem as medidas.

Todos nós percebemos que há cada vez mais discriminação em relação aos estrangeiros e não falantes de mandarim, embora também não compreendamos, mas ao menos que se conheçam, as razões em matéria de saúde.

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inacreditável

por Sérgio de Almeida Correia, em 15.11.22

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Compreendo que todos queiram saber o que se passa na sua terra. E também me parece pertinente que lhe seja dado algum destaque no espaço informativo mais importante do único canal de televisão em língua portuguesa. Só que daí até ao que se tem visto, começa-me a parecer um exagero sem sentido e sem qualquer justificação.

Refiro-me ao tempo de antena que é dado às conferências de imprensa dos Serviços de Saúde e às descrições detalhadas dos percursos de cada vez que aparece um infectado. Sim, um infectado. Ou dois, vá lá.

Um director de serviços agarrado a uma folha de papel a descrever minuciosamente todos os passos do infectado? O telejornal dando-lhe cobertura durante minutos a fio? Ninguém se enxerga?

Bem sei que somos candidatos a "Centro Mundial de Turismo e Lazer" com a dimensão e a mentalidade de uma recôndita paróquia transmontana ou beirã nos anos 50 do século passado, mas era escusado brindarem-nos com os números "CT" do pai, da mãe, da filha, e com a descrição detalhada da vida de cada um, do estágio que a filha está a fazer num restaurante, com indicação do nome deste, mais o que fizeram às 11:18, as carreiras de autocarros que utilizaram, e por aí fora. Podemos agradecer que não se fizessem acompanhar de animais de estimação, com o que nos pouparam aos resultados dos testes do canário e da tartaruga e ao percurso do cachorro quando foi à rua alçar a perna.

Enfim, se há momentos deprimentes em televisão, os do Telejornal da TDM, a propósito da situação epidémica, nalgumas ocasiões conseguem bater todos os recordes. Ontem foi um deles. Estavam lá ingredientes com fartura para se mudar de canal. A descrição detalhada e desinteressante para o público em geral, as imagens descoloridas num cenário vazio, o tom monocórdico, um tempo longo e vagaroso, a sensação de que nunca mais acaba a lengalenga, o martírio. E depois, quando a apresentadora regressa, as cores frias e distantes do fundo e a falta de gosto do painel também não ajudam. Cores mais alegres e mais quentes também são importantes para o estado de espírito de quem está em casa a ver. Ou em observação num hotel de quarentena.

Se em vez de um caso, de tempos a tempos, como tem acontecido, tivéssemos dezenas ou milhares de casos diários, iriam fazer o mesmo com todos? O director dos SSM não tem mais nada com que se entreter? Qual o interesse de durante largos minutos nos estarem a dar a vida do infectado e da família próxima? E a TDM tem de embarcar nisso? Isso não podia ser resumido? Qual é o critério editorial?

Tomem as medidas que se impõem, aprendam a viver com o vírus, evoluam, usem os neurónios. E poupem-nos a mais deprimência. Já basta como estamos.

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fantochada

por Sérgio de Almeida Correia, em 14.11.22

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Na passada sexta-feira, 11 de Novembro, as autoridades da RPC anunciaram a redução das suas quarentenas para observação médica para um período de cinco dias mais três, sendo os primeiros em hotel.

Como seria de esperar, logo o Governo da RAEM e os Serviços de Saúde de Macau, que, ao contrário do que acontece com os seus homólogos de Hong Kong, seguem acriticamente tudo o que seja feito do outro lado da Porta do Cerco, sem ao menos curarem da respectiva utilidade para Macau, copiaram a decisão do Governo Central e reduziram as quarentenas em Macau, para quem chega de Hong Kong, de Taiwan ou do estrangeiro dos anteriores sete dias mais três (7+3) para cinco dias mais três (5+3).

Aparentemente tratar-se-ia de uma redução. Na prática não é, e isto foi desde logo notado pelo Macau Daily Times e por todas as pessoas que não embarcam na conversa para tontos das autoridades locais. A redução é afinal um aumento de quarentena de 7 para 8 dias.

Na verdade, se antes uma pessoa estava em quarentena sete dias e depois saía, poderia fazê-lo com código amarelo, o que sendo limitativo da sua liberdade de deslocação e para poder levar uma via normal, pelo menos permitir-lhe-ia deslocar-se livremente durante os três dias seguintes sem necessidade de ficar confinado às paredes de uma casa.

Agora, com a tal "redução", as pessoas saem com código vermelho, são obrigadas a ficar em casa, só podem sair para irem fazer testes nos três dias seguintes, os táxis podem recusar-se a transportá-las, não podem andar de transportes públicos, não conseguem sequer ir às compras, caso não tenham nada em casa, e as próprias habitações devem cumprir regras especiais se as pessoas não viverem sozinhas. O único benefício será uma redução do custo do hotel para quem tem de pagá-lo. Mas se houver uma única dessas pessoas que nos três dias seguintes à saída do hotel testar positivo, todos os que o rodeiam, e que vivam na mesma casa e no mesmo prédio, estarão em risco. Os transtornos serão superiores aos benefícios.

É óbvio que esta "redução" não tem qualquer impacto para o turismo, para a melhoria da economia da RAEM ou para a vida das pessoas, servindo apenas a propaganda oficial e para enganar os tolos para quem os SSM continuam a falar nas conferências de imprensa.

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carrossel

por Sérgio de Almeida Correia, em 28.10.22

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E ao fim de quase três anos voltamos ao mesmo. Desta vez, o alerta foi no Fai Chi Kei. Uma mulher de 66 anos, sem vacinas, que regularmente se passeava entre os dois lados da fronteira. E uma vez mais o caso é detectado pelas autoridades de Zhuhai, que depois avisam os Serviços de Saúde de Macau.

Trata-se de um filme repetido, que de novo conduziu ao fecho de uma zona da cidade, à realização de testes em massa, ao desperdício de dinheiros públicos, à insatisfação da população.

Vivemos numa espécie de carrossel que nunca mais pára, com imensas luzes e uma música horrível e repetitiva, onde nos obrigam a andar e de onde não nos deixam sair sem que haja uma montanha de limitações e exigências. A não ser que seja para se ir ao interior da China onde continuam a nascer, e continuarão, casos de infectados. Com ou sem tolerância zero, com zero dinâmico ou com outro nome qualquer que dê cobertura à teimosia.

As autoridades de Macau continuam preocupadas com os que chegam de avião, do estrangeiro, ou de Hong Kong, pessoas que estão sempre controladas, que só viajam com testes negativos e são mantidos sob sequestro durante dias a fio sem qualquer justificação. Mas, curiosamente, as situações que levaram em Macau a situações de confinamento, ao encerramento de moradores nas suas residências, ao fecho de ruas, de bairros e da própria cidade, como sucedeu há três meses, vieram do interior da China, de e para onde muitos residentes de Macau se deslocam nos dois sentidos, de férias e em excursões, uma delas promovida por uma "escola patriótica", sem qualquer vacinação e sem estarem sujeitos às regras apertadas que se impõem a quem chega são e vacinado do estrangeiro, ou que aqui vive diariamente sem se deslocar a qualquer outro lado.

Agora dizem que vão apertar as regras das excursões, exigir mais testes e em períodos mais curtos, mas a irracionalidade mantém-se em relação ao que está errado e se recusa a corrigir. Sem qualquer justificação racional ou científica. Basta ver que para se ir à Oktoberfest do MGM é preciso realizar teste de ácido nucleico, mas se for para se andar "à molhada" e aos encontrões na MIF, num espaço interior, exíguo entre expositores, onde há muito mais gente a circular, já ninguém quis saber dos testes. Qual a diferença? Quando dentro de algumas semanas se realizar o Grande Prémio caseiro e um tipo for para o meio daqueles milhares na curva do Hotel Lisboa ou na bancada do reservatório também vão pedir testes? Será que tudo isto continua a ter algum sentido?

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insultuoso

por Sérgio de Almeida Correia, em 21.10.22

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Para quem reside em Macau e ao longo dos últimos dois anos e meio se viu impedido de levar uma vida normal devido às restrições impostas pela pandemia, tendo estado sujeito, caso se ausentasse para o estrangeiro, fosse por que razão fosse – tratamento médico, visita a familiares, acompanhamento de um funeral, participação em seminários ou congressos ou férias – a quarentenas de 14, 21, 28, 10 e, mais recentemente, de 7 dias, acrescidos de mais uns quantos de observação médica em casa, com código amarelo e acompanhados de múltiplos testes de ácido nucleico, não deixa de ser insultuoso ouvir a Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura dizer que está agora, a um mês da corrida, a ser estudada a hipótese de redução de quarentena para os pilotos que queiram vir ao Grande Prémio

E isto acontece, note-se, depois do Presidente do Instituto dos Desportos ter pomposamente anunciado a vinda de mais de dez pilotos estrangeiros.

Ora, se estes fizessem questão de vir a Macau, ainda que com quarentena, não haveria necessidade de estar a negociar com eles, a menos de um mês da data prevista para as corridas, a sua vinda. Muito menos a negociar a entrada de apenas meia-dúzia de pilotos, da metade inferior, diga-se de passagem e com o devido respeito por todos eles que não têm culpa nenhuma do que está a acontecer, admitindo-se um eventual regime de excepção de duração mais reduzida.

Já todos tinham percebido que de um ponto de vista político, social e económico a gestão da crise pandémica em Macau tem sido um desastre. Mas desportivamente não fica atrás, tendo-se apostado em igual nível. E não só nos desportos motorizados, também no futebol, no hóquei em patins, no voleibol e noutras modalidades. 

Aquilo que havia de verdadeiramente importante em relação ao Grande Prémio de Macau era a obrigação de preservar o seu estatuto internacional, o que foi desprezado a partir do momento em que em todo o mundo se começou a regressar à normalidade e aqui ficou tudo na mesma, sendo incompreensível para muita gente do desporto automóvel mundial, como ainda este ano me pude aperceber quando acompanhei a última edição das 24 Horas de Le Mans, que se tivessem deixado cair as principais provas internacionais.

Muito mais importante do que trazer um punhado de pilotos de motas ao Grande Prémio de Macau era ter assegurado este ano, depois de dois anos de interregno, a continuidade da corrida de F3, a Taça do Mundo de GT e a etapa macaense do Mundial de carros de turismo.

Ao invés, anda-se a enganar as pessoas, atirando-se-lhes areia para os olhos, anunciando-se a vinda de pilotos – e os mecânicos e demais pessoal das equipas também vão ter um regime de excepção em matéria de quarentenas? – que ainda ninguém sabe se virão, a gastar dinheiro com eventos absurdos (melhor prova são os reduzidos patrocínios angariados este ano), sem qualquer interesse desportivo, e a negociar a vinda de pilotos para a corrida de motas, invertendo-se as prioridades e sem a mínima noção do mal que se está a fazer a Macau, ao seu Grande Prémio e ao prestígio internacional de uma jornada do desporto automóvel construída ao longo de décadas e que se tornara incontornável no calendário mundial.

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dúvidas

por Sérgio de Almeida Correia, em 19.09.22

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De todos os líderes dos países que estiveram representados no convénio de Samarcanda, quantos usaram máscara de "modelo KN95 ou superior" ou máscara cirúrgica? Quantos respeitaram uma distância entre si de, pelo menos, 1,5 metros? Quantos têm uma política de tolerância zero ou "zero dinâmico" nos seus países? Quantos destes paíes retomaram a normalidade? Quantos mantêm populações confinadas e obrigam ao uso de máscara? Quantos obrigam os seus residentes e os viajantes oriundos do estrangeiro a programas de quarentena em hotel? Quantos vão fazer quarentena no regresso? Dos países ali representados, quais é que são, tirando os que enfrentam situações de guerra, instabilidade interna ou embargos internacionais, os mais atrasados na sua recuperação económica e que se confrontam com mais problemas desde o início da pandemia?

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académicos

por Sérgio de Almeida Correia, em 07.09.22

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Ontem e hoje a comunicação social em português (A um passo do céu, na edição impressa) e inglês (Local scholars Consider Gov’t pandemic response faultless’) deu conta de um estudo (research paper) de dez académicos, nove de Macau e um da RPC, publicado no International Journal of Biological Sciences, 2022, vol. 18., sob o título "COVID-19 prevention and control strategies: learning from the Macau model.".

Estou certo de que toda a gente vai aprender imenso com o que se publicou. O estudo é demonstrativo do talento de alguns académicos que temos por cá. Estão de parabéns.

Houve quem reparasse no facto dos reviewers, que eu desconheço quem foram, e que aprovaram o estudo para publicação tivessem sido indicados pelos autores, o que para mim é uma novidade, pois que normalmente os reviewers ou peer reviews são personalidades com prestígio científico, independentes e anónimas da escolha da publicação, que se admite prestigiada, onde se pretende publicar e que a validam.

Contudo, há sempre novidades nos meios académicos de Macau, e aquela foi uma delas. A outra, o que confere ainda mais elevado valor científico ao estudo, é que apenas 30% dos reviewers tinham de ser de outro país. Um número ainda assim alto.

Outro dado interessante é que o referido estudo, presume-se que na sua versão final, pois que não me parece razoável enviarem-se rascunhos para análise científica, foi submetido para apreciação em 17/12/2021, aceite para publicação em 16/7/2022, e publicado em 21/8/2022.

Não fossem esses detalhes e eu não teria reparado, por mero acaso, que tendo o estudo sido submetido em Dezembro de 2021 e aceite para publicação em 16 de Julho deste ano, já contém dados até 11 de Agosto de 2022. Brilhante. Fiquei a pensar se essas alterações introduzidas depois da aceitação para publicação mereceram qualquer apreciação pelos reviewers, mas não deixa de ser notável, quase fantástico que assim tivesse acontecido. Um verdadeiro contra-relógio. Mais uma semana e sairia com os dados de Outubro e antes destes serem conhecidos.

É claro que um estudo com estas credenciais só podia recorrer a fontes altamente credíveis. E elas estão lá todas. Das 67 (sessenta e sete) referências bibliográficas – vamos chamar-lhes assim – , é citado 1 (um) artigo de 2020 (vol. 16), por acaso publicado na mesma revista.

A esta referência juntam-se 30 (trinta) citações de artigos de imprensa publicados pelo Macau Daily (Ou Mun Iat Pou), mais 16 (dezasseis) consultas a documentos e locais da Internet do Governo de Macau (SSM, DST, PSP, IAS, GPPDP, DSEC, Portal do Governo, DSAL, etc.), 5 (cinco) referências a documentos existentes na Internet da OMS (WHO) e da ONU, e, espantoso, ainda 2 (duas) citações da BBC, e mais algumas de sites tão reputados como os da Tencent, Sina, Zhuhai News, Weixin ou a Xinhua Net. A destoar ficaram apenas 2 (duas) citações das únicas fontes que me pareceram pouco fiáveis: a Revista Lancet e a Johns Hopkins University. Tenho pena que em 67 (sessenta e sete) citações só haja 2 (duas) que não sejam de locais na Internet, embora uma delas também aí esteja disponível.

Porém, num trabalho desta envergadura é natural que não se possa exigir mais.

Tudo isto confere uma aura de tal cientificidade ao trabalho dos académicos de Macau que deviam ser estes aqueles a quem na Assembleia Legislativa alguém se referia dizendo que tínhamos de empregar em Macau alguns prémios Nobel e medalhados olímpicos. Estes ainda não o serão, mas se continuarem a publicar a este nível os académicos da Universidade de Macau (UM) são capazes de receber esse tão respeitado galardão do Nobel. Não uma, nem duas, nem três, mas várias vezes, com o que poderão dispensar mais uns quantos TNR e comprar mais terminais para acederem a mais locais interessantes na Internet.

Motivos que me levam a deixar aqui registado com comovida satisfação uma parte das conclusões finais a que a imprensa deu justo destaque: "Generally speaking, the measures and methods for managing COVID-19 in the Macau region have almost reached perfection, with the only shortfall that the economy has not yet recovered to its level as of before the pandemic outbreak because the economic connections between Macau and other countries are almost at a standstill.".

Perfeição. Evidentemente. Melhor era impossível, tanto no conteúdo quanto nas fontes.

Já antevejo o salto que a UM vai dar no ranking das universidades. No mínimo serão uns 200 a 300 lugares para gáudio do Prof. Rui Martins, do Prof. Jorge Godinho, e de todos os outros académicos que associam o seu nome à UM e que de quando em vez nos ofertam estas pérolas. 

O talento está aí. Não há nada como ver a credibilidade e a reputação internacional da UM a treparem pelos rankings acima.

Todos os PhD., MSc, Ed. D. e MD que assinam o "research paper" estão de parabéns. Este valeu por uma dúzia. Oxalá façam muitos mais assim. Macau agradece. Bem hajam.

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insegurança

por Sérgio de Almeida Correia, em 08.08.22

A política da "covid zero dinâmica", tal como tem sido "vendida" aos residentes de Macau pelos Serviços de Saúde, aliás por um custo muitíssimo elevado, tem sempre em vista, ao que dizem e repetem até para justificar os maiores disparates, a segurança da população.

Isso seria verdade, e muito interessante, se houvesse em termos práticos efectiva correspondência com essa ideia de segurança.

Na realidade, o que se passa é que de cada vez que surge um caso está-se sempre à procura de ver se veio do exterior, isto é, de fora da China; ou se chegou, ainda que por hipótese académica para vender à comunicação social alinhada, nos alimentos congelados; ou se veio nas cartas e encomendas distribuídas pelos CTT; ou se o vírus entrou a cavalo de algum daqueles que teve a ousadia de se ausentar de Macau, não obstante todos os entraves levantados, os custos elevadíssimos e as penas impostas pelo Governo da RAEM.

Ontem fiquei à espera de ver o Chefe do Executivo esclarecer que, desta vez, o vírus nos chegou de Zhuhai. Sim, do outro lado da fronteira, pendurado num padeiro que trabalha num supermercado da Taipa. E que não andou a veranear no estrangeiro.

E também contava que com tanta segurança dos SSM nos fosse esclarecido como é possível que o homem tivesse andado para cá e para lá, pernoitando, subindo e descendo de autocarros, pegando ao trabalho, atravessando a fronteira, cheio de códigos coloridos, de RAT e de NAT, com todos os seus passos escrutinados, até que as autoridades do outro lado informassem as deste lado, que tantos cuidados têm para nos protegerem e não deram por nada, de que havia uma pessoa com um vírus à solta.

Não se percebe por que razão se fazem tantos testes, dando tanto dinheiro a ganhar a meia dúzia de pessoas e empresas, para depois um só indivíduo cruzar a fronteira entre Zhuhai e Macau, andando por aí à solta com o vírus, num supermercado, e logo depois obrigarem toda a gente que vive nas imediações desse estabelecimento, ainda que não tenha lá ido às compras, a fazer testes de ácido nucleico, e todos os demais a realizarem em suas casas testes de antigénio em dois dias consecutivos.

Aquilo que efectivamente se confirma, perante um caso tão corriqueiro, é que a insegurança é enorme, e que a política de "covid zero dinâmica" da RAEM é uma farsa. E não só aqui, como também se viu pelo que aconteceu este fim-de-semana numa ilha aqui perto, sem estrangeiros.

Por mais voltas que se dêem, por mais acusações que façam aos outros e aos produtos que chegam de fora, por mais bodes expiatórios que procurem, à primeira situação entram em pânico e causam transtornos e prejuízos a toda a gente, menos aos que estão a lucrar milhões com os testes.

Com um exemplo tão simples, e vindo de dentro da própria casa, se demonstra a impossibilidade de controlo de um inimigo invisível que não se compadece com a cartilha nacionalista e xenófoba de alguns crânios.

Não há nada como um banho de realidade para lhes demonstrar o quão errados estão. Bastou um caso para a casa ruir.

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mal

por Sérgio de Almeida Correia, em 03.08.22

Tenho criticado as conferências de imprensa dos Serviços de Saúde de Macau sobre a situação da Covid-19. Não porque não sejam necessárias ou importantes; antes pelo que representam de atraso e paroquialismo quanto ao que ali se diz e como se diz sobre questões importantes.

Tem-se ouvido de tudo um pouco. De coisas sérias a banalidades, de dados estatísticos correctos a conversa fiada, disparates e pura propaganda. Repare-se que, muitas vezes, o que ontem era mentira hoje é verdade, e tudo é dito com igual, por vezes atabalhoada, monocórdica displicência.

Voltou a acontecer, e não será a última, com a defesa de medidas que são um insulto à inteligência de qualquer residente.

Houve quem sublinhasse a ausência de um plano de saída da crise e de abertura das fronteiras, cuja premência é cada vez mais visível, em especial depois de conhecidas as exigências que os candidatos à atribuição de concessões no próximo concurso dos jogos de fortuna ou azar devem satisfazer. Andrew W. Scott teve oportunidade de referir o irrealismo de algumas dessas condições incluídas no caderno de encargos que se colocadas de outra forma ou num contexto diferente do que nos é dado viver poderiam fazer sentido. Acrescentar aqui algo mais seria despiciendo.

Contudo, quero recordar que quando o afastamento da realidade se torna tão notório por parte de alguns dirigentes, e as decisões se apresentam de tal modo caricatas que somos tentados a beliscar-nos, passamos do que é confrangedor e deprimente para o campo da alucinação. E não será caso para menos quando há decisões que sendo tão cientificamente indefensáveis, e socialmente desajustadas, surgem justificadas com a maior desfaçatez perante o auditório como se verdades absolutas fossem.

As explicações dadas a um jornalista sobre a eventual origem da vaga de Junho, e a insistência na realização de análises em alimentos vindos de fora, isto é, de qualquer lado menos do interior do país, à revelia daquilo que é o entendimento do Governo Central e da OMS, e sem que concomitantemente seja dada uma resposta clara e se apresentem os tais estudos, não merecem qualificativo. 

A imolação de funcionários em conferências de imprensa não abona a favor de quem lá está a prestar as justificações, inexistentes, para supostamente esclarecer a opinião pública. Menos ainda funciona em benefício de quem os manda para lá arrastarem-se durante meses, semanas e dias seguidos para explicarem o que foi decidido por um obscuro comissário político e carece de senso, de razoabilidade. Porque esta simplesmente está ausente e a explicação não pode ser dada.

Para quem assiste, a insistência torna-se então sinal de um mal maior, muito maior. Vem nos livros.

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