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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Basta olhar para os títulos dos jornais e ter tomado atenção ao que a televisão e a rádio têm referido para se perceber que o conflito entre o Presidente do Tribunal de Última Instância e o Presidente da Associação dos Advogados de Macau não só não traz nada de bom como não augura um futuro melhor.
A minha leitura é que o conflito passou do plano pessoal para o institucional. As consequências são óbvias.
Ainda esta manhã se lia que "Neto Valente pede a juízes para contrariarem 'mau exemplo' de Sam Hou Fai". Noutro local era o "Presidente em causa própria" que saltava aos olhos de todos. Num terceiro matutino sublinhava-se que "Neto Valente renova criticas a Sam Hou Fai". E para quem não leia em português, o Macau Daily Times esclarecia que "Neto Valente accuses Sam Hou Fai of being 'judge in his own cause".
De uma coisa já todos temos a certeza: estiveram ambos mal. Muito mal.
Erros todos cometemos, alguns mais do que outros. E recorrentemente no caso de algumas personagens; sendo que saber quem aqui tem ou não teve razão é para o efeito absolutamente indiferente quando se conhece o que vem de trás e que de cada vez que há fumo só meia-verdade se revela. Porque nunca convém que se saiba tudo.
Em todo o caso, o mau serviço que está neste momento a ser prestado à justiça e à advocacia pelos protagonistas é notório. E se saída há confesso que só vejo uma, qual seja a de cada um ir à sua vida, deixando as instituições renovarem-se e funcionarem (apesar de eu não acreditar que isso possa vir a acontecer num futuro próximo).
O que está na rua desprestigia-os tanto a eles como às instituições a que pertencem e à RAEM.
Talvez o Chefe do Executivo possa fazer uso dos seus bons ofícios para colocar um ponto final nesta bagunça. A ver se isto acalma.
“Contrariamente ao que circula por aí, o Gabinete de Ligação, se realmente comunicou com o Festival e desaconselhou [os escritores] a vir, eu penso que isto é de louvar, porque quando falha o Governo, se não há outra entidade para pôr mão nas coisas, acaba por ser o Gabinete de Ligação” – Jorge Morbey dixit
Primeiro ouvi. Depois li na página da TDM – Rádio Macau. E fui confirmar.
Bom, se o JTM e o HojeMacau também reproduzem no essencial as declarações do Dr. Morbey é porque efectivamente o disse.
Bem sei que nem o Ponto Final nem o Macau Daily Times deram acolhimento às declarações proferidas, mas estou convencido de que só não o fizeram porque os seus jornalistas não devem ter acreditado no que ouviram e leram. Uns tansos.
É natural, evidentemente, que o Dr. Morbey, que nunca foi propriamente um tipo das esquerdas, daqueles que andavam por aí a berrar pela democracia, o sufrágio universal e os direitos humanos, já antes de 1999, considere a malta do Gabinete de Ligação uns "tipos óptimos". Aliás, estou convencido de que deve haver outros, tão ou mais coerentes do que ele, que são da mesmíssima opinião, mesmo em Macau, embora não se manifestem com o seu à-vontade.
Pessoalmente, acredito que o Dr. Morbey depois de ter expressado o seu apoio ao deputado Sulu Sou, e de ter dito que a Assembleia Legislativa de Macau não é uma assembleia democrática, o que é sempre discutível, voltou a ter um momento de lucidez. E regressou à pureza do seu pensamento.
Não sei se o objectivo do Dr. Morbey era, como alguém diria, colocar-se a jeito (para quê?), mas é claro que o Dr. Morbey não é como esses portugueses que têm interesses no jogo e no imobiliário e que não vão a manifestações. Com excepção, já se sabe, daqueles que passam os doze meses do ano ansiosos na expectativa de poderem desfilar nuns lindíssimos e garridos fatos de treino, mais as suas barrigas, pelas ruas da cidade. Ele não é como aqueles palermas que têm medo de perder o emprego, de serem recambiados para Portugal, e que por isso estão dispostos a fazer todos os fretes e mais alguns. E fazer vénias aos senhores de Pequim, mudar de passaporte ou dar lições sobre a forma como o autoritarismo funciona não é seguramente com ele. Ainda menos comigo.
Espero é que o Ricardo Pinto e os "tipos óptimos" do Gabinete de Ligação, mesmo aqueles que por lá passaram e estão agora a ser investigados do outro lado da fronteira, sejam compreensivos. E percebam que aquilo que é hoje verdade pode ser mentira amanhã. E vice-versa.
Não sou de dar conselhos a ninguém. Muito menos a um historiador. De qualquer modo, permitam-me a ousadia, gostaria apenas de vos recordar que qualquer historiador que se preze (também podia ser advogado para não dizerem que me ponho de fora), com pretensões à eternidade, não ignora que o segredo destas coisas está em saber de que lado sopra o vento quando o tufão se aproxima. Isto é, ter um cata-vento ligado às vísceras. E se possível à conta bancária.
É sempre desagradável ver um historiador com as datas baralhadas. De repente, um tipo sem saber porquê fica do lado errado da História. Que Deus me perdoe. Um desastre.