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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
O Festival Internacional de Música está quase no fim, mas depois de mais um concerto memorável com Herbie Hancock, foi de novo necessário voltar a enfrentar a irracionalidade de quem gere o estacionamento do CCM.
Durante muitos anos nunca foi preciso pagar pelo estacionamento no CCM. A pessoa precisava de comprar um bilhete, ir a uma exposição ou assistir a um espectáculo, e enquanto houvesse lugar podia estacionar naquele local.
De há algum tempo a esta parte, creio que desde o final da pandemia, o estacionamento passou a ser cobrado.
Trata-se de uma fonte de receita perfeitamente legítima, embora me pareça desadequado que uma família compre bilhetes para um espectáculo, desembolse umas centenas ou milhares de patacas, e no final tenha de estar 25 ou 30 minutos para sair do estacionamento devido ao tempo que se leva a chegar à cancela e a pagar para retirar o veículo.
Já me aconteceu sair sem pagar, por ordem do pessoal de serviço, porque a câmara, mal colocada, não conseguiu fazer a leitura da matrícula – um dos números não ficara registado – e por isso a maquineta não aceitava o pagamento no momento da saída e ao fim de meia-hora de espera. Exasperados, os outros automobilistas começaram a buzinar, solução que dessa vez serviu para resolver o problema.
Muitos condutores não têm o mínimo sentido cívico – a PSP devia fazer uma campanha de apelo ao civismo porque o problema acontece sempre que há engarrafamentos, no acesso às pontes ou nalgumas rotundas – e impedem a entrada dos outros. Há quem vire a cara para o lado, fazendo de conta que não vê que também está ali ao seu lado um veículo com gente dentro à espera para entrar ou sair – muitas vezes um autocarro carregado de gente –, e ignoram que se houver um mínimo de civismo ao volante a circulação se torna mais fácil e rápida para todos.
No caso do parque de estacionamento subterrâneo do Centro Cultural devia haver a possibilidade de se poder comprar antecipadamente um bilhete em dias de espectáculo. Poderia ser entregue à entrada. Ou então o acesso devia ser franqueado gratuitamente a quem estiver munido de bilhete para qualquer evento que ali ocorra, o que evitaria longas filas e que se perdesse tanto tempo na saída. As cancelas poderiam estar abertas logo após o final dos espectáculos. Ninguém quer ali pernoitar.
Na rua é difícil estacionar. Os parquímetros das redondezas estão limitados a duas horas. Há muitos espectáculos que começando às 20:00 horas ultrapassam esse período máximo, havendo que contar com o tempo de deslocação do local de parqueamento até à sala.
Penso que o Instituto Cultural e quem gere o estacionamento público no CCM nas artérias adjacentes não pretende que os espectadores saiam a meio dos espectáculos para irem pagar os 15 ou 20 minutos que faltam até às 22:00 horas, hora a que os parquímetros deixam de cobrar, para assim não correrem o risco de serem multados por um desses zelosos agentes de trânsito. Não vou tão longe, mas solução haverá.
Seria bom que os responsáveis pelo Instituto Cultural e pela gestão do CCM resolvessem rapidamente este problema. Basta pensar um pouco.
O gasto de combustível e as emissões de gases nesse local e pela descrita razão são absurdos. E também afectam quem ali trabalha e é obrigado a respirar os gases libertados durante todo esse tempo enquanto controla o acesso à saída; não deixando de ser ridícula a afixação de avisos nas paredes a prevenir os automobilistas de que devem ser pacientes porque para fazerem menos de 100 metros precisam de 30 minutos.
A imagem que ilustra este texto foi obtida no passado Sábado, 10 de Março, no Centro Cultural de Macau (CCM), em dia de concerto. Actuavam a Orquestra de Macau e o violoncelista Mario Brunello. E a captação não ocorreu durante o concerto mas sim durante o seu intervalo, quando muita gente procura uma bebida qualquer, um aconchego para o estômago, uma guloseima. A casa estava cheia, muitos vieram do exterior, mas o bar estava impecavelmente encerrado.
O que se passou nesse dia no CCM não foi inédito. O bar fechado no CCM é hoje um cenário normal, que se repete, e que tem vindo a agravar-se sem que os responsáveis pelo Instituto Cultural ou o Secretário para a Cultura e os Assuntos Sociais tomem quaisquer medidas que se vejam. Até há uns meses, embora a situação já fosse deplorável e de uma pobreza franciscana, ainda era possível tomar alguma coisa. Neste momento nada. Nem uma água.
Esta é a primeira casa de espectáculos de Macau. Todavia, se alguém dissesse que estava encerrada para férias muita gente acreditaria. Apesar de recorrentemente as audiências esgotarem e de ali se realizarem muitos dos concertos do Festival Internacional de Música, do Festival das Artes ou, mais recentemente, do Festival de Cinema. Uma tristeza que é bem o espelho da falta de vistas, da desorganização e do desleixo que vai grassando para os lados das tutelas do Dr. Alexis Tam (para governar não basta ser simpático e educado).
Se o que se passa no CCM é um exemplo de Macau "governado pelas suas gentes", então o melhor é chamar alguém de fora. Alguém que seja pago para trabalhar, para fazer alguma coisa.
Será que é assim tão difícil pôr o bar do CCM a funcionar nos dias dos espectáculos? Já nem peço que aproveitem o espaço e a varanda contígua durante os dias de semana para servirem refeições ligeiras à hora do almoço ou uns snacks ao final da tarde. Isso seria pedir muito. Mas se não querem entregar o espaço ao IFT, nem fazer um concurso público para a sua exploração, coisa deveras complicada, então que convidem um dos amigalhaços da praxe para fazer esse serviço. Até pode ser um primo afastado. Um dos mais magrinhos. As adjudicações a familiares e amigos de quem manda não constituiriam novidade por estes lados, mas ao menos prestava-se um serviço aos utentes do CCM. Isto é, os que pagam os bilhetes para os espectáculos.
E, olhem, se não encontrarem ninguém disponível chamem o Clube Militar. Ninguém gosta de ficar à sede e um presuntinho, uns croquetes e umas tapas de queijo marcham sempre. O coronel Manuel Geraldes que o diga.