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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: AT, direitos reservados)
Esta manhã houve uma notícia que chamou a minha atenção. Vinha no matutino Ponto Final e tinha por título "SJM acusada de levar 'casinos-satélite' para um "beco sem saída" ao pedir mais lucros partilhados". O título é forte.
Tirando o descaramento da proponente, quando a li, logo me lembrei do que aconteceu com a proposta de alterações à lei do jogo, dos resultados da consulta pública, da discussão em seu torno, e dos sucessivos recuos por parte do Governo à medida que o deputado Chan Chak Mo se ria, com aquele ar de gozo desbragado para as câmaras de televisão, e a 2.ª Comissão da AL se debruçava na especialidade sobre o texto inicial aprovado no plenário.
As intenções do Governo passaram para os arquivos da AL. Eram tantos e tão repentinos os avanços e recuos que só podia sair uma coisa mal-enjorcada. Não sei se o sempre atento Gabinete de Ligação terá reparado nisso. Os resultados estão aí e a tal notícia é disso reflexo.
O caso é muito simples: uma das actuais concessionárias de jogo tem feito propostas de continuidade aos casinos-satélite, exigindo um "aumento da proporção das receitas partilhadas" e a assinatura de um novo acordo até 14 de Setembro, data em que termina o prazo para a entrega de propostas para o próximo concurso de jogo.
Que os casinos-satélite eram uma coisa péssima e de gosto duvidoso já era mau. Que uma coisa tão má tivesse sido permitida ao longo de muitas décadas pelo Governo ainda é pior. Que no fim se admita a continuidade do que se queria acabar à paulada, revestindo uma outra forma jurídica, e deixando entrar pelos fundos o que se queria atirar pela porta principal, é inqualificável.
O resultado é ver uma concessionária do jogo, a que pela sua história e antecedentes é a mais antiga e uma das que mais lucrou durante décadas, na triste situação de para se poder apresentar a concurso precisar de pressionar os donos dos tais "casinos-satélite", levando-os a queixarem-se em praça pública. Isto depois de há pouco tempo ter visto o seu rating reduzido pelas agências e ter sido obrigada a recorrer a uma accionista para conseguir fazer face aos encargos e à falta de liquidez, posto que os bancos, que andaram durante anos a comprar lenha a eito e não sabem como dela se livrar antes da casa começar a arder, não estavam para ali virados.
O estado de podridão a que se deixou chegar este mundo subterrâneo não tem adjectivação.
Vamos, pois, ver como irão descalçar a bota. E aguardar pelo fim da limpeza em curso, que me cheira irá ficar pela rama (a não ser que o Governo Central dê dois berros a esta malta e mande para cá alguém preparado). E esperar, igualmente, pela apresentação das propostas que vão a jogo e pelo resultado do próximo concurso. Por esta amostra, repescagens à parte, vê-se que, no mínimo, vai ser mais problemático do que o anterior.
Mas os sinais estão todos aí, ainda que haja alguns "campónios", com o queixo demasiado levantado, que não vejam um boi à frente.
O texto em língua inglesa, que vem na sequência daquele que foi publicado em 27 de Julho sobre o direito de circulação nos casinos ("ON THE RIGHTS OF MOVEMENT WITHIN CASINOS"), saiu no Macau Daily Times, de onde veio a foto que ilustra este texto, com o título "CASINO GAMING CONCESSIONS: WHAT LIES AHEAD".
A versão em língua portuguesa deste último fica agora disponível para quem quiser tirar dúvidas.
CONCESSÕES DE JOGO: O QUE TEMOS PELA FRENTE
"(...) salvo a ocorrência de uma crise económica gravíssima ou outro evento comparável, tudo aponta para a realização de um novo concurso em 2021. O cenário mais desejável é a atribuição de novas concessões" – Jorge Godinho, O futuro das concessões de jogos de fortuna ou azar em Macau, policopiado, s/data (2017)
Sei que depois de ter tido acesso ao texto de onde consta a citação anterior, o Prof. Jorge Godinho, um especialista sobre as questões do jogo em Macau, deu uma entrevista onde defende que "[f]azer um concurso público para seis concessões é um absurdo, ou seja, tem que haver algo novo para ser posto a concurso" (HojeMacau, 23/05/2018).
Discordo liminarmente desse entendimento, o que já vem de trás, até porque pode sempre aparecer gente interessada em obter uma concessão e disposta a oferecer algo de novo a Macau, que lhe seja útil e possa contribuir para uma renovação do status quo.
De qualquer modo, seja para seis ou mais concessões, para empresas a actuarem no mercado ou novas, o problema da sua atribuição sem concurso foi expeditamente resolvido em 22/07/2018 pelo Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, o responsável governamental pela área do jogo. Leong acabou com a especulação ao anunciar o concurso público. Ainda bem.
Uma vez que esta questão do concurso está arrumada, e dela houve eco internacional, convém não perder mais tempo e equacionar o que é preciso fazer a seguir.
(iStock/Getty Images)
Quem ainda tivesse dúvidas sobre as intenções do Governo da RAEM relativamente ao modo como aquele irá lidar com as actuais concessões e subconcessões do jogo ficou devidamente esclarecido com as últimas declarações proferidas pelo Secretário para a Economia.
Lionel Leong fez bem em colocar os pontos nos "iis" face às constantes insistências de alguns interesses ligados às actuais operadoras que gostariam de ver as suas licenças renovadas. Para já temos duas certezas que são ao mesmo tempo duas excelentes notícias para Macau.
Em primeiro lugar, não vai haver renovação das actuais concessões. Isto ficou claro como a água. Todas as licenças que vierem a ser atribuídas depois de expirarem as concessões em curso só serão atribuídas por concurso público.
Em segundo lugar, o Secretário para a Economia do Governo da RAEM deu a certeza de que a vigente lei do jogo vai ser alterada.
Podem por isso as actuais concessionárias e subconcessionárias começarem a preparar-se para irem a jogo logo que seja conhecido o respectivo caderno de encargos. Até lá, também podem ir fazendo contas porque as fichas vão ser iguais para todos. E a sua distribuição vai ser feita à luz do dia.
Sem constrangimentos, a tempo do tempo que há-de vir, na edição matutina do HojeMacau. Uma pequena achega para se abrirem as cortinas antes de se lançarem os dados.