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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Um excelente serão jazzístico promovido na Casa Garden, que para o efeito abriu as suas portas, fez-me recordar os velhos tempos do Jazz Club de Macau e as noites vividas há mais de duas décadas numa Macau que desapareceu.
Mas se esta cidade já não é o que era, o jazz continua aí e de quando em vez faz prova de vida graças ao empenho de meia-dúzia de músicos e amantes dessa forma de expressão musical que dá asas à improvisação, à criatividade e à livre expressão artística.
E foi bom ouvir Zé Eduardo e a nova geração de talentosos jovens locais, estes sim – não as outras avantesmas que por aí andam inchadas e emproadas –, numa sala cheia, envolvidos na sua aprendizagem e evolução, mostrando o seu saber e a sua arte, e a que nem mesmo os anos de pandemia fizeram esmorecer.
Seria, aliás, bom que se aproveitasse este recente envolvimento das concessionárias dos jogos de casino numa maior responsabilidade social e apoio ao turismo para ajudar a reconstruir um verdadeiro e genuíno festival de jazz de Macau, incentivando-se o aparecimento de novos clubes e artistas, organizando um evento anual com alguma dimensão, trazendo músicos de fora que ajudem a dinamizar e a fazer crescer o jazz local.
Se é possível doar 120 milhões de patacas para a próxima edição do Grande Prémio, o que eu aplaudo, também poderão, seguramente, com um décimo desse valor dar um apoio significativo ao Clube de Jazz de Macau e aos músicos locais, contribuindo para que se volte a ter um espaço permanente, com condições acústicas e acessível a todos, que não seja exclusivo de um qualquer hotel de luxo.
Os hotéis poderão sempre ter os seus espaços e abri-los à actuação dos seus músicos e convidados, mas não se compreende como numa cidade com as características de Macau não seja possível ter um verdadeiro clube ou espaço exclusivamente dedicado ao jazz e a formas musicais alternativas, como acontece em tantas cidades asiáticas, e em que qualquer residente ou turista possa ir tomar um copo e ouvir boa música ao vivo, num ambiente simpático, descontraído e relaxado.
Aos organizadores do evento, em especial à nova delegada da Fundação Oriente, Catarina Cottinelli, a quem endereço votos de bom trabalho para o mandato que agora iniciou, ao músico Zé Eduardo e a todos os que o acompanharam nessa noite, o meu obrigado pelo bom momento que proporcionaram a quem lá foi.
(foto daqui)
Esteve antes em Lisboa, e já aí está há alguns dias, mas como não sou muito dado a inaugurações e vernissages só no fim-de-semana, sem holofotes nem confusão, lá fui.
E confesso que fiquei francamente agradado com o que vi, não tendo por isso qualquer relutância em aconselhar uma visita. Refiro-me à exposição de fotografia comissariada por Rogério Beltrão Coelho que tem por título "Macau: 100 anos de fotografia". Está patente na Casa Garden e vale bem o tempo exigido.
Arrumada em dois pisos, com pormenores deliciosos nalgumas imagens que por lá se vêem, e para quem, dos mais novos, não conheceu a belíssima Praia Grande – antes de darem cabo dela da mesma forma que destruíram o património histórico edificado, e continuam a dar, para aprovarem e erguerem os monos que hoje temos, feios e degradados, os quais não serviram para outra coisa que não fosse o enriquecimento de alguns dos nossos tribunos e de mais meia dúzia de cavalheiros –, é uma oportunidade de revisitar o passado.
Da recordação dos muros que circundavam a baía ao Largo do Senado, ao Clube Militar, à muralha do Quartel de S. Francisco, à Penha, ao velho Palácio, ainda sem estar enclausurado, à construção da sede do BNU ou à frágil beleza das meninas da Rua da Felicidade, tudo completado com mapas antigos e filmes da época, está lá uma significativa parte da história do último século de Macau.
O catálogo que me foi dado apreciar reflecte o cuidado colocado na mostra e constitui motivo mais do que suficiente para serem dados os parabéns a quem patrocinou, organizou e comissariou.