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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(Getty Images)
Na ressaca de tudo o que foi publicado entre ontem e hoje sobre o desaparecimento de Stanley Ho, recupero aqui uma pequena entrevista por ele dada ao Ricardo Pinto e à revista Macau Closer.
A propósito da borrada do Governo português e do último governador que foi a instalação da Escola Portuguesa de Macau no local onde está, em pleno centro da cidade, ao lado do Grand Lisboa, depois de todos (a começar pela malta das associações) terem aberto a boca a pedir mundos e fundos (até houve quem quisesse piscina e cavalos), repare-se no que Stanley então afirmou:
"A escola deveria ter sido demolida e eu ter autorização para a reconstruir noutro lugar. Serviços públicos uns atrás de outros, bem como alguns deputados, tentaram por diversos meios impedir-me de o fazer, o que é outra injustiça. O Governo de Macau concordou com as nossas ideias, mas depois vieram os críticos, até com os democratas a falarem de feng shui. Mas o que é o feng shui. Feng shui não significa nada para mim, em toda a minha vida nunca acreditei em feng shui."
E mais adiante:
"Não haveria absolutamente nada de errado se a Escola Portuguesa estivesse situada perto do Templo de A-Má. Seria até simbólico, na minha opinião. E outra coisa: a Escola Portuguesa nunca deveria estar perto de um casino. Em todo o mundo, as escolas jamais ficam nas imediações de casinos."
Se tivéssemos tido gente em Macau com um décimo da visão e do bom senso dele, viveríamos todos muito melhor. E com muito menos corruptos.
Desligado como vou estando dos fait-divers da pátria, estranho cada vez mais algumas notícias que me vão chegando e que vou lendo aqui e ali. Não se tratam sequer de comentários de terceiros, mas de puros factos sobre os quais fico depois a matutar.
Mal refeito, se é que se refez, da desastrosa gestão política da desgraça dos incêndios, do caso do armamento de Tancos e da atribulada candidatura do Porto a sede da Agência Europeia do Medicamento, eis que o Governo tem agora entre mãos a trapalhada do Infarmed.
O primeiro-ministro diz que a comunicação "não foi a melhor". Está no seu direito de ser caridoso. O presidente da Câmara Municipal do Porto, ao que parece também sem pensar muito, ficou todo contentinho com o anúncio da mudança, o que numa situação destas – refiro-me ao atabalhoamento que se manifesta na forma como tudo foi preparado e anunciado, bem como pelas reacções de descontentamento dos trabalhadores (outra coisa não seria de esperar) –, revela em todo o seu esplendor um provincianismo atávico, muito pouco condizente com a postura moderna, inovadora, refrescante que tem assumido e que eu julgava ser a dele. Uma vez mais estava enganado. Basta ver a linguagem utilizada por ele para se referir aos que criticam a decisão.
Como alguém diria, é lá com eles. A mim é-me neste momento indiferente que transfiram o Infarmed para o Porto, para o Faial ou para as Selvagens, desde que não me chateiem nem me venham cravar. Mas que tudo isto me faz cada vez mais espécie, muita, é inegável. E não me sentisse eu (ainda) tão português (que raio de condição esta que à distância me faz sofrer tanto só de ouvir pronunciá-lo e de saber que o sou) mandava-os a todos para as urtigas.
Pior do que esta cegada do Infarmed só me lembro mesmo daquela das secretarias de Estado do Dr. Santana Lopes. Pensadas com os pés, espalhadas pelo país e com os motoristas a fazerem aos 500km quase todos os dias para irem a Lisboa buscar e levar chefes de gabinete, adjuntos e assessores foram rapidamente abandonadas sem que alguém tivesse feito as contas aos verdadeiros custos e aos benefícios.
Se há tempo para mudar o Infarmed, como foi dito, qual é que foi então a pressa em anunciar as coisas, ainda com tudo por pensar e resolver? Estavam com saudades do Garcia Pereira? Somos um caso perdido. E caro.