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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Tal como fora por mim equacionado no passado dia 15 de Maio, na Fundação Rui Cunha, e bem ao contrário daquilo que o Prof. Nelson Rose imaginava, o Secretário para Economia e Finanças do Governo de Macau anunciou a única decisão possível relativa às actuais licenças de jogo. A partir de agora fica preto no branco que "na devida altura será efectuado um novo concurso e não uma renovação automática" dos contratos de concessão de exploração de jogos de fortuna ou azar.
E digo a única decisão porquanto, depois do expediente que em tempos foi encontrado para viabilizar as subconcessões à margem da lei, seria um verdadeiro suicídio político e uma afronta aos cidadãos de Macau, e à própria República Popular da China, colocar, mesmo em tese, a hipótese de haver renovações automáticas de licenças de jogo, não tendo sido isso previsto pelo legislador.
Embora continue a admitir, por razões excepcionais e devidamente fundamentadas, o recurso ao mecanismo legal da prorrogação do prazo das actuais concessões e "subconcessões", por um período máximo até cinco anos, o concurso público teria de ser necessariamente o ponto de chegada após o fim das actuais licenças, já que só este seria compatível com o espírito do legislador e com as razões de inequívoca transparência e lisura de processos que têm de estar subjacentes a todas as decisões relativas ao jogo.
A dimensão atingida pela indústria do jogo, a sua importância para a economia de Macau e a vida da sua população, o prestígio granjeado ao longo dos anos, a presença das empresas que aqui operam em bolsas de referência e o combate a práticas comerciais e políticas pouco transparentes impunham uma decisão desse tipo.
E não se diga que as expectativas dos investidores, actuais titulares de licenças, saíram goradas. Tal não é verdade e é facilmente desmentido pelo factos. Para além de todos eles terem um prazo previamente definido para as licenças, durante o qual teriam de fazer os investimentos necessários, em momento algum lhes foi criada a expectativa, por parte do Governo da RAEM, de que haveria lugar a uma renovação automática. Aliás, todos eles ganharam ao longo dos anos decorridos, e irão continuar a ganhar com os que ainda aí vêm, muitíssimo mais do que aquilo a que alguma vez poderiam aspirar nos seus sonhos mais dourados. Por isso, no termo dos actuais contratos estarão mais do que ressarcidos dos investimentos feitos e com os bolsos bem cheios.
Por definir fica o número de licenças a atribuir, embora me pareça que há todo o interesse em salvaguardar a competição. Seria por isso adequado, a meu ver, manter ou, eventualmente, alargar até um máximo de oito o número dos actuais titulares de licenças. Trata-se do próximo passo.
Convirá, por outro lado, com este ou com outro modelo que venha a ser encontrado, não descurar o rigor das actividades de fiscalização e inspecção, dotando a DICJ de todos os meios necessários à realização das suas tarefas. O seu actual director deverá estar muito atento a este ponto.
É, pois, chegada a altura do jogo dar um novo salto. E de se colocar toda a indústria do jogo, e não apenas uma pequena parte dos proventos que gera, ao serviço de Macau e da sua população. Para que esta possa finalmente aspirar à recuperação da qualidade de vida que perdeu nos últimos anos, para que haja meios em quantidade suficiente para serem canalizados para a melhoria da sua rede de transportes, das condições de circulação, de habitação e ambientais, e de uma rede de prestação de serviços de saúde devidamente dimensionada, ao nível do que é possível obter na Suíça ou em Singapura, com profissionais competentes e equipamento moderno ao seu dispor, enfim, com a criação de estruturas à altura das necessidades da sua comunidade, onde não haja lugar à discriminação de medicamentos entre residentes e não-residentes, entre funcionários públicos e trabalhadores do sector privado. Para que a riqueza possa ser equitativamente distribuída por todos os que aqui residem e contribuem para a valorização de Macau, de acordo com os seus méritos e o seu empenho.
A decisão de PSD e CDS-PP de se apresentarem coligados às próximas eleições legislativas é uma decisão oportuna por várias razões.
Em primeiro lugar, porque é natural que quem governou em coligação se apresente ao eleitorado nos mesmos termos em que governou, ou seja, em coligação. Se governaram juntos, se foram parceiros nas boas e nas más decisões, se entendem que o caminho que percorreram deve continuar a ser trilhado no futuro, então a decisão é perfeitamente compreensível e, em meu entender, sensata. Essa será a melhor forma do eleitorado avaliar o desempenho do Governo de Passos Coelho e manifestar o que pensa sobre o futuro que deve ser reservado aos coligados.
Depois, é uma decisão oportuna porque introduz clareza numa área tradicionalmente confusa. A coligação é uma medida higiénica que traz transparência ao eleitorado, promove uma adequada separação de águas e mostra ao eleitorado que ao centro há, por agora, pelo menos dois caminhos. Um mais à direita, outro mais à esquerda.
Também é uma decisão oportuna porque permitirá ao PS saber com o que conta, podendo dessa forma ver facilitada a sua estratégia eleitoral e consolidar as suas propostas para o país. Os portugueses sabem que o PS não irá manobrar nos bastidores um qualquer governo de "consenso" para o país.
Por outro lado, é ainda uma decisão oportuna porque também responsabilizará daqui para a frente o Presidente da República naquilo que disser e no que pontualmente venha a fazer quanto ao pouco, pouquíssimo, que lhe for exigido. Se Cavaco Silva pensava que ia ter um final de mandato calmo, fica agora com a certeza de que depois de todas as "asneiras" que promoveu as suas hipóteses de chegar ao fim sem mais problemas ficam ainda mais reduzidas. Essa é para ele uma recompensa merecida pelo seu desempenho até aqui.
Finalmente, a coligação que acabou de se apresentar ao país para as próximas eleições é também uma decisão oportuna porque mostra aos portugueses o pânico que grassa entre as hostes do PSD e do CDS-PP. Depois de todos os amuos, traições, sacudir da água do capote, intrigas e golpes a que o país assistiu, a coligação é uma imagem do estado a que chegaram e é a prova acabada de que só existe e só é anunciada nesta altura porque o desastre foi tão grande que nenhum dos partidos se sente à-vontade para se apresentar sozinho a eleições.
Esta é, pois, uma boa notícia para o país e que deve por isso mesmo ser devidamente saudada.