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arteirices

por Sérgio de Almeida Correia, em 02.09.15

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"Aquilo que digo é aquilo que sempre disse - e que tive oportunidade de dizer na comissão de inquérito ao BES (Banco Espírito Santo): que os contribuintes não serão chamados a cobrir qualquer prejuízo com este processo. Isso cabe ao Fundo de Resolução."

 

"É verdade que há um banco público (CGD - Caixa Geral de Depósitos), que faz parte dos bancos do sistema, mas isso decorre da existência de um banco público, que é um banco igual aos outros em termos de direitos e obrigações para esta matéria. Em todas as outras questões, os contribuintes não serão chamados. E no caso da CGD é uma via indire[ct]a, que decorre do facto de o banco ser público." - Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças

 

A senhora ministra também pode dizer de dedo espetado que os alunos das universidades portuguesas não pagam propinas, que não têm que se preocupar com o seu valor porque quem paga não são eles, são os seus pais. Qualquer aluno, por muito cábula que seja, mesmo um jotinha, sabe que isso não é verdade. E se perder o ano, sendo um aluno e filho minimamente responsável, ficará envergonhado perante os pais. Porque sabe que o dinheiro dos seus pais, se não tiver sido roubado nem caído do céu, lhes custou a ganhar, saiu-lhes do pêlo para que as propinas fossem pagas e ele pudesse frequentar a universidade. E sabe que esperavam que ele também tivesse correspondido ao esforço que fizeram.

Por isso, declarações como as transcritas só são boas para serem aplaudidas nos comícios da Universidade de Verão. Lá é que a senhora ministra pode fazer dos outros parvos, ser aplaudida em cada frase que profere, dar a volta à praça e sair em ombros.

Na vida real não é assim. Directa ou indirectamente, o dinheiro vai sair do bolso de sempre. Umas vezes é pescado pela mão direita do contribuinte, de outras pela sua mão esquerda. Depende das legislaturas. Mas às vezes o dinheiro é-lhe tirado antes de entrar na conta bancária, antes de lhe chegar ao bolso, sem que lhe tenha sido perguntado se está disposto a pagar. E, às vezes, até depois do primeiro-ministro lhe ter dito que podia ficar tranquilo. É este o caso.

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cábulas

por Sérgio de Almeida Correia, em 26.03.15

Aquilo que há um ano era veementemente negado tornou-se ao fim de doze meses numa inevitabilidade.

Podiam ter aprendido alguma coisa com as meias-verdades e as aldrabices dos que os antecederam, mas a partidarite e a cegueira política e ideológica eram de tal forma graves que preferiram aldrabar os portugueses enquanto lhes atiravam areia para os olhos. Uma coisa é dizer que não há custos, outra é escamoteá-los, negá-los, ridicularizá-los desde a primeira hora para por fim acabar a admitir uma "minimização" de custos do lado dos contribuintes.

Qualquer solução teria custos. A escolhida pode ter sido a menos gravosa para os contribuintes, mas ainda assim não valia a pena ter mentido de forma tão descarada dizendo que os contribuintes não iriam suportar quaisquer custos. Se outros não houvesse sempre haveria os sociais.

É esta tão flagrante falta de seriedade no exercício do poder, no exercício da actividade política, e que persiste há várias décadas, que torna tudo mais difícil neste país. Pior só mesmo vir agora dizer que se se for governo se vai pagar a toda a gente e mais alguma.

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dom

por Sérgio de Almeida Correia, em 10.12.14

cavaco_silva_na_cimeira_ibero_americana_no_mexico1 (foto EPA)

A maior parte de nós não tem nenhum. Mas há quem o tenha. Alguns até conseguem ter vários. O caso do Presidente da República Cavaco Silva é do domínio do divino, tantos e tão variados são os seus dons. Afirmações feitas na Coreia do Sul, em 21 de Julho, são retomadas e clarificadas na Cidade do México, quase cinco meses depois, em 9 de Dezembro.

A oportunidade com que fala, a escolha dos momentos e a profundidade do que diz fazem dele um símbolo da extra-sensorialidade política. Que seria de nós sem ele?

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juízes

por Sérgio de Almeida Correia, em 27.10.14

"Ao todo, 16 membros do Governo de Passos Coelho assistiram com particular atenção ao desmoronar do império Espírito Santo. Alguns têm contas acima de 100 mil euros no BES. Juntos, têm um milhão de euros em aplicações, fundos, carteiras, banca-seguros e títulos. Um exemplo da importância dos biombos é a decisão tomada em Conselho de Ministros em plena crise do BES: até onde se deveria proteger quem tinha poupanças no BES? Todos os depositantes ou só os que tinham menos de 100 mil euros, como estipula o novíssimo regulamento europeu? O Governo decidiu que tanto os pequenos como os grandes depositantes deveriam ficar a salvo". Editorial, Público, 27/10/2014

Juízes todos somos, uma vez ou outra, na vida. A começar quando julgamos aquilo que nos diz respeito. E nessas alturas somos juízes em causa própria. Com  transparência. Porque decidimos e assumimos o risco da decisão. Seja na escolha da profissão ou na escolha do cônjuge. A situação é diferente quando se decide uma intervenção num banco e há membros desse mesmo Governo que vai decidir a intervenção, e o respectivo modelo, que têm contas superiores a cem mil euros na instituição em risco. Aqui o risco corre por conta de terceiros, dos contribuintes, ou por outros que sejam chamados a entrar com a massa. No fim safar-se-ão todos. Os pequenos, os assim-assim e os grandes. Os que decidiram e estavam com o seu dinheiro em risco também. Alguém há-de ficar para pagar a factura. No escuro.

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facturas

por Sérgio de Almeida Correia, em 09.10.14

fe0336f1-e299.jpg(a foto pertence ao Expresso e foi tirada daqui)

Gente séria tê-lo-ia admitido desde o princípio, tal como muitos atempadamente alertaram. 

É mais um "tecno-embrulho" que, de novo, não constava do pacote testamentário recebido dos antecessores. E volto a dizer que não estou a discutir a bondade da solução encontrada, nem se é melhor ou pior que a do BPN, apesar de sem rebuço admitir que em princípio será menos má. 

Em causa está, porque é isso que me preocupa no padrão comportamental dos dirigentes políticos, a actuação política em concreto de quem decidiu e as declarações que a suportaram, destinadas a atirar areia para os olhos dos contribuintes.

Se pode ser estabelecido um paralelo entre este caso e o BPN, para lá da inenarrável actuação do supervisor, ele encontrar-se-á na forma como em ambos os casos se assumiram riscos iludindo a opinião pública sobre os custos inerentes. Sem frontalidade, sem transparência, fazendo dos outros tolos. A começar pelo Presidente da República.

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troikos

por Sérgio de Almeida Correia, em 06.08.14

Ao ler este editorial do New York Times, depois de tudo o que tem saído por estes dias nas páginas da imprensa estrangeira, que tanto jeito deu a Passos Coelho e Paulo Portas quando se tratou de "enterrar" Sócrates e Teixeira dos Santos por causa da má reputação internacional do país, a tal ponto que foram escritos comunicados em inglês pelo PSD para explicar a situação então vivida, é uma dor de alma ver o estado putrefacto a que conduziram um regime já de si muito desacreditado.

Ainda nos havemos de lembrar por muitos e bons anos da troika dos três cês: Cavaco, Coelho e Costa. Razão tinha o Honório Mau, quer dizer, Novo, enquanto um certo camarada dormia na forma à espera de ser primeiro-ministro.

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zelotas

por Sérgio de Almeida Correia, em 05.08.14

Os zelotas de serviço não gostaram do que escrevi sobre a trapalhada do BES e a "generosa" proposta que o Banco de Portugal fez aos contribuintes portugueses. Felizmente que hoje a Forbes põe tudo em pratos limpos.

Como já disse, até admito que a situação venha a revelar-se ser a melhor e a menos onerosa para os portugueses. Mas, definitivamente, não gosto de ser aldrabado ou que me tomem por parvo.

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oásis

por Sérgio de Almeida Correia, em 04.08.14

 

Passos Coelho tinha dito que o Estado não seria obrigado a salvar o BES. Que não haveria dinheiro dos contribuintes lá metido, que seriam os privados a arcar com os prejuízos. Concluí, ingenuamente, que seriam os "capitalistas" a resolver o problema. Mas o que se vê, ao contrário do que foi afirmado e da mensagem que o governador Carlos Costa quis passar, é que estamos perante uma nacionalização encapotada do BES. Ainda que temporária será paga com o dinheiro que não saiu do bolso dos seus accionistas, que não saiu do bolso dos privados e cujos custos serão pagos, uma vez mais, pouco ou muito, com juros ou sem juros, por todos.

Já sei que muitos dirão que o dinheiro do Fundo de Resolução não é dos contribuintes - a CGD já foi privatizada? -, que o que não vem de lá veio da troika, e outras falácias de igual quilate que servirão para enganar o povinho enquanto o primeiro-ministro vai a banhos no Algarve, o Presidente da República - que sabe sempre tudo e avisa sobre tudo e mais alguma coisa a tempo e horas e nunca fala quando deve falar -, está mudo e calado, e a ministra das Finanças desapareceu em combate.

Os incómodos ficarão para o Banco de Portugal - este também ainda é público, penso eu - e o seu actual governador. Afinal o mesmo que desde Setembro de 2013, apesar de já ter ideia do que se passava, acreditou durante quase um ano que aquela corja que permitiu que se andasse a gozar com o dinheiro que os depositantes lhe confiaram se podia manter em funções, situação que só terminou in extremis há bem pouco tempo. E foi preciso para tal ver os esqueletos começarem a fugir dos armários onde se iam desconjuntando, ao mesmo tempo que se estatelavam desamparados à nossa frente assim que a porta se entreabria. De repente, eram tarsos e metatarsos para um lado, fémures caindo por outro, rótulas e tíbias deslizando soalho fora. Só então o Banco de Portugal se apercebeu que aquele ia ser mais um buraco sem fundo.

O BES, que respirava saúde, a tal instituição financeira sólida de que o primeiro-ministro e o Presidente da República falavam, liderado por e ligado a gente que abominava o Estado e a intervenção deste na economia, enquanto engordavam engravatados porquinhos cor-de-rosa que aproveitavam todas as oportunidades para se queixarem da falta de liberalização da economia e viam qualquer intervenção do poder político na sua coutada como uma ofensa de lesa-pátria, acabam a ter de ser salvos, ao soar do gongo, por esse mesmo Estado.

Todos esses quadros muitíssimo competentes que passaram por algumas das, agora sinistras, organizações desse universo de que o BES fazia parte e que  estão a contas com a justiça (sujeitando-se à intervenção pública dentro e fora de portas, como é normal entre arautos do neoliberalismo de pacotilha), entretanto alcandorados ao exercício desses lugares de serviço público onde se "perde dinheiro", de repente desapareceram todos. Evaporaram-se. Não há agora um desses merceeiros ricos, dos que convivia com os senhores do BES e da Goldman Sachs e se passeavam por Nova Iorque, que apareça para dar cara pelos amigos ou, pelo menos, para vociferar na televisão pública contra esta intervenção. Não há um que se chegue à frente e diga ao Banco de Portugal para ficar quieto porque já reuniram, entre eles evidentemente, os fundos necessários para acudirem à situação e safarem os seus depositantes. A matilha desapareceu. E quando um ou outro é apanhado numa esquina e lhe põem um microfone junto às beiças já não vociferam. Deixaram de falar mal do Estado e limitam-se a lamentar a sorte dos compinchas. Dos tesos ricos.

Esta é a incontornável verdade que a muitos dói, em especial a todos aqueles que sempre acharam excessivo o que o Estado gastava com a saúde e com a escola dos portugueses. Os que queriam tudo privatizado, até um bem tão essencial como a água, ao mesmo tempo que escondiam milhões na Suíça e em paraísos fiscais de além-mar aproveitando para promoverem a construção de hospitais privados e apoiarem as iniciativas das escolas privadas que os ajudariam a progredir ainda mais nos negócios, contando que o Estado lhes financiasse o negócio para atenderem os seus próprios contribuintes.

Sim, porque em causa nunca esteve qualquer reforma do Estado, qualquer melhoria das qualidade dos serviços que este prestasse, a procura de uma relação equilibrada entre o custo e o benefício para uma maior eficiência. Em causa esteve sempre, esse foi o objectivo desde a primeira hora, o desmantelamento do Estado para benefício de meia dúzia de figurões que sempre dependeram da teta do Estado, das PPP's e de mais umas quantas aberrações que inventaram para prosperarem com dinheiros públicos nos seus negócios privados, se necessário fosse abusando da confiança de terceiros, colocando a máquina do Estado ao serviço dos seus interesses particulares. É para isso que na sua perspectiva serve o Estado. 

E eu, que não sou, nem nunca fui, apologista da presença do Estado em áreas onde não deva estar e que admito a sua presença nalguns sectores em sã concorrência e sem favores com os privados, vejo o El Pais escrever que "aunque el Banco de Portugal no pronuncie la palabra, es una nacionalización en toda regla".

De igual modo, o USA Today diz-me que é Portugal, leia-se o Estado, quem saiu em auxílio do BES e que "the Bank of Portugal was spurred to action after it realized that using public funds seemed to be the most viable solution". O New York Times, que deve ser uma espécie de Acção Socialista do camarada Obama, esclarece que "the Portuguese government will provide most of the money for the rescue in the form of a loan", e o Estado de Minas, via France Press, esclarece os seus leitores que "4,4 bilhões serão retirados do envelope de 12 bilhões destinado à recapitalização dos bancos no âmbito do plano de resgate de Portugal". E a insuspeita Bloomberg escreve que "Banco Espirito Santo has been forced to take public money after regulators uncovered potential losses on loans to other companies tied to Portugal’s Espirito Santo family and ordered the lender to raise capital". Até o Figaro escreve que "Le gouvernement a, semble-t-il, hésité à puiser dans l'enveloppe de 12 milliards d'euros réservée aux banques dans le cadre du plan de sauvetage du Portugal. Mais aujourd'hui, avec les 6,4 milliards d'euros qui lui restent à disposition, il était le seul à pouvoir renflouer l'établissement dans les plus brefs délais".

Perante isto, com a imagem externa que esta operação tem, bem podem dizer aos portugueses que a solução encontrada não é uma nacionalização. Por mim até lhe podem chamar Euromilhões. Ou Ajuda de Berço. Ou Banco Alimentar. Ninguém acreditará. Nem mesmo a chanceler Merkel, a tal que disse acreditar no PEC IV. Lá fora ninguém acreditará numa só palavra do que digam sem ver as contas finais.

E quanto aos portugueses, estão tão fartos de aldrabões que até quando aparece alguém sério desconfiam. Eu também.

 

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justiça

por Sérgio de Almeida Correia, em 24.07.14

E ainda há quem diga que a justiça não é coisa de ricos. Que são três milhões de euros para quem só num ano se esqueceu de declarar mais de oito milhões, regularizando depois a situação com cerca de metade dessa verba? Que são três milhões para quem é acusado de ter recebido catorze milhões de um construtor civil a título de oferta? Pois eu respondo: são croquetes, salgadinhos. Nada que uma boa cervejola, ao pôr-do-sol, na Quinta da Marinha, não faça esquecer.

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abcessos

por Sérgio de Almeida Correia, em 11.07.14

"Global stock markets hit by Portuguese banks concerns" - BBC News

"European makest fall as Portuguese bank woes revive 'darkest nightmares'- as it happened. Concerns over Portugal's Banco Espirito Santo have hit shares across Europe; Saxo Bank says "darkest nightmares about Europe" have returned" - The Guardian

"Portuguese bank fears hit markets after Banco Espirito Santo shares suspended" - City A.M.

"Portugal banking crisis sends tremors through Europe" - The Telegraph

"Equities hit by Portuguese bank worries" ; "Asia markets hit by Portugal bank woes" - Financial Times

 

Desta vez não será fácil ao Governo acusar a oposição de antipatriotismo pelas notícias que colocam, de novo, a banca portuguesa no centro da imprensa internacional. Independentemente de aplaudir a recusa do primeiro-ministro em não financiar ainda mais o BES, é conveniente recordar de tempos a tempos que isto só chegou onde chegou porque o poder político conviveu demasiado com esse grupo bancário.

O BES é o espelho da falência do regime nos moldes em que este tem operado, o resultado da podridão de interesses do bloco central e do consenso a que o Presidente da República apela permanentemente como panaceia universal para os problemas dos portugueses. O consenso trouxe-nos, e ao BES, até aqui, pelo que agora será necessário haver quem corte a direito e malhe no ferro enquanto está quente, antes que o consenso o faça esfriar.

Não há quem na actual elite política e económica, sem esquecer os escritórios e as empresas dos mercenários ao serviço do poder, que tudo fazem desde que lhes paguem, não tivesse uma ligação qualquer ao BES, a uma empresa do universo desse grupo ou a um negócio onde aparecesse a sua longa mão.

Agora que todo esse império assente em pés de barro, imprensa cor-de-rosa e publicidade de gosto duvidoso paga a peso de ouro passa pelas dificuldades de um deprimente asilo familiar, ainda há quem tenha a latosa de vir dizer que é um abcesso. Dizer que o BES é um abcesso é uma outra forma de branquear os milhões que desapareceram nos bolsos de alguns. Os abcessos tratam-se em meia dúzia de dias e tudo segue como até antes da inflamação, com saúde. O BES é um caso de polícia dos mais graves, como se volta a ver pela repercussão internacional que tem, bem superior à do BPN. E como todos os casos de polícia deve ser investigado e julgado sem contemplações, sem panos quentes. E no fim, se for o caso, os responsáveis pelo que está a acontecer devem ir bater com os costados a Caxias ou a outro resort do género. Não por serem perseguidos políticos, mas por serem bandidos iguais aos outros.

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pacheco

por Sérgio de Almeida Correia, em 21.06.14

Nunca escondi o meu apreço pela sua estatura de intelectual e de historiador comprometido com a verdade, que para alguns será sempre um valor relativo, sem prejuízo de cada um ter a sua. Mas não me querendo antecipar, arriscaria dizer que este texto de José Pacheco Pereira será um dos textos do ano. Do ano? Não, da última década. Está lá tudo, até a vergonha de que muitos têm medo de falar (e de ler). Nesta altura deve haver muita gente a espumar depois de saber da recusa do Banco de Portugal em ver na nova administração os perfumados de sempre. Agora a família vai entregar a instituição a um dos que nunca seria reconhecido como um dos deles. Por falta de pedigree. A República, por vezes, ainda sabe estar à altura das situações.

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banqueiros

por Sérgio de Almeida Correia, em 24.05.14

(Foto: Rui Gaudêncio, Público)

O líder do grupo está habituado a fazer recomendações à classe política, a dar opiniões sobre a forma como o país deve ser governado, sobre o descalabro das finanças públicas e o que podia ser feito para corrigir sucessivos défices. Para além disso, do seio do seu grupo, da sua escola, saíram muitos deputados, administradores de empresas participadas pelo Estado, membros do Governo, dirigentes dos partidos políticos. Quem o ouvisse e lesse as suas entrevistas e de outros dirigentes do grupo pensaria ser aquele o domínio da gestão exemplar, inatacável, e que os investidores e depositantes podiam estar sempre tranquilos. Agora, uma auditoria mostrou que esconderam 1200 milhões de euros de dívidas nas contas de 2012. Parte da dívida, diz a notícia, foi contraída por empresas do próprio grupo em situação económica difícil. E agora a holding do grupo está em situação de "falência técnica". Brilhante. De nada serviram os generosos benefícios fiscais que receberam, para criar riqueza, diziam eles, à custa de todos nós. Pois sim...

Registando que o líder do grupo foi o primeiro a assumir os erros, pergunto qual a autoridade que pessoas como ele têm para amanhã criticarem a forma como são geridas as contas públicas, os gastos na saúde e na educação dos portugueses ou os direitos sociais da generalidade das pessoas que trabalham, se nem em sua casa sabem gerir e controlar os gastos?

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pelintras

por Sérgio de Almeida Correia, em 11.02.14

Não deixa de causar espécie como é que gente prudente a gerir o seu dinheiro é apanhada em situação de precisar do apoio de terceiros, isto é, do Governo e dos contribuintes, para evitar o descalabro numa das suas instituições. No caso está em causa uma das âncoras do sistema bancário nacional. O facto de muitos dos gestores que aparecem nas bancadas dos partidos do "centrão" e nos executivos que nos levaram à actual situação saírem do Grupo Espírito Santo e suas associadas ou participadas, e em especial os erros crassos que por alguns daqueles têm sido cometidos quando em funções públicas, não abona a seu favor. Mas o que de todo não joga com a imagem cultivada pela instituição BES é a figura de banqueiro pelintra e com contas "gatadas" que agora nos surge. É coisa que não bate certo com a conversa da gestão criteriosa e rigorosa que nos habituámos a ouvir por parte dos seus responsáveis, nem com os conselhos públicos dirigidos a ministros, nem com a figura de rico que cobra caro pelos serviços que presta enquanto derrete milhões em campanhas publicitárias com porquinhos, mealheiros e futebolistas. Se por alguma razão, que espero não aconteça, formos obrigados a pagar mais um banco, nessa altura a gestão do BES em nada se distinguirá das que deram cabo dos seus congéneres. Podem mudar os nomes que no fim sobrará a imagem chamuscada, tanto mais que o dinheiro para cobrir os prejuízos sairá, uma vez mais, do mesmo bolso. Do nosso.   

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