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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Neste momento é perfeitamente irrelevante discutir as razões para se ter chegado até ao episódio de ontem na Assembleia da República (AR), em Lisboa, por ocasião da visita do Presidente da República Federativa do Brasil.
A partir do momento em que o convite foi dirigido e o destinatário aceitou só havia uma coisa a fazer: cumprir com a obrigação, institucional, recebendo-o com a hospitalidade e a dignidade devida à história, ao país e ao povo. Só que nem isso fomos capazes de fazer.
É certo que havia quase tudo para correr mal, a começar pela data, e não tendo começado bem, seria pouco provável que não surgissem empecilhos e acidentes de percurso, tal a forma atabalhoada – diria desconcertante – como tudo se preparou, com toda a gente a falar muito e com pouco acerto. Bastava um fósforo.
E este apareceu no exacto momento em que o Presidente do Brasil iniciou o seu discurso na AR. Foi o suficiente para que alguns labregos transformassem a visita num espectáculo à sua medida.
Tudo o que se passou ficou devidamente registado e foi visto por milhões, mas já que em Abril estamos, e que de Abril se tratava, talvez não fosse mau se nos questionássemos sobre o porquê da arruaceirada e da entrada daquela gente no parlamento.
Quem há décadas preparou o palco terá dificuldade em perceber o que se passou. Se não o viram até ontem, optando por enterrar a cabeça na areia, não seria por causa de Lula que passariam a ver.
Mas bastava ouvirem as pessoas na rua e terem lido alguma coisa decente nos últimos anos, pelo menos desde que Santana Lopes passou por S. Bento, para se aperceberem do estado em que estávamos e para onde, inexoravelmente, caminhávamos.
A arruaceirada de 25 de Abril de 2023 foi apenas o princípio do que aí vem.
Os gerontes, porteiros e guardiões do regime, só de si se podem queixar.
E que ninguém espere que os seus filhos e netos sejam compreensivos para com um regime liderado por eunucos políticos dominados pelas lombrigas saídas do universo partidário.
Atingido o limite da exasperação, o tempo é de silêncio.
A reclusão na leitura e na reflexão é um bálsamo para o quotidiano surreal.