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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: GCS)
Na reunião plenária da Assembleia Legislativa de 13 de Abril pp., o Chefe do Executivo (CE), de acordo com o relatado pela comunicação social, admitiu a eventual entrada de trabalhadores domésticos não-residentes desde que vacinados contra a COVID-19 e após a realização de quarentena.
Ao mesmo tempo, noutro passo da sua intervenção, voltou a sugerir que os residentes de Macau que tenham os respectivos cônjuges e filhos no estrangeiro, se quiserem estar com os seus familiares deverão fazê-lo lá fora.
Eu ouvi e fiquei comovido com a sensibilidade e argúcia do CE.
Por um lado, o CE considera que é mais importante o regresso de um trabalhador doméstico não-residente do que o convívio entre casais ou entre pais e filhos. Ou seja, na perspectiva do CE faz mais falta uma empregada doméstica para passear o cão e apanhar os excrementos daquele do que a assistência e acompanhamento de um pai ou de uma mãe ao seu filho residente e que está há um ano ou mais privado do contacto com o/a progenitor/a. Como se isto não tivesse também efeitos psicológicos e para o bem-estar das crianças e demais familiares residentes.
Mas, ao mesmo tempo, quando diz que os residentes se quiserem podem apanhar um avião, o CE também se esquece dos custos que uma decisão dessa natureza poderia acarretar. Desde logo os económicos, porque certamente seria mais oneroso para uma família pagar duas ou três viagens para o exterior do que comprar apenas uma para permitir a entrada do familiar retido no estrangeiro.
Depois, porque se o outro membro do casal que é residente em Macau quiser apanhar o tal avião, com a generosidade dos empregadores locais, seus amigos deputados, ficaria privado de rendimentos, e no regresso, à custa dos vinte e um dias de quarentena, o mais provável seria que também perdesse o emprego e fosse engrossar a lista de desempregados. E os filhos que se tivessem ausentado para ver o pai ou mãe ainda perderiam o ano lectivo.
Acresce que não se vê que mal poderia haver para a saúde pública se o familiar que regressasse a Macau viesse vacinado, realizasse à partida e à chegada testes de despistagem à COVID-19 e ainda por cima se sujeitasse a quarentena. Numa situação destas, testando negativo e sujeito a tanto controlo, seria perfeitamente irrelevante de onde viesse.
Mais do que a falta de razoabilidade e lógica dos argumentos do CE, fica no ar a ideia de que o problema não é de saúde pública. É outro.
Ninguém quer dizer abertamente qual é. Ninguém no Governo o assume, mas em cada dia que passa vai-se percebendo que o problema não é a COVID-19.
Duvido que seja bom para Macau, pois não me parece que a descaracterização da identidade da região, dos seus traços próprios, que a distinguiam das outras cidades chinesas e atraíam tantos visitantes de outros cantos do mundo, fazendo-a perder as características que a marcam há séculos, seja uma atitude patriótica.
Qualquer que seja o prisma de observação.