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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Mais um dia, mais um ano. Hoje seria dia de celebração, mas não será pela sua ausência que deixará de o ser. Que uma vida de dádiva, de cuidado e de ternura imensa tem de ser sempre celebrada. E não tem fim para todos os que aqui continuam, como eu, órfão da eternidade dos seus abraços, da luz imensa dos seus olhos. Celebremos, pois, o largo mar da vida e da memória. Feliz aniversário, Mélita. Até um destes dias.
P.S. Fizemos um grande jogo em Turim. Foi de antologia.
Hoje e sempre, enquanto cá estiver, em todos os 16 de Setembro, celebrarei o seu aniversário. Não serve, nunca servirá, de desculpa por ter faltado ao último. Não me conforta da sua ausência, nem da falta que me faz a sua compreensão, o seu sorriso, a sua paz e a reconfortante eternidade dos seus abraços. Recordar-me-á apenas a sua excepcionalidade, e o quão grato lhe estou por ter tido, um dia, toda a vida, a ventura de ser seu filho. Obrigado, Mélita.
O ano passado falhei o seu aniversário. Falhei a última oportunidade de nos vermos, de falarmos e de nos abraçarmos.
É certo que dias depois cheguei, mas voltei a chegar tarde. Como sempre chegava nos dias dos seus aniversários.
E tudo para quê, Mélita?
Para cumprir obrigações para comigo, para respeitá-las para com os outros. Sim, porque me ensinaram a olhar para os outros antes de olhar para mim.
E tudo para quê, Mélita?
Nunca o deveria ter feito porque muitos não o mereciam. Não o merecem. Não fazem por merecê-lo. Dei-lhes importância. Culpa minha. Pensei que seriam gente como nós. Que um dia poderiam sê-lo.
Bem sei que tudo devia perdoar, mas não aprendi a perdoar-me como os outros aprenderam a fazê-lo em relação a si próprios.
E tudo para quê, Mélita?
A Piaf nunca teve razão. Só na canção. Para vender sorrisos e paixões.
O tempo não se recupera, Mélita. Eu sei que isso também me foi ensinado. E não acreditei porque queria aprender à minha custa.
E aprendi, sim, que de tudo um dia nos arrependemos. Não do tempo que é efémero. Não de tudo o que fizemos; antes do que ficou por fazer, e por dizer. Do que partiu. Do bem que ficou por fazer a quem estava próximo por causa do tempo que se dedicou a trivialidades. Às obrigações.
Não há memória que apague a distância, a ternura e a saudade. Nem arrependimento, por mais fundo que seja, que traia a memória. A dos bons momentos. E a dos que poderiam tê-lo sido se tivesse sabido olhar para nós e para o relógio do tempo, Mãe.
Feliz aniversário, Mélita.