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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
A notícia de que pessoas que se encontravam em quarentena no Hotel Tesouro foram avisadas ao fim de sete dias e cerca de quarenta minutos antes da hora prevista para a sua saída de que a sua quarentena havia sido alargada por mais cinco dias é mais uma evidência da arbitrariedade e irracionalidade da gestão epidémica e da política seguida em Macau.
Durante todo o tempo que estiveram em quarentena essas pessoas testaram negativo à Covid-19. Obrigá-las a continuar presas no Hotel Tesouro, em quartos sem arejamento e sem limpeza, não tem qualquer justificação.
Desde logo porque não é verdade que as pessoas em quarentena tenham qualquer contacto com o pessoal do hotel. Este pessoal não ajuda ninguém a transportar as bagagens nem à chegada, quando falam com as pessoas através de um vidro, nem à saída, mantendo-se sempre afastados, sempre a mais de metro e meio, mesmo sabendo que todos tinham acabado de testar negativo e permaneceram durante horas numa sala do aeroporto e depois em quarentena.
Durante todo o tempo de quarentena a única pessoa que contacta com os sequestrados é quem faz as colheitas para os testes de ácido nucleico, mas mesmo esta pessoa vem toda equipada e protegida. As próprias refeições, por sinal de péssima qualidade, são largadas à porta dos quartos. Quando o hóspede do hotel abre a porta do quarto já há muito desapareceu a pessoa que largou a caixa plástica na mesinha que se encontra do lado de fora.
Não foi esclarecido, mas devia ter sido, quais as funções desempenhadas por esse trabalhador e como foi possível testar positivo com todas as medidas de segurança que impuseram.
E também terá de ser esclarecido se os sequestrados terão de pagar um adicional pelo sequestro aos seus sequestradores e qual a razão para que aqueles, ainda que tenham direito à primeira estada paga, tenham de avançar com o pagamento do custo da quarentena até que os senhores do hotel procedam ao reembolso, depois da aprovação pela DST.
É, ademais, particularmente grave que já não seja a primeira vez que hóspedes corram risco de contaminação por parte de empregados de um hotel.
Se uma pessoa em quarentena arrisca ser contaminada pelos trabalhadores que dela cuidam, então isto só quer dizer que as quarentenas dos SSM não são seguras, e que a somar à arbitrariedade, ao custo elevadíssimo, à destruição da economia, aos problemas físicos e psicológicos, agora temos também a insegurança e o risco decorrentes da má governança.
Numa altura em que até o primeiro-ministro Li Keqiang reconhece que os efeitos da política de tolerância zero foram mais graves do que o esperado, e é ordenado que seja encontrado um "equilíbrio entre as medidas de controlo do vírus e a necessidade de dar um impulso ao crescimento", as políticas do Governo de Macau retrocederam décadas, mostrando a falta de talento dos "talentos" que gerem a crise.
Dir-se-ia que esta gente saiu de um episódio dos Flintstones. A desgraça que caiu sobre Macau não podia ser maior.