Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
O ano passado falhei o seu aniversário. Falhei a última oportunidade de nos vermos, de falarmos e de nos abraçarmos.
É certo que dias depois cheguei, mas voltei a chegar tarde. Como sempre chegava nos dias dos seus aniversários.
E tudo para quê, Mélita?
Para cumprir obrigações para comigo, para respeitá-las para com os outros. Sim, porque me ensinaram a olhar para os outros antes de olhar para mim.
E tudo para quê, Mélita?
Nunca o deveria ter feito porque muitos não o mereciam. Não o merecem. Não fazem por merecê-lo. Dei-lhes importância. Culpa minha. Pensei que seriam gente como nós. Que um dia poderiam sê-lo.
Bem sei que tudo devia perdoar, mas não aprendi a perdoar-me como os outros aprenderam a fazê-lo em relação a si próprios.
E tudo para quê, Mélita?
A Piaf nunca teve razão. Só na canção. Para vender sorrisos e paixões.
O tempo não se recupera, Mélita. Eu sei que isso também me foi ensinado. E não acreditei porque queria aprender à minha custa.
E aprendi, sim, que de tudo um dia nos arrependemos. Não do tempo que é efémero. Não de tudo o que fizemos; antes do que ficou por fazer, e por dizer. Do que partiu. Do bem que ficou por fazer a quem estava próximo por causa do tempo que se dedicou a trivialidades. Às obrigações.
Não há memória que apague a distância, a ternura e a saudade. Nem arrependimento, por mais fundo que seja, que traia a memória. A dos bons momentos. E a dos que poderiam tê-lo sido se tivesse sabido olhar para nós e para o relógio do tempo, Mãe.
Feliz aniversário, Mélita.