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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Ainda todos se recordam do que aconteceu no "caso BPN", bem como do que se passou com o Millennium-BCP e o BPP. E todos têm bem presentes as críticas que foram feitas à actuação do Banco de Portugal, aos seus responsáveis e ao trabalho de supervisão. Todos acreditámos que esse tipo de situações não se repetiria. Entretanto, mudaram os governos, trocaram-se ministros e o governador do Banco de Portugal também foi substituído. O novo, Carlos Costa, sabia da poda e tinha o aval do Presidente da República, do primeiro-ministro Passos Coelho e da maioria parlamentar que o apoiava. Depois disso e de tudo o que antes fora "escalpelizado" nas comissões parlamentares, viríamos ainda a ter o inenarrável "caso BES", para o qual muito contribuíram esse mesmo Banco de Portugal, uma vez mais o Presidente da República – sempre convicto nas suas crenças mas esquecido das declarações que faz e com necessidade de cada vez que fala corrigir o que disse – e o Governo, que foi deitando água na fervura para acalmar os investidores, os depositantes e os contribuintes. Estava tudo controlado. Vítor Bento era uma excelente solução e iria tudo correr sobre rodas. Sabe-se o que aconteceu a seguir e o estampanço que têm sido as soluções encontradas para o Novo Banco, o tal que não iria custar um cêntimo aos contribuintes e do qual estes nunca mais se livram. As dúzias de soluções e a imensidão de investidores interessados na aquisição do Novo Banco desapareceram, evaporaram-se. O emplastro foi agora entregue ao Governo de António Costa e a Mário Centeno para que estes encontrem a solução que Passos Coelho e Maria Albuquerque tinham prometido ao país há um ror de meses.
À medida que tudo isto vinha acontecendo, a situação do BANIF, que já estava com uma luz vermelha, continuava a deteriorar-se. Com mais uns milhões injectados pelo Estado chegamos ao fim de 2015 com outra situação por resolver e com mais um caso que, neste momento tudo aponta para aí, venha a custar mais uns milhões. A administração dessa instituição terá tentado fazer o que estava ao seu alcance e ao que parece até já apresenta alguns lucros, apesar do seu reduzido valor em bolsa. Neste momento a perspectiva é de novo a de que alguém vai voltar a ficar a arder e a ter de arcar com os prejuízos. E agora pergunta-se: de quem é a culpa? Do supervisor? Dos executivos de Sócrates? Qual a razão para ao fim destes anos se voltar a ter um banco nesta situação? O que falhou? Quando poderão os investidores, os depositantes e os contribuintes voltar a ter descanso?
Os portugueses têm o direito de saber quais as respostas a estas questões. Espero que isso não seja deixado para os que acabaram de tomar posse e que Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, Cavaco Silva, Carlos Costa e Nuno Melo tenham respostas para isto na ponta da língua. Se não as tiverem, então, talvez uma nova comissão de inquérito parlamentar seja o indicado, digo eu. Para que os portugueses possam tirar as suas conclusões. Por agora, ou me engano muito ou, em uníssono, todos dirão que desde que Sócrates foi corrido e Constâncio despachado a supervisão funciona muito melhor. Coisa de que hoje ninguém tem dúvidas. Disso e de que os problemas na supervisão e no sistema bancário também continuam a ser os mesmos de sempre ao fim de quatro anos de "reformas". A desresponsabilização também é a habitual, acrescente-se.