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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
No jornal, o texto começava assim:
O problema é quando uma pessoa já leu o "artigo de opinião", opinião respeitável, obviamente, noutro lado. E na língua original:
"Since the beginning of human civilization, humanity has been looking for the best form of government. For thousands of years, our political systems constantly evolved with the changing political values and the progress of human civilizations until the late 1980s – when it was claimed that this evolution had met an end. The collapse of the communist regimes in Eastern Europe and the Soviet Union seemed to mark the death knell of communism and seemed to suggest the superiority of Western liberal democracy. Since then, Western liberal democracy has been claimed as “the end point of mankind's ideological evolution” and “the final form of human government” (Fukuyama, 1989). It seemed that, sooner or later, Western liberal democracy – the so-called “best” political system and the “ultimate” achievement of humanity – would defeat all other forms of political system of inferior quality and become the only form of government in the world.
Yet, authoritarianism has not been eliminated as many expected. On the contrary, the resilience of authoritarianism has been posing unprecedented challenges to the overwhelming dominance of Western democracy. Now, three decades after the fall of communism in Eastern Europe and the Soviet Union, the communist party in China has posed a strong challenge to Western liberal democracy. Instead of collapsing as many have expected for decades, the Chinese Communist Party (CCP) has delivered a remarkable economic miracle and led China to become the second largest economy in the world."
Este último trecho (está logo na Introdução, Chapter One) pertence à tese The Chinese Communist Party’s Capacity to Rule: Legitimacy, Ideology, and Party Cohesion, apresentada por Jinghan Zeng na Universidade de Warwick, em 2014, a qual até está disponível na Internet.
Tirando o desgraçado do Francis Fukuyama, que se viu despojado da paternidade da citação no texto original da tese, e do "martelanço" da Covid-19 para o "artigo de opinião" ficar mais actual, o texto transcrito foi todo "sacado" ao trabalho de Jinghan Zeng. Assim é fácil encher duas páginas de jornal de cada vez que se "escreve" (copia).
Depois reparei que a citação inicial, esta sim entre aspas, de Ma Chunshan [In accordance with the principle of Marxism, the economy is the foundation of all kinds of development. Therefore, as long as economic development is achieved, society will be relatively stable and the legitimacy of CCP governance will be strengthened.], foi retirada de The Diplomat, em China’s Communist Party: 3 Successes and 3 Challenges, 28/10/2017, sem citação da fonte.
A partir daqui, obviamente, eu não iria perder tempo a ler o mais que tivesse sido copiado.
Há muitos anos que leio muita coisa da minha área de interesse e investigação. Dá trabalho, mas um tipo sempre aprende alguma coisa, inclusive a distinguir um bom original de uma cópia merdosa.
Um lapso de transcrição, a falta de umas aspas numa curta citação ou numa pequena frase ainda podem passar. Mas o que me faz espécie é que haja quem copie parágrafos inteiros e depois os publique como se fossem textos seus.
Antigamente dizia-se, em relação a uns figurões que gostavam de se fazer passar por "académicos", que era preciso saber citar. Agora talvez seja mais apropriado dizer que o segredo e a respeitabilidade estão no copianço.
Para esta gente, vergonha é coisa que não existe.
O mundo é dos espertos? Sim, claro.
E ultimamente também dos que, como escreveu o Marco Carvalho (aqui cito de memória, pelo que espere que ele me perdoe a falta de aspas), têm o infortúnio de dobrar a cerviz com felicidade genuína. Neste caso talvez seja mais apropriado dizer que copiam e publicam com felicidade genuína.