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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.

Quem acompanhe a realidade de Cabo Verde, a sua história recente, conheça a sua geografia e dificuldades, vê o que as suas gentes aos poucos vai conseguindo, o que se tem dito e escrito nas últimas décadas sobre aquele pequeno país insular da costa de África, e não pode deixar de expressar a sua admiração, apoio e encanto com os resultados. Os indicadores não enganam e estimulam à continuação.
Torna-se assim particularmente gratificante acompanhar a série de reportagens e entrevistas que a TDM tem vindo a emitir todas as noites a seguir ao Telejornal, no canal português e também na rádio, com especial ênfase nas relações de Cabo Verde com Macau e a China.
A forma como o país criou um Estado de Direito, abandonou o sistema de partido único, fez a mudança para um sistema democrático multipartidário, e consolidou uma democracia digna desse nome, com pluralismo político, respeito pelas liberdades e os direitos fundamentais da pessoa humana, protegendo as minorias e as regras do jogo, por todos aceites e cumpridas, com eleições regulares, livres e competitivas, alternância no poder e transições pacíficas e civilizadas, sublinham a inteligência, ponderação e bom senso dos seus partidos políticos e dirigentes.
Ao mesmo que tempo que consolidava a sua democracia, o país não descurou a sua obrigação de promover a educação, a saúde, a habitação, apostando na formação de quadros, num desenvolvimento sustentado e na boa governança, o que o tornou hoje num exemplo em África e no mundo que deve ser motivo de satisfação para os seus nacionais, para todos os seus amigos e o mundo da lusofonia.
Gostei bastante de acompanhar a entrevista com o Presidente José Maria Neves, mas em especial de ouvir o ex-Presidente Jorge Fonseca, meu contemporâneo em Macau nos idos de Oitenta do século passado, aquando da minha breve e única passagem pela Administração Pública, e que aqui deixou e transmitiu o melhor do seu saber e humanismo na então recém-criada Faculdade de Direito, coordenando e leccionando, contribuindo para a formação de quadros competentes, mas também servindo a Administração portuguesa no desempenho de funções nos gabinetes governativos até à sua partida.
Espero que a excelente entrevista que Jorge Carlos Fonseca deu à TDM, onde inclusivamente relatou o delicioso episódio da sua coluna n' O Clarim, com o Pedro Correia e o saudoso João Carvalho, possa ser traduzida e legendada em chinês e inglês e se torne acessível a uma audiência mais vasta que não domina a língua portuguesa.
O exemplo de Cabo Verde mostra como uma democracia pluralista pode ser factor de fortalecimento de uma nação, de paz, de criação de oportunidades para todos e de desenvolvimento social e económico.
Embora ainda haja muito a fazer, é hoje claro que se o país estivesse entregue a um líder autoritário, auxiliado por um partido único esclerosado e patriotas de confiança escolhidos por esse mesmo partido e seus satélites em eleições de fachada, num simulacro de democracia, sem uma separação de poderes actual e efectiva, na linha de Montesquieu, e hoje não seria muito diferente de outros países com regimes autoritários, sumamente mal governados, onde as cliques incompetentes e corruptas só se aguentam no poder protegidas por modernos sistemas de vigilância e controlo policiais, pela força das armas, oprimindo o seu povo sem qualquer respeito pelos direitos humanos e a dignidade da pessoa, e institucionalizando o saque dos recursos públicos como meio legítimo de enriquecimento.
Dou os parabéns à equipa da TDM que esteve em Cabo Verde, sugerindo apenas ao entrevistador que em futuros exercícios, se possível, interrompa menos os entrevistados, deixando-os acabar o raciocínio e as frases. Para que assim possam expressar livremente as suas ideias, os telespectadores ouvir tudo sem ruído e sobreposição de vozes, e não pareça que, ainda que involuntariamente, se quer orientar ou condicionar os entrevistados, cortando-lhes o discurso a meio.