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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Conheci Carlos Monjardino há quase quatro décadas, pouco depois de ter chegado a Macau pela primeira vez, quando aquele exercia funções no governo de Pinto Machado. Embora esteja muitas vezes distante das suas posições, sempre tive por ele, desde então, simpatia e admiração.
Não tanto pela sua efémera passagem pela política, mas em especial pela pessoa, pela sua forma franca de dizer e olhar para a realidade das coisas. Não é homem de muitos floreados e tergiversações, directo quando tem de dizer, e creio que isso talvez me aproxime dele.
Posto isto, gostaria de vos dizer que escutei com a atenção devida a sua entrevista à TDM e ao jornalista Gilberto Lopes. Não concordei com algumas coisas, em relação às quais tenho uma visão diferente, mas assenti noutras, como também é normal acontecer e não apenas com o entrevistado.
Foi uma conversa interessante, o que também em muito se deve às características pessoais de Carlos Monjardino, homem culto, lúcido e afável do alto dos seus mais de oitenta anos.
Quanto ao que disse, apesar de ser passado, creio que os mal-entendidos iniciais em relação à Fundação Oriente, por parte de algumas pessoas de Macau, e em dado momento também da própria China, se deveram um pouco ao seu estilo de fazer as coisas – e isto não é uma crítica – e a alguns de quem se rodeou, que sofrendo de umbiguismo crónico e oportunismo militante em nada contribuíram para uma melhor imagem do projecto e dos objectivos.
Faltou transparência e esclarecimento, seguramente, e isso gerou críticas e desconfianças que teriam sido perfeitamente evitáveis; só afastadas com o decurso dos anos em razão do trabalho entretanto desenvolvido em Macau, em Portugal e em vários outros pontos do mundo.
Sobre o cumprimento da Declaração Conjunta e da Lei Básica, no que aos portugueses concerne, tomei boa nota do que afirmou, ponto onde convergimos, sobre a alteração, para pior, do estatuto que tinham no início do cumprimento do Acordo. A nota sobre a sua presença cada vez mais insignificante – "menor, infelizmente" – não passou despercebida. Faltou apenas dizer, coisa que também não estava à espera, que foi o desinteresse da classe política portuguesa, a pesporrência de Lisboa e de alguns "patriotas-novos", de língua materna portuguesa, que só viam cifrões, ainda hoje, e com responsabilidades sociais, profissionais, políticas e empresariais, que mais contribuiu para tal.
Quanto ao restante, recomendo a visualização integral da entrevista, registando, coisa que vários dos seus interlocutores portugueses e locais nunca entenderam, o quanto é desprezível a subserviência de carácter e de atitudes, e o que disse em relação ao relacionamento de Portugal com a China, que deverá ser "firme" e que "não devemos estar permanentemente de cócoras".
De resto, faço votos de que o entrevistado continue de boa saúde e se mantenha atento ao que na RAEM se vai passando
[Declaração de interesses: durante a minha investigação de mestrado, há mais de duas décadas, fiquei graciosamente hospedado, cerca de duas semanas, na Casa Garden, o que aliás está referido nos agradecimentos preambulares do trabalho que apresentei]