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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Tenho criticado as conferências de imprensa dos Serviços de Saúde de Macau sobre a situação da Covid-19. Não porque não sejam necessárias ou importantes; antes pelo que representam de atraso e paroquialismo quanto ao que ali se diz e como se diz sobre questões importantes.
Tem-se ouvido de tudo um pouco. De coisas sérias a banalidades, de dados estatísticos correctos a conversa fiada, disparates e pura propaganda. Repare-se que, muitas vezes, o que ontem era mentira hoje é verdade, e tudo é dito com igual, por vezes atabalhoada, monocórdica displicência.
Voltou a acontecer, e não será a última, com a defesa de medidas que são um insulto à inteligência de qualquer residente.
Houve quem sublinhasse a ausência de um plano de saída da crise e de abertura das fronteiras, cuja premência é cada vez mais visível, em especial depois de conhecidas as exigências que os candidatos à atribuição de concessões no próximo concurso dos jogos de fortuna ou azar devem satisfazer. Andrew W. Scott teve oportunidade de referir o irrealismo de algumas dessas condições incluídas no caderno de encargos que se colocadas de outra forma ou num contexto diferente do que nos é dado viver poderiam fazer sentido. Acrescentar aqui algo mais seria despiciendo.
Contudo, quero recordar que quando o afastamento da realidade se torna tão notório por parte de alguns dirigentes, e as decisões se apresentam de tal modo caricatas que somos tentados a beliscar-nos, passamos do que é confrangedor e deprimente para o campo da alucinação. E não será caso para menos quando há decisões que sendo tão cientificamente indefensáveis, e socialmente desajustadas, surgem justificadas com a maior desfaçatez perante o auditório como se verdades absolutas fossem.
As explicações dadas a um jornalista sobre a eventual origem da vaga de Junho, e a insistência na realização de análises em alimentos vindos de fora, isto é, de qualquer lado menos do interior do país, à revelia daquilo que é o entendimento do Governo Central e da OMS, e sem que concomitantemente seja dada uma resposta clara e se apresentem os tais estudos, não merecem qualificativo.
A imolação de funcionários em conferências de imprensa não abona a favor de quem lá está a prestar as justificações, inexistentes, para supostamente esclarecer a opinião pública. Menos ainda funciona em benefício de quem os manda para lá arrastarem-se durante meses, semanas e dias seguidos para explicarem o que foi decidido por um obscuro comissário político e carece de senso, de razoabilidade. Porque esta simplesmente está ausente e a explicação não pode ser dada.
Para quem assiste, a insistência torna-se então sinal de um mal maior, muito maior. Vem nos livros.