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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
A política da "covid zero dinâmica", tal como tem sido "vendida" aos residentes de Macau pelos Serviços de Saúde, aliás por um custo muitíssimo elevado, tem sempre em vista, ao que dizem e repetem até para justificar os maiores disparates, a segurança da população.
Isso seria verdade, e muito interessante, se houvesse em termos práticos efectiva correspondência com essa ideia de segurança.
Na realidade, o que se passa é que de cada vez que surge um caso está-se sempre à procura de ver se veio do exterior, isto é, de fora da China; ou se chegou, ainda que por hipótese académica para vender à comunicação social alinhada, nos alimentos congelados; ou se veio nas cartas e encomendas distribuídas pelos CTT; ou se o vírus entrou a cavalo de algum daqueles que teve a ousadia de se ausentar de Macau, não obstante todos os entraves levantados, os custos elevadíssimos e as penas impostas pelo Governo da RAEM.
Ontem fiquei à espera de ver o Chefe do Executivo esclarecer que, desta vez, o vírus nos chegou de Zhuhai. Sim, do outro lado da fronteira, pendurado num padeiro que trabalha num supermercado da Taipa. E que não andou a veranear no estrangeiro.
E também contava que com tanta segurança dos SSM nos fosse esclarecido como é possível que o homem tivesse andado para cá e para lá, pernoitando, subindo e descendo de autocarros, pegando ao trabalho, atravessando a fronteira, cheio de códigos coloridos, de RAT e de NAT, com todos os seus passos escrutinados, até que as autoridades do outro lado informassem as deste lado, que tantos cuidados têm para nos protegerem e não deram por nada, de que havia uma pessoa com um vírus à solta.
Não se percebe por que razão se fazem tantos testes, dando tanto dinheiro a ganhar a meia dúzia de pessoas e empresas, para depois um só indivíduo cruzar a fronteira entre Zhuhai e Macau, andando por aí à solta com o vírus, num supermercado, e logo depois obrigarem toda a gente que vive nas imediações desse estabelecimento, ainda que não tenha lá ido às compras, a fazer testes de ácido nucleico, e todos os demais a realizarem em suas casas testes de antigénio em dois dias consecutivos.
Aquilo que efectivamente se confirma, perante um caso tão corriqueiro, é que a insegurança é enorme, e que a política de "covid zero dinâmica" da RAEM é uma farsa. E não só aqui, como também se viu pelo que aconteceu este fim-de-semana numa ilha aqui perto, sem estrangeiros.
Por mais voltas que se dêem, por mais acusações que façam aos outros e aos produtos que chegam de fora, por mais bodes expiatórios que procurem, à primeira situação entram em pânico e causam transtornos e prejuízos a toda a gente, menos aos que estão a lucrar milhões com os testes.
Com um exemplo tão simples, e vindo de dentro da própria casa, se demonstra a impossibilidade de controlo de um inimigo invisível que não se compadece com a cartilha nacionalista e xenófoba de alguns crânios.
Não há nada como um banho de realidade para lhes demonstrar o quão errados estão. Bastou um caso para a casa ruir.