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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Há muito tempo que o futebol de Macau anda por umas ruas contíguas à da amargura. Agora, a Associação de Futebol de Macau (AFM) resolveu não comparecer à segunda mão de um jogo de qualificação para o Mundial de Futebol de 2022. O argumento foi o da falta de segurança em razão dos atentados ocorridos no Sri Lanka em Abril passado.
Creio que, todavia, depois das garantias dadas pela FIFA, pela Confederação Asiática e pela Federação de Futebol do Sri Lanka, em que inclusivamente se referiu que o exército asseguraria a segurança da comitiva macaense, não há de facto razões que justifiquem nesta altura, dois meses volvidos sobre os atentados terroristas, e depois do reforço de segurança no país, a não deslocação e a exposição do futebol de Macau a pesadas sanções desportivas, a somar ao desencanto dos jogadores e à exposição da RAEM a mais uma vergonha internacional.
No imbróglio criado não deixa de ser inesperada, e até mesmo grotesca, a invocação de que existe um alerta de viagens de nível 2 para o Sri Lanka emitido pela Direcção dos Serviços de Turismo. Isto é, esse alerta é emitido pela mesma entidade que licenciou o Hotel 13, o qual se encontra de portas fechadas ao público e cujos fundos já nem devem ser suficientes para manter acesa a iluminação nocturna, e que continua a pensar que o número de pseudo-turistas em Macau pode subir todos os anos.
Convém ter presente que nesse nível de alerta (2) também estão o Egipto e a Turquia e que, de acordo com o esclarecido pela própria DST, deslocações aos países de nível 2 são as deslocações que devem ser reconsideradas se forem não-essenciais, traduzindo-se para os residentes de Macau num aumento da ameaça à sua segurança pessoal.
Ora bem, estes avisos da DST destinam-se a turistas e para viagens não-essenciais. Não a comitivas da RAEM, desportivas ou outras, em viagens oficiais ao estrangeiro, organizadas pelas entidades oficiais, sob a supervisão de organizações internacionais idóneas e com garantias extraordinárias de segurança que não estão ao alcance, em regra, nem do turista individual nem do excursionista.
Uma viagem ao estrangeiro de uma comitiva oficial da RAEM, salvo desvio de poder, abuso de poder, corrupção ou outras peculiaridades de idêntico calibre, são por natureza essenciais. De outro modo não deviam sequer ser encaradas como possíveis.
Também não consta que as agências de viagem de Macau organizem viagens de grupo ao Sri Lanka com protecção da polícia e do exército locais.
E se não fosse já suficientemente absurdo, talvez mesmo destinado a idiotas, o argumento invocado para cancelar a viagem da selecção de futebol da RAEM, bastaria verificar que no nível 1 dessa lista de alertas estão países com a Bélgica e o Reino Unido, e que países como a Coreia do Norte, o Iémene, o Congo ou o Sudão do Sul não aparecem em nenhum dos três níveis de alerta.
Não vou aqui discutir os critérios da DST usados para elaboração da lista, não é isso que aqui interessa. Mas certamente que, na óptica de quem se guia por essa lista, e a invoca como sendo fiável, os países que dela não constam deverão ser considerados como seguros. Conclusão lógica, penso eu, dos dirigentes da AFM.
Perante isto, vale a pena poupar na adjectivação. Duvido de que entre os destinatários houvesse alguém habilitado a entender aquela que, assim de repente, me veio à cabeça.
Digamos que é apenas mais uma infelicidade a somar a tantas outras de cada vez que por estes dias se olha para o que se passa na vida pública da RAEM. E não há ninguém que dê a volta a isto.